Ter a morte que me resta é muito para mim. Ver é me separar do que estou vendo, como uma relíquia. Ver pode ser amado, não visto. No desinteresse está a profundidade do ser. A morte que me resta não existe, nunca existiu: são sobras do nada. O nada me consumindo no ar da noite me persegue na inexistência do nada. A falta de pensar é minha existência. O nada das pedras vale mais que a vida, por isso as pedras rolam, tentam morrer em águas supérfluas, superficiais, sem vida. Que condições tem a morte de ter um destino? Fotos me fazem não existir, confundindo o céu e a vida é a minha única maneira de ficar. Não permaneço, eu sou. Ficar sem mim é fácil, na permanência. Quando partiu pela primeira vez, permaneci. A visão é falsa. O não ver é verdadeiro. Eu vou parar de desaparecer na minha ausência. Desconfio do nada. Tantas ausências, nenhuma vida. Meu corpo é ausência que falta na alma. Falar é perda do corpo. Nada é de fato as hipóteses, são alma. Nunca reparei como é maravilhosa a vida: ela me fez conhecer o nada de mim. É inevitável chorar sem o nada. Choro o nada, choro eu. Não posso enfrentar a alma. Desabo sem o nada. Veria o nada eternamente. Faz anos que a vida não acontece. Acontecer é como viver. Não voltei ao meu corpo e minha imagem está intacta. Com amor. Nada vi no teu olhar. O sol salva a vida. Nós é falta do mundo. Eu não sei de mim, onde começa eu e onde termina minha alma? O luto é saudade, não é falta, não é perda. Perder a falta é perder a alma. A vida me escolheu por amor. Não sou o meu fim. A maré baixa e meu amor cheio de mar, como se eu fosse o mar, e o mar fosse eu. Retiro-me do nada, no nada. Ser é ilusão de permanecer. A permanência da solidão é a vida. Sonhar é solidão. Me conduza em sonhos, onde meu corpo não me escapa. O nada diverte a vida a lembrança do corpo é o corpo. A alma é um corpo no imaginário da lembrança de te esquecer. Eu tenho um corpo, ao lembrar de mim. As lembranças sofrem para eu não sofrer. Vejo o corpo pela dor. Nada sofre por mim. Sofrer são detalhes. Mente aberta num coração de morte. Identifico a vida em mim. Não consigo ver meu corpo vivo. Por isso, não há o nada no meu corpo. Existir é a morte que me resta para não sofrer pela morte.
A morte que me resta |