As estrelas podem ser o meu olhar, na visão do mundo. Posso ver nas estrelas os meus olhos tão sonhados por mim, pelas minhas poesias. Alma, ficaste sem sonhar nos meus sonhos, fizeste-me minha. Eu me fiz tua.
A visão do mundo |
A visão do mundoAs estrelas podem ser o meu olhar, na visão do mundo. Posso ver nas estrelas os meus olhos tão sonhados por mim, pelas minhas poesias. Alma, ficaste sem sonhar nos meus sonhos, fizeste-me minha. Eu me fiz tua. |
Poesia em florPoesia em flor é terra de ninguém, é a marca da vida deixada em alguém. Alguém que ama a vida como eu, mas sem abandonar o fim, que não é o fim do fim, é apenas o início do fim, como uma morte flor. Na poesia em flor. Vivo a vida toda nesse eu para mim. Convivo com a morte, quando sinto que me tocar está diferente, diferente do meu amor. Estou perto de morrer, longe de mim. A distância me aproxima de mim. O sonho esquecido por falar, existir, no que me causa dor. Mas a dor é um sonho. O que falta na dor? Ser eu na incompreensão da dor. O tempo não desfaz a dor. A dor vai além do tempo, me possibilita a ser eu. Eu, onde não é triste ser eu, é apenas estranho. A margem é toda a vida. Sou o complemento da vida que não ficou no nada. A poesia em flor se destaca num mundo imenso. A poesia se perde em poesia e me deixa a flor, numa poesia em flor. Adormecida em flor, num jardim de alheamento. O céu responde às minhas súplicas com meu alheamento. O céu deita em mim, como se eu fosse a presença dele em mim. Misturamos nossos alheamentos, eu e o céu, e sorrimos um para o outro, e a presença torna desnecessária no nosso amor, nosso amor é a única presença que podemos ter. |
O muito do nadaO céu não é distante, me distanciei do céu com meu amor pela vida. Transcender a morte, na vida. Me alimento de alma. O nada é o aparecer na ausência de Deus. A realidade não vence o nada. A realidade desliza como alma. Desapegar da alma numa vida de alma é exclusão do mundo. Cesso meu ser, para não perder o nada de mim, referência de vida. O nada me mantém. Olhos navegam no nada de querer o que vê. A leitura facial da morte é minha alma, numa morte alheia a mim. Na morte tem mais de mim para mim. O mar encosta no sol e a alma derrete sem saber. Tudo no ver é sem a imagem do pensamento. O pensamento vai além do ver, é o nada, é o sol incandescente da alma, que apaga o amor. O amor é a ausência na saudade inexistente: presença do nada. Ver na morte o nada é não ver a morte. |
O nada absolutoNem o nada nem o absoluto me farão viver. A vida depende do nada para existir. Insistir no ser, perdendo o nada, é o absoluto do nada. A alma vazia não é o absoluto do nada. Me perdi no nada, me encontrei só sem o fim. Nada é perfeito. O nada é perfeito, fica na alma. O nada não escorrega em mim como a vida. Fica em mim, mais do que minha alma. Alma é o regredir ao infinito. A alma é a ilusão de ser. Negar a vida é explicação da vida, no nada. Fui desaparecer no nada para me encontrar. Me encontrei no nada para o nada não fazer parte de mim. De você, eu tenho o nada. O amor anseia o nada. Nada sou sem o nada de ser. O nada é o meu ser. Vivi só, sem o nada, foi o mesmo que não viver. Sonhos de nada tornam a existência eterna. Apenas o nada sabe onde deixou a vida por não sofrer, a perdi. Posso tentar dizer o nada em outras palavras, mas sempre acaba em ser, em morte. A morte não alcança a nada. A morte é uma só para todos, por isso, sinto vazio, não sinto o nada. Sentir o nada é me absorver. Nada tem a paz do nada. O universo não cabe no nada, perdi o universo sem o nada. Escrever isola o nada em mim. O nada é dono de si mesmo. Enfim, é o enfim do nada, não do ser. O nada amo sem o nada de mim. Fora de mim, há vida, sem o exterior de mim. O exterior de mim é o nada. Tento invocar o nada para eu morrer, no desaparecer do céu. A criatividade do céu é o seu desaparecer. Fortaleço o nada com o meu amor, como se o nada fosse o céu. |
