O corpo não me percebe, sente a alma, como apenas escuridão. A escuridão do som é o ser. Me desligo do nada, na desatenção da vida. Vida, foste minha única lembrança, da minha alma que partiu. A alma é coerência do nada. O sonho não sonhado é a alma. O empalidecer da alma é o meu coração a bater. O nada é uma luz disforme, que não confunde meu olhar no desaparecer da escuridão, névoa ou dor, para ser luz da aflição. O oceano de luz sem a eternidade de ser. O oceano de luz num sol de névoa. A aflição é apenas névoa de querer ser luz. A luz dos meus sonhos não ilumina, sonha. Nunca vi a luz na minha lembrança. Vi apenas o sol no céu, a rezar por mim. O ser faz a alma. Alma é o ventre da eternidade. Procuro pela alma, no fundo, quero a morte, o céu, as estrelas, o sonho de morrer. Quero a inteireza de morrer no silêncio da dor. Morrer não é uma intenção vazia. Eu fiz da minha morte uma intenção vazia, que dá lugar ao céu, às estrelas. Não há mais morte, não há mais nada, nem o fim, a essência de morrer. O tempo transpira o nada, sem pele, sem se arrepender da sua ausência. Não há mais o tempo, há apenas mortes. Sem morrer, não há tempo. Pele é eternidade. Morte, ausência. O nada transforma meu ser em sonhos. O mundo era mundo para o esquecer do mundo. A morte é um milagre.