Blog da Liz de Sá Cavalcante

O martírio de ver

Ver confunde a alma com o real. O cessar é falta de ausência: é o não ver em mim. Morrer é ver o martírio de ver, sorrindo no não ver. Sem meu rosto me vejo. Ver é falar com Deus. Em silêncio, no comum da ausência. O perceber se percebe no ver inexistente. Vou morrer no martírio de ver, como se nada existisse na vida, sem o não ver em mim.

Meu olhar depende da morte para ver

A essência de Deus é o nada que inunda Deus. Deus transforma o nada em perfeição e plenitude ver é não ser plena de mim. Ver é esquecer. Lembrar é morrer sem morte.

Desvelar (o não oculto)

Não dá para esconder o que foi oculto. A dor entorpece de energia. Desvelar o outro é o oculto em mim. As coisas afastadas me aproximam de mim, me fazem amar. Não aceito a distância que o caderno me impõe. Aproximo-me dele com as minhas próprias palavras. Estou desvelando o oculto em mim, da vida, da morte. Estou me tornando real.

O medo é só

O medo é só até na morte. O corpo é uma forma da alma se defender da vida. Morte, retorno da vida, concedido em aspas. Como usar minha respiração na fala? Sendo apenas nula, não me reduzindo ao nada do reconhecimento. A lembrança se torna medo, se não for vivida como lembrança. Pensar é mais do que amo. Meu corpo é o medo sem medo. Medo não é sofrer, é paz. Pensar é cessar a saudade de mim. Saudade, sem ter o que amar, é o meu eu em mim. O medo é só, o medo não tem a morte em seu corpo, na sua alma.

Exaltação à morte

Não se morre sem o interior. A morte é o meu interior, onde não foi cravada a existência. A existência foi cravada num derrame mental.

Incontornável

O sonho absorve a tristeza ao voltar ao real. Nunca pude abraçar meu abraço pela falta de um adeus. É difícil parar de ser, mas é essencial para mim estagnar na pausa da presença, é como se não houvesse tristeza. A luz esconde o universo do sol. Não posso ser sua presença, posso te amar. O olhar desaparece sem a morte. Perdi a vida amando. Minha vida começa em um olhar. O sonho nasce da vida. Sinto meus sonhos em tempos perdidos, irrecuperáveis, num deserto de saudade, onde nada me falta. Saciedade é poder sentir a saudade sempre que eu quiser. Sou apenas saudade, aparentemente possível, saudade é encontrar minha alma. Consciência não é meu corpo. Corpo é o que transcende sem nada ser. Não existe corpo na minha fé. Existir é ter a fé como um corpo. Silêncio é fé. A vida se refez no meu corpo, não se mostra pra mim. E a alma refez a eternidade com um sorrir de adeus.

Quando o mundo era mais mundo e menos ser

Ver é possuir o mundo. É desistir do real, sem mundo, sem vida, sem amor. A vida depende do amor. Vou ver o ver em mim. Ver é amor. Ninguém tem culpa da vida existir. O sonho não me encanta, mas fica comigo sonha em mim. Sonhar não me isola. Depois do amanhecer, a vida. Recuperei minhas mãos escrevendo com a pele do sentir. O corpo do nada está dentro do meu corpo. O sonho confia em mim. O dia saboreia a noite. O mundo não pode ser mundo e ser ao mesmo tempo. O ser é a vida que necessito da vida. A luz é um ser invisível, eu o vejo por ti. A luz cega o que vê. A ilusão de ver é um não ver eterno. O valor não é um sentimento. A luz sonha com meu olhar. Meu olhar é luz. Meus olhos são minha alma, a procura de ti. O olhar fala. A luz dorme no meu pensar, como um mar que seca. E, assim, desperto da vida ao dormir, para me esquecer. Dormir na minha presença é nunca ser. Sou apenas presença. Mas nunca mais eu serei eu.

O perdão não se perdoa

O céu é a insegurança de ser vazia de viver. Todo o céu ainda não é o céu. Céu é lembrança eterna de mim. Nada é possível na eternidade, nesse romper com a vida. Ainda posso amar a eternidade, como uma única coisa. A eternidade me abandona, a morte me abandona, a vida me abandona, não me abandono. Quando quero me abandonar, sonho. Sonho tanto que lembro de mim.

Incontornável

O sonho absorve a tristeza, ao voltar ao real. Nunca pude abraçar meu abraço, pela falta de um adeus. É difícil parar de ser, mas é essencial para mim estagnar na pausa da presença, é como se não houvesse tristeza. A luz esconde o universo do sol. Não posso ser sua presença, posso te amar. O olhar desaparece sem a morte. Perdi a vida amando. Minha vida começa em um olhar. O sonho nasce da vida. Sinto meus sonhos em tempos perdidos, irrecuperáveis, num deserto de saudade, onde nada me falta. Saciedade é poder sentir a saudade sempre que eu quiser. Sou apenas saudade, aparentemente possível, saudade é encontrar minha alma. Consciência não é meu corpo. Corpo é o que transcende sem nada ser. Não existe corpo na minha fé. Existir é ter a fé como um corpo. Silêncio é fé. A vida se refez no meu corpo, não se mostra para mim. E a alma refez a eternidade com um sorrir de adeus.

Indefinível

A alma é a falta da presença no céu. Escolher entre escolher e ser é ficar indefinível no céu. Há céu em tudo que existe. A existência é um céu interior. Nada do céu é sem amor. Meu cansaço de nada ser é uma oração. Nada se perde na alma. Por isso tudo não fica na alma. Sem alma, canto o nada na melodia do amor. A alma é o meu silêncio, a perpetuar a eternidade. O silêncio, não distante da distância, é morrer. Longo silêncio numa morte curta.