Blog da Liz de Sá Cavalcante

Extremidade

Eu não cheguei a ser. Sou apenas o vazio sem mim. Eu me senti ser. Foi tanto sentir, amor, que não senti falta de ser. A falta de ser é uma vida única, rara. Ser é a impossibilidade de ser feliz. Mesmo sem amor, existia alegria, até eu ser. A vida é muito mais que viver, amar, ser feliz. É respirar sem pulmão, não sentir falta do corpo, da alma. Sinto falta apenas de continuar não sendo.

O amor é todo dia

O amor é todo dia, até em perdê-lo. Vivenciar o amor é ter um corpo sem amor, onde a alma não cabe, dentro do meu corpo. O corpo é o fim do amor.

O fim distante é a alma da alma

O fim perto do fim é sem alma. O nada é a perda do fim, amando o fim, pois já se foi. Sinto-me melhor na morte, até parar de me sentir, e sentir apenas o fim.

Amor

A eternidade apenas no meu corpo não me deixa morrer. A imobilidade do meu corpo é minha vida. Sinto o meu corpo, mesmo imóvel. Sua dança imóvel é sua morte, seu mar, seu infinito. O infinito traz meu corpo para mim. Em mim, o infinito move o corpo, até senti-lo como corpo, não como nada.

Na pele de Deus

A pele de Deus se acostuma à pele do ser. Tudo na minha pele é Deus sem pele. Eu imagino, sonho com Deus com pele, para suportar a minha pele.

Vamos seguir adiante no amor

Sem amor, tudo é descaminho, perdição, morte. Sem amor, a perdição se perde na minha pele. A pele nada diz, além de sofrer, fala mais que o Universo, em sofrer. A lei da vida é o amor. O amor é Deus em vida, em morte. O ser está marcado em Deus. A existência não é Deus, não é ser. A existência é o semblante do nada, sem o nada. O que o tempo vive, nem Deus vive. A vida é longa no tempo e é curta em si mesma.

Intolerável

Para ter consciência, tenho que me ressuscitar no não vivido, assim esqueço o passado, pensando em mim, não no não vivido. Eu refiz o não vivido, mesmo que não lhe possa dar amor. O refiz com o meu esquecimento e mesmo não sendo vivido, fez-me viver enquanto eu necessitei. Não necessito mais, necessito ser amada.

O sonho do talvez

O corpo é a perda de Deus, da vida, da transcendência, do céu, em um corpo estranho, é apenas silêncio. O corpo de palavras é a alma. Escrevo no meu corpo a alma, e o que se foi sem alma também é alma, por isso tudo é solidão, onde até o talvez é sonho. A realidade é o negativo de amor. O que falta na alma é pele, mas a pele é incompatível à alma. A pele costura a alma por dentro. A alma, por dentro, está descosturada, e se sente melhor descosturada. O tempo é um estado de espírito. Espírito é apenas sentir o adeus. Mesmo sem saber do adeus, sei do espírito. Espírito às vezes é o nada sem adeus. É quando o perdi. Apenas o espírito cessa o espírito, o amor. O espírito é amor na inacessibilidade de ser. Sonhar no arrepender-se de sonhar é viver. Faço tudo na angústia. Amo, luto pela vida. Escrevo. Sou feliz, sou útil na angústia. A angústia não me atrapalha, e sim me ajuda. A lembrança destrói a vida. Sou uma lembrança de ilusão nunca perdida. Sem ilusão, o espírito suspira poesia. O espírito nunca será poesia, pois são minhas mãos segurando a mão de Deus.

Vivendo por mim

O nada vive por mim, sem ser um ser. O nada sobrevive ao tudo. O nada se faz na pele para existir pele. É fácil sentir o nada, basta ser. Ser para o nada, sem ser para mim, é tornar a ausência indefinida. Apenas o sonho é seu significar, mas, mesmo assim, a ausência continua indefinida. O nada cessa a alma como um sonho. Escapar de um corpo sem alma é ser eu sem o vazio. O infinito é vazio no meu ser.