Blog da Liz de Sá Cavalcante

Canção da ausência

Cantar ausências para a alma desaparecer em um encanto: é como te ver sorrir estrelas. A ausência sem vida é amor. A ausência desaparece no aparecer do nada, se torna amanhecer no calor do nada. Falta muito ao nada, para ser nada. A ausência não pode criar o nada na vida. Apenas o ser é o nada. Nada justifica eu ser um ser em mim. O desaparecer não é ausente no desaparecer. O fim da ausência é morrer. Não morri por falta de vida, mas, por excesso de vida. O sonho não me traz de volta o passado, me torna eu em mim. Sorrir não é alegria, é perda não da alma, da alegria, perda da alma é alegria. A falta do amor não cessa a ausência. Reconheço a ausência como amor. Não tenho forças ausentes de ausência, mas tenho suporte de ausência. Não há períodos de ausências, há vida, ser de ausência. A ausência aceita sua vida ausente. Ausência faz cessar o amanhecer sem o meu desespero. As entranhas da ausência são bagaços da morte, sem fragmentos. Escuto os fragmentos da morte, no interior da alma. Nuvens de sol no sorrir do céu. A alma, entrevada no corpo, forma uma barreira protetora de imortalidade, onde não morri, nem mesmo em sonhos. É impossível ser o meu sonho comigo. Sonhar é a voz de Deus em mim, onde sinto apenas o som de amor. Nenhum som pode ser minha voz. Pertenço ao inexistente, como um sol que se expõe. Nada de sol no meu amor. O sol irradia a alma: sem amor a pele é o excesso de vida, que obstrui o coração na alma. O amor é apenas uma canção. O martírio de ouvir é o amor como canção.

Harmonia de almas

A harmonia da alma é a morte. Pelo silêncio, ver não é sentir, é alma. O sonho do infinito sou eu. Eu, no infinito, nada sou. O sonhar não gosta do infinito do sonho. O sonho é o infinito do infinito. Deixar o sol entrar no infinito torna o infinito infinito apenas no sol da realidade fictícia. Escrever é o infinito do amor. Sentir a falta da tua alma, é ver com amor as coisas não sentidas. O céu ama no mundo. A paz é imaginar sem sentir. O que existe pode ser apagado, para se tornar existência.

O furor de ser eu

Ter alma não é minha inspiração. Deixar a alma ir com a alma é ter alma. Alma é tristeza infinita, torna o amor destruído, como se o amor fosse meu corpo. Um corpo sem alma é o depois no ser. Recomeçar no corpo, não no ser, é o fim de um começo de alma. O que sonho é o meu fim, onde morri pro sonho, mas o sonho não morre pra mim. O furor de morrer é a alma: êxtase do nada. Começo a viver, não sei se vou viver até o fim: como o sol, as estrelas, o céu. O fim cessou no meu fim. O fim é abstrair o céu.

Insaciabilidade

Sem os sentidos, melhor morrer no meu respirar vazio. A insaciabilidade de morrer é a espera de alguém ou do nada. O nada seria um ser se não tivesse amor. O sonho é o nada em forma de ser. Tudo se transforma na impermanência. A vida é impermanência e é permanência do nada. Se reporto a alma para as sensações, elas, as sensações, se tornam morte, amor. Eu não posso ser morte, não tenho sensação. A sensação nasce com a morte.

Palavra sem imagem

Ver é não me perceber. Me perceber é não ser. Não ser é ter alma. A palavra sem imagem é o meu ser na imagem sem palavras. Sonhar são palavras com imagens, onde sou apenas o que sou. O vazio me torna o ser do ser. A alma não se diz, ela é. O silêncio inquebrantável da alma é seu espírito. O espírito da alma é o despertar da morte. Sem a morte ser despertada da sua inconsciência, senão não há vida. Não preciso de uma imagem, e sim de mim. Sinto falta da falta, por isso, existe realidade na vida.

A insônia da noite é uma ausência

A alma não substitui a alma, não cabe na alma, por isso, desliza no universo. Como sofrer da minha ausência? Pelo instante não perdido, como um mundo dado ao mundo, sem precisar do universo. Sem a essência, o universo transcende, sem existir. Por que é tão difícil ser eu em mim? Sufocar de ausência é a alma em mim. Sufocar sem me sufocar é o vazio.

A imagem é um soluço na alma

Nada nasce de mim, nasce apenas uma imagem sem mim, soluço na alma. Nunca vou saber se essa imagem nasce de mim, ou se é apenas a vida. Deixa-me numa alma sem uma imagem. Assim, eu recupero a visibilidade do ser. Entender a alma é compreender a vida. Socorrer a alma é não ter nada dentro de mim, nem mesmo a vida tenho em mim. Em mim, o amor é mais lindo do que o céu. A morte me faz viver. Perco o ser, não perco as palavras.

Tristeza de alma

A tristeza não tem alma, nessa tristeza de alma. Não há vida sem a saudade. Perdas, faltas, são bênçãos. Almas retornam as lembranças do nada. Lembranças do nada não satisfaz a dor. O não nascer é a consciência na percepção.

Desânimo

É na falta, a falta de mim, que range o sol. Não desperdiço amor. Tudo pela falta de mim, pelo escutar da ausência, sinto minha falta na vida: não em mim. O silêncio rompe com minha alma, foi como o nascer do céu. Viver ou morrer é sem alma: é paz, paz é sem a alma. A alma é apenas ver as coisas como são, numa obviedade transcendente. Não se pode sonhar com a alma, senão as coisas não são mais como são. Se tudo for alma, é vazio: nada mais existe, pois não existe alma. Alma é saudade do nada, me sacode com o vento. É difícil ter a lembrança no mundo, o mundo nunca será uma lembrança, é imitação do que eu sinto, respiro. Toda alma morre sem exceção. Precipito-me em morrer, como um sol no anoitecer. Como acordar de mim.

Cegueira mental

Se eu vir o que penso, é cegueira mental. Vejo mais sem ver. Ver é dar à ilusão vida. Defino-me sem me definir. Nada a viver entre mim e eu, nem pelo amor infinito. Vivo na vida pela vida, onde o meu amor não importa. Importará quando não houver mais vida. Recomeços de mim são meus fragmentos, como um último sol a se molhar de chuva. Nenhum soluço de sol, a se tornar voz do amanhecer. O amanhecer fala, a vida se cala.