Blog da Liz de Sá Cavalcante

O olhar da mente

O olhar da mente, eternidade da morte. O olhar da mente traduz a insensibilidade de ser, na sensibilidade do ser. O ar produz realidades sem o respirar. Respirar é o infinito da fala. Nada é comunicável sem o infinito. O olhar da mente é visível no amor, na morte: é da morte. Para nascer do olhar da mente, o nascer se faz morrer. O corpo morre, deixando-me ser morta no olhar da mente. Não há um olhar para o ser. Ser pelo ser é o olhar faltante, é o ser. O ser escuta o olhar, começo do fim do olhar, atrai mortes irreais. Um pedaço do olhar ainda é real na vivência perdida em almas. Olhar por trás do olhar é não morrer. Há lembranças do olhar que são almas no olhar. A aflição é uma lembrança no olhar.

Aparecer

O aparecer é uma ausência sem alegrias. O céu contempla o aparecer. O aparecer ausente é a falta de nascer uma lágrima que não nasceu. A morte me fez ver, sem o inesquecível de mim: foi uma libertação. Minha alma, na liberdade do nada, não me deixa ver. O mar se fez canção. Ondas que se repetem no meu pensamento. Como luz, amor que sempre retorna no mar do meu olhar. A morte desperta o olhar na recordação sentida, ouvida sem o silêncio do nada. Inspirada a recordação a morrer em silêncio, sem o silêncio de ouvir.

Alma efêmera (curta duração)

A alma se dirige a um nada diferente de tudo já sentido. Não é um nada do nada, é um nada de morte. Se eu procuro a alma, encontro a mim, se eu procuro a mim, encontro a alma. Esse desencontro é a falta de mortes em mim. Tinha tantas mortes, agora nenhuma. Falta Deus na morte: perda do céu. O céu, Deus, é vida. Deus em Deus, é meu ser na vida. A distância de Deus é o ser.

A evanescência do nada (desaparecer)

O desaparecer do nada é luz na escuridão. A escuridão é o amanhecer interior, um pouco de mim na morte que sou. Multiplicar o nada sem mortes é raro. Sentir é me dividir no que sinto, para o outro existir. Morrer é um dom. É natural viver por viver apenas. Escrever é meu corpo, minha alma, minha poesia. A principal vida sem faltas é a alma no adeus. Adeus, sem o adeus do nada. O nada é uma forma da alma agradecer ser feliz. O nada é o que eu sonhar. O amor não tem essência. A morte é catarse na alma. O desaparecer do nada, é sem catarse, é poder reparar na morte. É subtrair meu ser no nada. Sem me diminuir.

Morte aprisionada

O ser domina a morte com pensamentos divinos, num sopro de morte. Apenas o ficar sente a ausência sem o corpo. Ficar é ausência do ficar, não de ser: isso é permanecer, mesmo sem presença, na presença do outro. Duas presenças são a falta de um único ser: eu não estou na presença. Não sou ausência: sou a subjetividade do nada no coração de alguém. A destruição da alma não é o amor, é algo maior: é a sensação de amar. É tanta pele no meio do nada, o ser se desfez em pele. O som do nada me inspira além do silêncio, além do retorno ao nada. Eu não acredito no ficar apenas para retornar. Retornar de onde nunca estive. A insegurança do mar é o sol, é a vida. Afastar a tristeza com a consciência me deixa ainda mais triste. O nada substitui o vento, a sede, a fome, substitui até o próprio nada, mas não substitui a morte, como a sede, a fome de morrer, no ventre da solidão. Recuperei minha alma por causa da solidão. Sem a solidão não há o nascer da alma, na alma. Perco os sentidos, mas ainda sinto a alma. Não posso morrer, se eu sinto a alma. A morte está aprisionada no meu ser, por amá-la, como amo a alma. Enfim, não tenho mais medo da solidão: ela é pedaço da minha alma, onde me despedaço inteira, porque as palavras necessitam de mim para viver, sendo poesias, mas elas vivem apenas se tiverem a minha solidão em mim.

Como saber como e quando cessa a vida?

