Blog da Liz de Sá Cavalcante

Ressuscita-me

Olhar o sol, as estrelas, me ressuscita, me fortalece: é como ler minhas poesias, como se tivesse a emoção de escrevê-la, eternamente, eu e só. Não dá para misturar a alma no ser. O ser é estagnação. A alma é sentir ao viver, ao morrer. O resto são cinzas do tempo, jogadas fora no esquecimento: única realidade em mim. Preservo a realidade da falta do tempo, como se fossem minhas mãos ao escrever, o ser que preciso ser.

Luz observadora

Eu não vejo a luz, a luz me vê pelo nada das estrelas, fere mais que o sol, que o céu em mim. Nada é pior que a falta do céu. O céu dá vida a vida. O céu são o sorrir no que fui, no que sou, no que serei. E assim a vida se torna mais feliz. O instante é uma luz confusa, que não me deixa raciocinar em viver. O que seria da vida sem os instantes? A única coisa que não perdi da vida foram os instantes. Mais instantes, menos vida e a alegria seria perfeita, sublime até na solidão.

Vida turva

A falta de ver torna a vida vida. Ela sente que é o meu ser que não a vê. Ver se isola no real. Ver vai além do real, do sonho, ver é viver. Viver é a fé do amanhecer que dias melhores virão e os viverei vendo por nós duas: eu e a vida. Nada será como antes, as mudanças me tornam o que sou: eu em mim. Nada pode ser o mesmo o tempo todo: por isso a lembrança desaparece, como sendo o agora: última luz da vida para eu ser minha própria luz. Vida turva em sua própria claridade. O céu é a luz de Deus a envolver a escuridão do olhar da vida de amor. Nada fica bem sem alma. A alma vai mais longe do que o céu. De longe meu ver faz a vida ver. Ela desconhece ver e morre no estranhamento de si. Há tudo a dizer para a morte, no adeus que vive, por mim. Nunca necessitei viver, tendo o adeus dentro de mim, que colocou em mim. O adeus vê o não ver da vida. Ver é esquecer a vida ou será esquecer de mim? Perco as palavras ao ver. Posso ver o fim da vida com encantamento, e assim viver por ti ao morrer, ao menos nesse momento a vida me vê, me abraça infinitamente como eu. Ela sempre esperou que eu estivesse pronta para ela me amar. Agora os abraços infinitos são poucos para tanto amor. Vida, não me faça chorar de verdade: de amor. Nunca chorei antes assim: feliz.

A razão da sensibilidade

A eternidade é uma sensibilidade sem razão, sem argumento, sem proteção para viver: sem viver. Viver não é eternidade. Por isso sonho com a eternidade. Renovada para morrer ao pensar eternamente no fim.

A proximidade sem a morte

A proximidade sem a morte, não existe. O ser não tem relação nenhuma com a morte e morre. A espera é uma morte silenciosa. Até onde vai a morte? Até a espera de mim? E se eu nunca chegar a mim, vou morrer? O que é morrer? É a falta de amor que tenho pela morte: faz ela existir.

Vivências

São vivências tenho a morte em mim, não se afaste: tenho vida também dentro de mim. A vida me ensina a ser eu, a morte também. Se deixei de ser, ainda sou. As pessoas partem, não são minhas, nem delas mesmas: essa é a beleza da vida. Vidas permanecem no amor, que também não é eterno: é apenas sonho. Fecho os olhos, o sonho desaparece. Nada mais é sonho. Mesmo assim, o sonho existe inconsciente de mim, imune a existência, como se a única vida fosse me abraçar sem o meu abraço infinito, sabendo que este é seu único abraço e foi dado a mim. Sofrer é uma morte civilizada. Não quero a morte dos sonhos e sim a morte real. Sonhar é falta de morrer. Ter sonhos é morrer. Para que sonhos?

Afeição da vida com o nada

Sempre que minha imagem diminui na consciência, me vejo sem espelhos, sem subterfúgio. Não suporto ver. Nasci para não ver. Ser cega até no meu sentir. Tudo em mim é verdadeiro: não posso sentir. É por você que vivo, minha tristeza: para ser triste como você. A afeição da vida com o nada me deixa triste. A alegria me deixa triste. Tristeza tem fim, se há alegria. Como me permitir ser feliz? Não sei sendo? Não é tão simples. Há alegrias que me impedem de viver. A alegria compreende minha tristeza. A tristeza me tira a alma. Alma é todo dia, a vida é o fim dos dias e o começo de mim. Nada me assusta tanto quanto a profundidade da alma. Nem a morte me assusta como a alma me assusta. Pedaços de nada são o meu amor. As faltas são o amor sem o nada de amar.

Subjetividade

Eu sou de alma: sem a subjetividade do ser, na concretude do céu. A subjetividade de morrer, poderia ser o céu, com seu amor incondicional: tornou-se esquecimento. O esquecer do céu são estrelas. Ler é a essência em vida. O ser transcende apenas na morte. A morte em vida é subjetividade do ser, sem o não ser. A morte cansa, exaure, enjoa. É quando me lembro de viver, ser feliz. O céu me abandona, não percebo, só consigo ver a vida que ainda posso viver. Meu amor é a eternidade da vida sem céu, onde meu ser é subjetivo a si mesmo.

O nada não retorna ao nada

O nada não retorna ao nada, é subjetividade do ser. O tempo se esclarece no nada. O tempo do meu olhar não merece a eternidade: vê coisas tristes, medonhas, na minha solidão. Preferia não ver. Mas sonho palavras, preciso lhes dar vida, mesmo que com isso eu morra.

Renovando-me

O sentido do nada é a vida. Não há vida no nada, nem sem o nada. Eu confio apenas no nada da minha morte. Há lembranças que nada significam, mas não são o nada: são o que precisam ser na minha vida. Vida, é um sol vazio, numa estrela inexistente, que brilha mais do que o céu. O céu é de verdade no meu amor. Sem o céu, não há infinito. O infinito não respira, não se altera com a vida, apenas permanece esperando que a vida se lembre dele. O ser não é vivido em seu amor, tudo é desconhecido, sem dor, por isso não temo o nada. O nada é sinceridade do ser. O tempo é o amor do ser. Mas o ser não sabe que o ama. O corpo é incompleto na alma, como o mar que retorna às ondas para dar conta do rio da felicidade. Nada posso oferecer em troca de ser feliz. É como se nada me restasse por ser feliz. Assim, me renovo.