Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sou sem a dor que sinto

Dor é olhar a vida. A vida existe sem mim, se eu não escrever. O ser não nasce só, se torna só. Nasci a sonhar, não nasci só. Os sonhos nasceram de mim, nasci dos meus sonhos, então, não sei como me perdi de mim. Espumas de vento são o meu sentir. Me acorde quando for vida. Recolhe em mim tua saudade de ti. Perdi a perda do amor, meus sonhos são apenas meus. A vida é um sonho dentro do sonho. A vida desconecta o tempo, o torna poesia.

Adeus do sempre

Vivo o tempo em um adeus. Terminei a vida longe do tempo, que me mata mais do que a morte. Fui a morte dos meus sonhos, agora sou a vida dos meus sonhos. Morte penetrou em mim como um sonho. Dorme, enfim, comigo a morrer. Não morri com a alma. Respirando, ninguém compreende minha linguagem, que queria apenas falar de amor. O adeus do sempre não vem até o amor no adeus do sempre. Morri no sempre sem o adeus do sempre. Meu olhar se confinou a minha morte, saindo da minha morte como uma alma inacabada, feliz de deixar a alegria partir. Nada sou em partir.

O sempre da alma me fez só

A alma repleta de nada, por isso, o sol não está no céu, e sim na alma. A harmonia da alma mantém o ser desperto. Num sol adormecido. Nada sonha, a alma é um sonho não sonhado. Tenho mais do que sonhos, tenho a mim. Em mim, o amanhecer se desilude em poesias. Nada há de concreto no amanhecer: ele existe como eu o sinto. Sentir e esquecer de viver amando mais do que viver. A vida deixa a alma vazia. A tristeza do céu é a vida da alma em mim. O rasgar da alma é o céu. O que sei é mais do que a vida: é o que existe dentro de mim. O sol ausente de dor amanhece. Eu desperto na dor. O sempre da alma me fez só, como um punhal, cravado na pele do corpo. Não preciso da pele para ter um corpo. Não preciso de mim para viver, não preciso da vida para viver: basta olhar o amanhecer, me esquecendo que sou só. Só por amar.

Ardência de alma

Não se despe um olhar sem despedida, sem vida, alma, amor. Comparar o olhar ao céu, à vida, é ter esperança. Mas minha esperança é cega por viver o nada. A esperança é triste sem o nada. Mas a falta do nada mantém a esperança viva. Escrever é o nada da alma, na alma. Tenho condições de escrever, não tenho condições de ter alma. A vida sonhada, me realiza na alma, a vida real me faz ser.

Reviver a ausência é amor

Colher os frutos da morte com a esperança de reviver a ausência: o amor. O que é útil à vida é a alma. Não sou ninguém no meu amor. Olhar não vê a alma, vê a essência do nada na perfeição do céu. Penso ser vida o que sinto. Sentir é o céu despedaçado. Ausência não é fragilidade. O pensamento existe sem a vida. O amor não revive a si mesmo, e sim a quem ele ama. O amor é o medo do infinito. É o medo de ser no infinito de alguém. Eu fui alguém em mim, por isso continuo sendo. Reviver não traz de volta o amor. De muitas maneiras permaneci em ti: menos em ti. Em ti a solidão esvazia como se tivesse a me chamar, é o silêncio que me chama para o descanso eterno. Como morrer sem ser ou ter sido amada por você? O que é da morte a ilusão toma. Por isso, a ilusão nunca será morte. A vida é melhor do que uma ilusão, mas como viver sem ilusão?

O renascer do desaparecer

Não amo ser mais do que sou, no fim do ser, para o renascer desaparecer. Não compartilho a alma nem em mim mesma. O continuar é ausência, perda de vida. Vida, nada tem tua alma. Tudo na alma é confuso, real. A distância não separa a separação de mim. Tudo existe sem o existir. Existir é a falta de ser. A vida não termina na morte, e sim na vida. A vida é a distância sem alma, na alma. A mediocridade do espírito é o amor. O renascer do desaparecer é o amor.

A alma me defende de ser

Nada sou no que me une: o meu ser. O ser é a realidade de Deus. O infinito se perde em Deus, perde Deus para a vida. A lembrança é falta de Deus em Deus. Morrer é ser só, são opostos, tem o mesmo significado em vida ou em morte. A morte não quer o ser, quer a minha morte. Sonho morte. A vida confia na morte, no céu, na ausência de Deus. A ausência é mais do que Deus: é o fim de Deus, que me deixa perto de Deus. O tempo é o não viver eterno. Nada restou da eternidade, nem mesmo o não viver. A meismidade da eternidade torna os sonhos diferentes do que são.

Monotonia

O corpo não é referência de ser, não me faz ser: é um acessório. A monotonia me impede de me rasgar por dentro de mim. Me banho no mar, vendo o mar. Sem meu corpo, sem minha alma. Sou levada no mar de amor. O céu é amor. Monotonia é alma. Nada há no amor. O amor não é vazio. A tristeza é um bem. Mais perfeito do que viver. Posso ser apenas tristeza, sem estar viva ou morta.

Reencontro eterno

A poesia sai de mim, de dentro do meu respirar para mim. O corpo é perda da alma na eternidade. A eternidade do sonho é o ser. Ser é a alegria do sonho no ser. O ser não se encontra vazio por ser, ele tem a leveza do nada. Nada sofre do nada. Sou a vida que falta na vida. Sou o acordar do amanhecer. Sou a poesia da vida. Dedos de céu são mãos de eternidade. O amor são perdas de eternidade. O céu é a eternidade do olhar. Deus não encontra a alma da vida. A alma de Deus é a minha vida. A minha eternidade sou eu em mim. Expectativas são eternidades que curam. Nada partiu, não existe, para partir precisa existir, nem as palavras, nem o céu, o amor, me fazem viver. A vida é a certeza de não viver. O fim do amor é escrever sem solidão.

O vazio não se reflete no nada

O vazio não se reflete no nada, é o nada, então não sinto o vazio de mim, sinto o vazio do nada. Não interfiro no que sinto. Não penso no que devo sentir, senão não sinto. Sinto amando mesmo que esse amor me faça morrer. O meu sentir me quer viva para que eu ame feliz, até irradiar o nada. A forma viva da tristeza não é minha alegria, mesmo morta me deu muitas alegrias. A maior alegria é a fala ausente de tanto amor. As coisas raras, especiais, duram para sempre no esquecimento, sem ausências. Essas coisas raras ficam como paz eterna dentro de mim, imperceptíveis. Até eu ser minha própria paz sem precisar lembrar ou esquecer. Para ter paz fiz da paz meu interior que me faz lembrar ou esquecer por amor.