Ser é vida, decepção. Presença é ter onde morrer, sem a presença da vida. Eu não posso ser presença. Sou apenas presença para não ser presença de nada. Minha presença me mata. Tenho alma sem presença, mas vou ficar bem. Nada me impede de morrer pela vida, pelo amor, ou de apenas morrer. É silencioso o não morrer. Nada digo em vida, pois a vida é surda. Perde-se mais em não ouvir do que em morrer. Escuto a vida sem ela me escutar, por isso sou feliz, porque sei que vou escutar a vida, mesmo morta. A vida nunca me deixará totalmente. Deixei a vida ao escutá-la. Eu escuto o nada. Eu me refiz com o nada. O nada foi meu adeus, meu adeus a mim. Eu tinha a mim e não percebia. Agora me percebo no meu adeus a mim, voltando a ser o que eu era: eu, sem vida. Apenas na alma não morri.
Decepção de ser |