O conflito do nadaO nada não sabe ser nada. O tempo refaz o nada. Sem o nada, ele é. É o nada sem o nada de ser. A alma exerce o nada, não é o nada. O nada é espiritualidade infinita. Há mais entre o céu e o mundo do que o ser. A falta é um abraço na alma. O mundo é uma alma fictícia, no céu da aflição. Meu ser não sabe que desapareceu. É mais uma vida de amor que prevalece no desaparecer. O desaparecer é o próprio ser sem o nada. Minhas mãos não escrevem: sonham: logo, escrevem. Vou reduzir meus sonhos, ocupam toda a minha vida. Alma, me socorra, nada faço sem ti. Tua ausência é um consolo para ti. Desconsolada, perdida, tento resgatar o meu olhar da minha lembrança. A visão emotiva falha, erra. Tenta visualizá-la, o amor não deixa. Deixo que o amor a veja sem o meu sentir. Para sentir, não basta amar. Sentir é saber dizer adeus. Não se vive, me despeço da falta de vida para ir para o nada, minha origem. Eu fiz de mim o vazio do nada. A vida é diferente dela mesma. Sem a morte, não há nada, há apenas a angústia não vivida, nem no céu, nem no mundo. A angústia é sem tristeza, sem espera, sem o nada, é apenas o ar que respiro. O nada não se nadifica no nada, se nadifica em mim. Escrever é como segurar as mãos de Deus. Minha aparência é o nada no céu. O nada no céu são os meus pensamentos. Tudo se diz nada eternamente sem o céu. O nada das palavras é um céu inacessível, que abraça a vida sem o nada de si mesmo. Nada tem o nada original. A vida são cópias do nada. O nada original é a morte, não é fiel como as cópias do nada. Nada é cópia de mim, mas será que sou me único eu? Meu eu não é minha morte. O sol da morte é minha alma. Apenas a morte me traz ao mundo. O além do real é o nada. A morte devolve minha fala, meu agir. Agir, às vezes, é morrer. Não morri agindo, morri sendo. Sou capaz de morrer: tenho necessidade de morrer como nada, para afastar o nada de mim. Morrer no nada é morrer sem o nada, onde posso abraçar a mim. O conflito do nada era a minha ausência de morrer. |
Tremeluzir (brilhar)O amor brilha mais do que o céu. A morte, lençol que me cobre para eu dormir. Alternâncias de luzes são o meu sono, minha paz: é como ter certeza da vida, mesmo que inexistente: sou inexistente na inexistência da vida. Não existir é poético, por isso, não é o fim. Fim é quando cessa a poesia, a tremeluzir, a brilhar poesia. Poesia é o fim de tudo, começo do nada, para tudo ser infinito sem durar no fim. O silêncio não dorme em mim. Quero não ser teu vazio. Não sei se é importante o que falo, mas já me expus. Brilho na opacidade do teu silêncio. Tua inexistência me obriga a existir. Existir é sempre. Me tornei o que represento para mim, mas ainda não sou eu. Existir é continuar no vazio inexistente de não esquecer a vida. O vazio inexistente pode causar minha morte ou me fazer viver. Consigo me ver brilhar no algo da inconsciência, com a escuridão dentro de mim. A morte se acumula em mim. A decadência da escuridão teme a morte como um rastro de luz. O nada é eterno se for real. A irrealidade do nada é o ser. Ser se consome na pele que rompe a barreira do ser. É luz, é sol, é vida na minha morte de estrelas. Eu vivo o nada, vivo a vida, vivo tudo que existe. O silêncio abrange a vida. Tento sentir o silêncio vazio, ele apenas adormece no meu sentir como um apego ao nada. Escrever é o nada íntimo. Meu nada não é o nada de todos: meu nada se traduz em palavras. Eu sei o que o nada é em mim: saudade de ser eu em mim. Escrever é uma lição de vida ou de morte. Nasci sem vida. O mundo criou a vida em mim, e nele mesmo. Nada posso ser na saudade de mim. Na falta de mim, tudo sou. O amanhecer amanhece na ausência, regado sem luz. O sonhar na luz afasta o meu desespero. Nada sofro na luz, na minha consciência. Mas a alma oculta a luz em seu ocultamento. O céu já tem Deus como luz. Viva sem luz e sua alma não se perderá. Não sufoque a luz com um olhar: ela não pode ser vista. |
