O sentir é irracional em um Deus impuro. O nada faz pensar em mim, por mim. As águas flutuam na superfície do meu amor. A alma me arrebenta. Alma, me procure nos arredores, nos confins da morte. Eu sei apenas morrer. Morrer é não escapar de mim. A distância da morte não é segura. Perto não existe, por isso existe proximidade, aconchego. Aconchego na morte. Nada pode tornar meu amor, a minha morte. O que em ti é alma, em mim é solidão. A inexistência da solidão é solidão. O tempo não passa, quem passa é o ser. O não ficar é a urgência de depois. As cinzas regridem ao infinito. Nada me une ao fim. Meu ser não sabe: meu único bem sou eu mesma. O bem não está nas coisas, na vida: está em mim. Não pude sonhar com estrelas, tive o céu concretamente. Pela luz da morte não se vê, mas sinto o ver agindo, me faz viver, sem ser cega no ver. Infinidades de mortes não faz surgir uma única vida. Não posso mudar a morte em mim, posso mudar a morte na morte em aceitar que nasci um dia. Pela minha ausência, tudo parece nascer de mim. Posso ser estranha para mim, não para os outros. Sou ninguém antes de morrer, continuo sendo ninguém ao morrer. Me faça morrer me amando, serei feliz. O nada se vive só, como uma vida interna. Quero uma morte honesta. Reviver a morte, amar a alma é a mesma coisa. Meus olhos pensam que veem. Quem vai continuar minha morte? Morte escrita ou real precisa de uma continuação para minha alma descansar. A morte é a ética da vida. A descontinuidade da morte é Deus. A morte não é eterna, é a passagem de Deus sem o mundo. O que é diferente em viver ou morrer? É a mesma dor. A vida é de vidro e a morte é rocha. Ambas indestrutíveis: uma pela força, outra pela fragilidade. Morrer não é imprudência, é destino. O dormir da ausência são manifestações da alma. O dormir da morte é manifestação do ser.
Sentir irracional |