O esquecer é rude por isso não maltrata. A vida é inesquecível na morte como página em branco: não precisa ser escrita. O desânimo é um estado de alma, onde me sinto morta. Posso me enganar da vida, pela consciência que não habito. Estar não é ter consciência. Consciência é ausência. A vida cessa numa poesia infinita, substitui a vida. Não há cessar na consciência. O corpo é amor infinito numa vida finita. O nada vê meus olhos. A distância é a sensação que tenho olhos, corpo, mas nem a proximidade, me torna eu. Na vida, sou eu, sem o meu corpo, meus olhos, sem a sombra da minha ausência: torna tudo possível, até eu morrer por ter um corpo, olhos para ver. Nada auxilia minha inexistência. Ver o bom como ruim é o nada interiorizado em mim. O interior é ruim na alma. Meu interior é a morte. A morte é a visão do mundo. Toda sensação é igual ao morrer. Sensação é alma, é a espera infinita do vazio. O que é no fim de si mesmo. O fim não é o ser. O ser é o ser do ser de outro ser. Ser é pele, ser é sacrifício. Ser é a intuição vazia do nada na ausência do não ser. Ver não capta o visível. Nada na transparência do ser. A vida morre sem ausência, perda, lembrança, mas sofre ao morrer. Meu olhar fundo de tanta morte me vê morrer no fundo de si mesmo. É tocante o céu a me esperar. O tempo do céu não é o tempo de Deus. Deus é sem o tempo. O esquecer é união da alma com a plenitude, onde o corpo é excluído na alma frágil, e a alma forte recebe o corpo. Substituir o corpo pela falta de sonhar pelo nada, pelo amor, é me abandonar sem alma: na alma da ilusão. Me deixo no nada do corpo que me falta. A justiça de Deus é a morte.

O fim do não ser

Resta pouco do meu ser em mim, do meu corpo em mim. Esse é o fim do meu não ser, que vai nas alturas de mim mesma, sem cair, vacilar. Eu morri pelo não ser, sem estranhamento. O não ser são minhas entranhas. Empalideci na cor da vida. Morri numa inexistência maior do que a morte no escutar das sombras. O amor desejado, sublima, tornou-se real na minha morte.

O nada correto

A vida é sempre vida, mesmo a representar tantas mortes, que causa dor na alma do ser. O nada é correto na alma, não no ser. A expectativa de ser, é a morte, o céu, as estrelas, o sonho. Cada estrela tem sua morte, o ser se perde para morrer, se perde em não morrer: nunca estou inteira no meu ser. Do nada nasce a fala sem a fala do ser, é a fala da consciência do amor: onde desapareço ao escutar, a ser feliz. O nada é a falta de amor. O amor faz falta à falta de amor, e a vida se preenche só. O nada da falta é a incompletude do ser na vida plena, eterna. O nada nada é: capta a alma do ser e o ser não capta: isso é viver! O nada do ser é alma. O nada da alma não é o ser: é o universo. O nada é correto na sombra do nada. O nada raciocina na alma, por isso, não é um nada. Ver a imagem do nada é morrer pelo nada.

Cuida de mim na minha morte

Cuida de mim, na tristeza, na distância me convença que a vida vale a pena. Não ia adiantar, mas seria um consolo na alma. Deixo o som da morte me envolver, isenta de mim, sem mim, não morri. O som da morte parou na minha presença. Era o que eu esperava, morri sem ao menos suspirar, sonhar comigo. Sonhe comigo, não me trará de volta, mas terei paz na morte.

A ética da sensação

O esquecer é a coragem de viver distante do esquecer. Coragem de viver para a morte ser eternizada na alma. O distante é a vida, o perto é a morte. A sensação me torna isenta da morte. A vida deixa a saudade na culpa do nada. Há culpa de lembrar o passado na inexistência do nada. A alma se derrama em ser. Não sobrevivo à alma. A alma sobrevive a mim, nas minhas poesias. Minhas poesias vivem na alma de mim mesma, Eu e a alma somos a mesma coisa. O céu não tem depois. O amanhã é o céu no depois do céu. É a luz do tempo no fim do ver. O fim do céu é ver sem o céu, no céu do pensamento. Não há percepção na sensação. Perceber o que não se deve perceber é sensação de solidão, sem a solidão. Dormi na solidão do pensar. Meu corpo, poesia da vida. O perceber da solidão é o nada de ausências, que nunca será ausência nunca será um ser. Esqueci o sofrer na presença do nada, do depois desse jamais, que é vida, é morte, mas não é esquecimento, é ser.