A insuficiência do mundo no tudo de mimA inapreensível alma, o amor, que a rasga, a dilacera. É nossa morte, que expulsa a alma da alma, sem restar vazio, nem remorso. Não acredito no amor da minha alma, como me faço amanhecer. A lembrança não tem abrigo, cessa como se eu visse e sentisse o seu fim em mim. Lembranças e o fim não combinam. O ar de despedida me faz viver na lembrança, como um respirar impronunciável de morte e dor. Caminhos falam para que eu não possa respirar pelas palavras ditas, mesmo assim, me consolam, me refazem. Quero dizer, amor, meu refazer não deixa. Ele vai contra o amanhecer, contra tudo. Estou grávida das minhas entranhas, como um sol a se partir ao meio, como duas metades da vida, ambas perdidas em poesias. Vou me arrastar em mortes escorregadias, como se eu fosse o soprar do vento, depois da tempestade de sol. |
Tão pertoSenti a alma de tão perto: me senti viver. Foi como se o ar fosse minha vida. Respiro, estou limpa de alma e de coração. E me sinto flutuar num céu mais infinito que o céu: o fim do céu. Existo sem escuridão: não quero existir: quero apenas ficar na escuridão para a vida ter coragem de partir na luz, isenta de mim. Na luz a morte é apenas saudade do que não sou. |
A arte das palavras é a espera da minha vozO desespero da minha voz é para escutar a minha fala na minha morte. Palavras expõem a realidade ao não ser de mim. Meu olhar dança, sonâmbulo de morrer. Eu sei da realidade no irreal. O ser protege o nada de sua irrealidade, de mim, do não ser dentro de mim. As palavras não têm minha voz, minha presença. Mas tem essência, desejo de morrer numa eternidade de palavras. Apenas para não esquecer que vivi um dia. No lembrar de mim, pareço ainda viver, como o suspirar ausente em canções de vida. Vida, foste minha falta num suspirar eterno: sem mim, de mim. A falta que me faz esquecer é o retraimento do nada, é a tua ilusão na minha. A paz é uma forma triste de esquecer, que as coisas não podem ser vividas por nós, nem as pessoas. Tentamos vivê-las, a tornamos ilusão, que é mais do que a vida: a ilusão é de verdade. A vida é um engano, que me deixa desenganada, como se eu me desengasgasse da vida, para provar outro ar, outro eu. A minha morte nasce da minha realidade, desse amor sem palavras, que pesa em mim pesando mais que minha aflição, vou me prostrar na morte. Vou senti-la aos poucos. Vou acordar para a morte, dormir para a vida. Continuar morta, depende da mansidão da vida. Tenho alma para morrer e a usei em morrer. É como se houvesse luz para morrer. E toda a escuridão fossem as flores deixadas na morte. O céu é a escuridão da morte. Sinto falta da escuridão sem ausências, escuridão que ampara a luz, deixando-a morrer no voar da liberdade. Me oprime tanta luz. A luz ofusca meu pensamento, me tem sem mim. |
InadmissívelA vida é um jogo de palavras, que renuncia ser amada, para falar de si. O si de si mesmo é o fim da vida, começo de mim. A eternidade é como se existisse vida depois da vida, mas há apenas o além. Estou vazia de tanto amor. Os sonhos das flores comparam a beleza do céu. A morte é o céu preto, sem o ser, sem o respirar eterno. O respirar do fim é a vida no ser. Respirar no fim é ser eterna para o amor. Tenho flores na alma, um dia serei o jardim do céu. Desvenda-me, morte, com tudo que amei, vivi. Descubra-me como a uma poesia. Regresse, me conforme de mim. O nada é a amplitude do céu na minha voz. |