Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que é o ser?

O que é o ser nesse de que ser?! Não é mais nada: mesmo a minha morte. Perda me faz sentir a inexatidão do sentir. O respirar prejudica o sono, de quem é apenas respirar.

Serenidade

Como pensar o mesmo que a morte pensa? Na serenidade de morrer. O não eu me enaltece em minha morte não me deixa morrer.

O sonho não sonhado

Imagino no inimaginável. A alma não deixa rastro. A alma, antes da alma, é a falta que me faz: é a minha alma a sofrer. Sofrer não é todo o nada, é a parte do nada que falta no nada. O nada é sempre. Na falta do nada, vivo. Ver no sonho é o mesmo que morrer sem alma. O tempo é o fim da alma. Não há alma no meu recolhimento. Estou espalhada de tão recolhida. Ver não é tudo, nasce do ver. Ver é não esperar pela vida.

Entorpecer

A voz entorpece a alma como um sonho. Pode parecer pouco: é assim que preciso e quero viver. O silêncio passa pela garganta e chega ao coração, assim, não há entorpecer: se torna amor. Busco forças no entorpecer para não me entristecer. Me sinto amar sem forças, de uma forma que nunca amei antes. O sonho necessita de mim. Chorar me dá força. Apenas uma alma rara morre no meu silêncio: isso é amor. Mesmo ao deixar a morte no exterior de mim, não posso não morrer dela. A palavra cessa o amor. Entorpecer a palavra é lhe dar voz. Meu corpo é feito de palavra. O sonho é a última palavra. Não ter alma é sabedoria para viver. É me despossuir do nada, é ficar leve como se fosse flutuar de amor.

Consolo

A ausência é o despertar da vida no meu respirar. Respirar me consola de ser. A saudade de ver é desaparecer no ver de mim. Deixo de ver vendo. Como esconder meu respirar de mim? Olhar por dentro da alma e nada ver é de uma sensibilidade, um amor raro.

O martírio de ver

Ver confunde a alma com o real. O cessar é falta de ausência: é o não ver em mim. Morrer é ver o martírio de ver, sorrindo no não ver. Sem meu rosto me vejo. Ver é falar com Deus. Em silêncio, no comum da ausência. O perceber se percebe no ver inexistente. Vou morrer no martírio de ver, como se nada existisse na vida, sem o não ver em mim.

Meu olhar depende da morte para ver

A essência de Deus é o nada que inunda Deus. Deus transforma o nada em perfeição e plenitude ver é não ser plena de mim. Ver é esquecer. Lembrar é morrer sem morte.

Desvelar (o não oculto)

Não dá para esconder o que foi oculto. A dor entorpece de energia. Desvelar o outro é o oculto em mim. As coisas afastadas me aproximam de mim, me fazem amar. Não aceito a distância que o caderno me impõe. Aproximo-me dele com as minhas próprias palavras. Estou desvelando o oculto em mim, da vida, da morte. Estou me tornando real.

O medo é só

O medo é só até na morte. O corpo é uma forma da alma se defender da vida. Morte, retorno da vida, concedido em aspas. Como usar minha respiração na fala? Sendo apenas nula, não me reduzindo ao nada do reconhecimento. A lembrança se torna medo, se não for vivida como lembrança. Pensar é mais do que amo. Meu corpo é o medo sem medo. Medo não é sofrer, é paz. Pensar é cessar a saudade de mim. Saudade, sem ter o que amar, é o meu eu em mim. O medo é só, o medo não tem a morte em seu corpo, na sua alma.

Exaltação à morte

Não se morre sem o interior. A morte é o meu interior, onde não foi cravada a existência. A existência foi cravada num derrame mental.