O ser é a ignorância da morte. A morte é o telhado do mar.
O desperdício do ser |
O desperdício do serO ser é a ignorância da morte. A morte é o telhado do mar. |
A leitura da vidaLeio a vida pela alma. A alma me faz ter vida. Tocar-me é necessitar tocar a morte, é deixar meu corpo na morte de alguém. Não sei ter corpo, não sei ter alma. Sei apenas tocar a morte. É como não haver renúncias, nem vida, nem morte. Há apenas a leitura da alma: o silêncio. O silêncio me toca. É como se houvesse um corpo de lágrimas em mim, por mim. O céu é um desejo, uma maneira de ficar perto do mundo. Longe do mundo é o meu nascer. E se o mundo for o meu nascer? O que significa nascer? Ser eu não é nascer. Nascer é a fraqueza do espírito em mim. A saudade de mim é a eternidade. |
ExtremidadeEu não cheguei a ser. Sou apenas o vazio sem mim. Eu me senti ser. Foi tanto sentir, amor, que não senti falta de ser. A falta de ser é uma vida única, rara. Ser é a impossibilidade de ser feliz. Mesmo sem amor, existia alegria, até eu ser. A vida é muito mais que viver, amar, ser feliz. É respirar sem pulmão, não sentir falta do corpo, da alma. Sinto falta apenas de continuar não sendo. |
O amor é todo diaO amor é todo dia, até em perdê-lo. Vivenciar o amor é ter um corpo sem amor, onde a alma não cabe, dentro do meu corpo. O corpo é o fim do amor. |
O fim distante é a alma da almaO fim perto do fim é sem alma. O nada é a perda do fim, amando o fim, pois já se foi. Sinto-me melhor na morte, até parar de me sentir, e sentir apenas o fim. |
AmorA eternidade apenas no meu corpo não me deixa morrer. A imobilidade do meu corpo é minha vida. Sinto o meu corpo, mesmo imóvel. Sua dança imóvel é sua morte, seu mar, seu infinito. O infinito traz meu corpo para mim. Em mim, o infinito move o corpo, até senti-lo como corpo, não como nada. |
Na pele de DeusA pele de Deus se acostuma à pele do ser. Tudo na minha pele é Deus sem pele. Eu imagino, sonho com Deus com pele, para suportar a minha pele. |
Vamos seguir adiante no amorSem amor, tudo é descaminho, perdição, morte. Sem amor, a perdição se perde na minha pele. A pele nada diz, além de sofrer, fala mais que o Universo, em sofrer. A lei da vida é o amor. O amor é Deus em vida, em morte. O ser está marcado em Deus. A existência não é Deus, não é ser. A existência é o semblante do nada, sem o nada. O que o tempo vive, nem Deus vive. A vida é longa no tempo e é curta em si mesma. |
IntolerávelPara ter consciência, tenho que me ressuscitar no não vivido, assim esqueço o passado, pensando em mim, não no não vivido. Eu refiz o não vivido, mesmo que não lhe possa dar amor. O refiz com o meu esquecimento e mesmo não sendo vivido, fez-me viver enquanto eu necessitei. Não necessito mais, necessito ser amada. |
O sonho do talvezO corpo é a perda de Deus, da vida, da transcendência, do céu, em um corpo estranho, é apenas silêncio. O corpo de palavras é a alma. Escrevo no meu corpo a alma, e o que se foi sem alma também é alma, por isso tudo é solidão, onde até o talvez é sonho. A realidade é o negativo de amor. O que falta na alma é pele, mas a pele é incompatível à alma. A pele costura a alma por dentro. A alma, por dentro, está descosturada, e se sente melhor descosturada. O tempo é um estado de espírito. Espírito é apenas sentir o adeus. Mesmo sem saber do adeus, sei do espírito. Espírito às vezes é o nada sem adeus. É quando o perdi. Apenas o espírito cessa o espírito, o amor. O espírito é amor na inacessibilidade de ser. Sonhar no arrepender-se de sonhar é viver. Faço tudo na angústia. Amo, luto pela vida. Escrevo. Sou feliz, sou útil na angústia. A angústia não me atrapalha, e sim me ajuda. A lembrança destrói a vida. Sou uma lembrança de ilusão nunca perdida. Sem ilusão, o espírito suspira poesia. O espírito nunca será poesia, pois são minhas mãos segurando a mão de Deus. |