A fala da alma, escuto sem ver, a escuto em mim. O soluçar da fala é vida, é a voz plausível, serenizada, feliz. As bordas, as margens da vida são a morte. O começo é uma morte sem luta, o fim é sonhar, lutar contra a morte, vencer a morte. Para que lutar se vou morrer? Morrer refaz vidas. Não há mais desamparo. Eu sou o que posso ser. Nada mantém a morte, nem ela mesma. A morte é convencimento, presunção do nada: acha que morrerá como um ser, morrerá como nada. O nada investe na solidão de morrer. Eu busco a alma, onde ela nada me diz. Tenho alma: de nada adianta antes do pensar, existia alma. O nada vivia em paz com a alma, até nascer a vida. Vida se demora em meus sonhos, não posso te ter, desperta, como uma lágrima não caída. O vazio é autoestima num novo céu, numa nova vida. O ser e o nada são dois sentimentos, separados pela convivência. Sem possuir o nada, sem o sentir, é não transcender na alma. É apenas escrever a desrazão, a loucura, o nada. A ausência de tudo é o mar sempre cheio. A ausência não esconde a vida, a mostra. O céu é de todos. Não há vida sem céu, sem amor. A fala da alma move o céu na vida. Não existe o nada, existe a permanência do nada, sem a falta do ser. A existência é a falta do ser, sem perdas. Perder a razão é não agir com a emoção. O ser é algo que existe apenas em mim. Existir para todos é morrer. A fala da alma é o esquecimento.