Ver o céu pelas estrelas é perder o céu dentro de mim, para perdê-lo concretamente. A vida nem parece que foi destruída, está intacta, como um sol a nascer de mim, equilibrando a minha dor. A minha dor me faz perder o sol dentro de mim. O corpo é um sol de alma. Pareço estar em mim, não estou: isso me faz viver. Eu aqueço o sol com minha alma. O sol está frio com minha solidão. Dentro de mim não espero tua alma, a presença do mundo sou eu a perder tua alma. Ao perder tua alma, perdi a minha. Não preciso me recuperar, eu quero me perder ainda mais de mim, de ti, para que algo seja real, como te perder. Respiro sem respirar para não acordar o real. Deixar de respirar é captar a realidade. A realidade faz de mim um não ser real. É mais real que a realidade. A realidade do sonho sou eu o ser, a ausência como ser, queria te tornar eu. Assim, conviver com o igual são duas almas a tentar se amar. No fundo sei que você é você. Eu sou eu até sendo iguais, algo nos separa. O sonho e o real são a mesma coisa, se opondo à vida. Vou encolhendo na dor, firmando horizontes, cabendo nas mãos do destino e abandonando minhas mãos de vida. Mãos solucionam a existência do corpo. Mesmo assim, o ser continua incorpóreo. Escrever cessa o destino no meu ser. A alma não sabe quem é. Escrever é tentar ser o que não se é. A alma se apossa de escrever e eu fico na margem da escrita. Escrever é um espasmo da alma, é não ter vida, mesmo a sentindo. Fui mais do que vida, fui o sentir dos que me amam. Até sentirem a morte em vez de me sentir, mas era eu que morri. E, no entanto, se sentem morrer, como se minha poesia fosse finita para se parecer consigo. Para mim, nada se parece com nada, mas não é diferente do que vejo. Não tenho consciência, penso como se tivesse. Amo como se amasse. O amor desprotege a alma por dentro do ser. Meu ser é esse dentro do ser, sem a alma. A alma pode estar dentro de mim ausente. A alma não é uma presença. Deixei a presença pela alma. Morri para ter presença. Presença é não ter ninguém em mim. Ser presença pra mim me faz sofrer, morrer, onde nada acaba.
Equilíbrio na dor |