Profundezas por um sonho, sem ser a vida este sonho, um sonho apenas meu. E se ser eu for um sonho, adianta sonhar? Agarro o nada como esperança vazia dele me fazer viver, dá força à poesia lida por alguém. Não é a mesma força de ser só, é força de conviver com a solidão para não afundar a solidão no que ela é capaz. Apenas a solidão transforma a vida em viver, no melhor de mim: a própria solidão. O silêncio de ser só não despreza meu sofrer. É pelo adeus que convivo com a vida: esse conviver é Deus na vida. Há dois infinitos, o nada e o ser, tem medo da vida. Trazer a morte para a escuridão é a vida. Tomo a morte no meu próprio ser para não aceitar as palavras da vida. Para aceitar amar é preciso negar quem sou para mim, que esse amor, essas palavras não se comparam com o meu ser. Meu ser está além do amor, das palavras, mas, mesmo assim, não tem presença: presença são os outros sendo eu. A visão da minha ilusão é o amor visível e inacessível, como uma alma que se encontra em si mesma. Me separar da eternidade é minha alma, minha luz, a torno escuridão. A escuridão é minha alma, minha eternidade, na qual as flores, a vida, são folhas para escrever. A minha visão são estrelas. Realizo a vida com ausências. Mas não me entrego à ausência: nem mesmo ausente. De tanto usar a alma, a alma se torna infinita. Meu corpo é infinito, ao usá-lo na alma. A ausência não é ausente. Percebem-me viver: não sei o que fazer com isso. Meu corpo me impede de morrer, me ama, cuida de mim, como a alma não pode cuidar de mim, me amar. Minha alma não me conhece. Se me conhecesse, me amaria. Me amaria tanto que esqueceria de si, e me tornaria eterna. Não posso morrer, agora não, pois a minha alma me ama. Essa descoberta é vida, não pode se tornar morte.