Blog da Liz de Sá Cavalcante

Incontornável

O sonho absorve a tristeza ao voltar ao real. Nunca pude abraçar meu abraço pela falta de um adeus. É difícil parar de ser, mas é essencial para mim estagnar na pausa da presença, é como se não houvesse tristeza. A luz esconde o universo do sol. Não posso ser sua presença, posso te amar. O olhar desaparece sem a morte. Perdi a vida amando. Minha vida começa em um olhar. O sonho nasce da vida. Sinto meus sonhos em tempos perdidos, irrecuperáveis, num deserto de saudade, onde nada me falta. Saciedade é poder sentir a saudade sempre que eu quiser. Sou apenas saudade, aparentemente possível, saudade é encontrar minha alma. Consciência não é meu corpo. Corpo é o que transcende sem nada ser. Não existe corpo na minha fé. Existir é ter a fé como um corpo. Silêncio é fé. A vida se refez no meu corpo, não se mostra pra mim. E a alma refez a eternidade com um sorrir de adeus.

Quando o mundo era mais mundo e menos ser

Ver é possuir o mundo. É desistir do real, sem mundo, sem vida, sem amor. A vida depende do amor. Vou ver o ver em mim. Ver é amor. Ninguém tem culpa da vida existir. O sonho não me encanta, mas fica comigo sonha em mim. Sonhar não me isola. Depois do amanhecer, a vida. Recuperei minhas mãos escrevendo com a pele do sentir. O corpo do nada está dentro do meu corpo. O sonho confia em mim. O dia saboreia a noite. O mundo não pode ser mundo e ser ao mesmo tempo. O ser é a vida que necessito da vida. A luz é um ser invisível, eu o vejo por ti. A luz cega o que vê. A ilusão de ver é um não ver eterno. O valor não é um sentimento. A luz sonha com meu olhar. Meu olhar é luz. Meus olhos são minha alma, a procura de ti. O olhar fala. A luz dorme no meu pensar, como um mar que seca. E, assim, desperto da vida ao dormir, para me esquecer. Dormir na minha presença é nunca ser. Sou apenas presença. Mas nunca mais eu serei eu.

O perdão não se perdoa

O céu é a insegurança de ser vazia de viver. Todo o céu ainda não é o céu. Céu é lembrança eterna de mim. Nada é possível na eternidade, nesse romper com a vida. Ainda posso amar a eternidade, como uma única coisa. A eternidade me abandona, a morte me abandona, a vida me abandona, não me abandono. Quando quero me abandonar, sonho. Sonho tanto que lembro de mim.

Incontornável

O sonho absorve a tristeza, ao voltar ao real. Nunca pude abraçar meu abraço, pela falta de um adeus. É difícil parar de ser, mas é essencial para mim estagnar na pausa da presença, é como se não houvesse tristeza. A luz esconde o universo do sol. Não posso ser sua presença, posso te amar. O olhar desaparece sem a morte. Perdi a vida amando. Minha vida começa em um olhar. O sonho nasce da vida. Sinto meus sonhos em tempos perdidos, irrecuperáveis, num deserto de saudade, onde nada me falta. Saciedade é poder sentir a saudade sempre que eu quiser. Sou apenas saudade, aparentemente possível, saudade é encontrar minha alma. Consciência não é meu corpo. Corpo é o que transcende sem nada ser. Não existe corpo na minha fé. Existir é ter a fé como um corpo. Silêncio é fé. A vida se refez no meu corpo, não se mostra para mim. E a alma refez a eternidade com um sorrir de adeus.

Indefinível

A alma é a falta da presença no céu. Escolher entre escolher e ser é ficar indefinível no céu. Há céu em tudo que existe. A existência é um céu interior. Nada do céu é sem amor. Meu cansaço de nada ser é uma oração. Nada se perde na alma. Por isso tudo não fica na alma. Sem alma, canto o nada na melodia do amor. A alma é o meu silêncio, a perpetuar a eternidade. O silêncio, não distante da distância, é morrer. Longo silêncio numa morte curta.

Parar de amar

Parar de amar é o infinito sem o fim. Começar pelo nada é não começar, é deixar de amar, deixando-me amar. Rastros de cinza na consciência da vida. A consciência morta é mais viva, mais consciência ainda.

Trauma

É um trauma viver. A alma é pele que não rasga, rasga o meu coração. Sem o silêncio do vento não posso falar. Falar do trauma não é um adeus, é o recomeço vital do nada. A fala das minhas mãos condena o amor ao depois. Fala por dentro do meu corpo, em que minhas mãos podem te tocar, te perder. A alma da morte é a vida. Para a morte não ter alma, é preciso cessar a morte. O intocável se toca com a alma. Não me lembro do intocável. A minha memória é tocar até desaparecer no que estou tocando. Tocar é mais importante do que eu.

Existe em mim

Nada é o nada que existe em mim, senão não existiria. A sombra do nada é a percepção da vida como simples sensação. O céu separa a alma de Deus. Deus está dentro do ser. A fala do adeus escuto sem morrer. Minha alma existe como o que acabou sem nunca ser. Intenção não é objetiva, é morrer na vida do sonho. Nada fiz da alma, ela me torna melhor do que eu. O sorrir é a resignação do nada sem a minha vida. Procuro a luz do nada, ela existe apenas no meu olhar. O nada é o sonho do sonho. Deixar a alma sorrir é viver o sonho não sonhado. Às vezes é melhor ser do que sonhar. O ser é o sonho do sonho. Imaginar o sonho é cessar o sonho pelo imaginário. Sofrer é sem consequência. Nem a morte é consequência de sofrer. Nada demais em morrer: morrer é viver o outro em mim: esse é o encantamento da morte. A morte é o desinteresse do amor. Meu amor é frágil, pequeno, como a vida: por isso, estou pronta para morrer, como o céu tem que amanhecer. O olhar não amanhece. O tempo se escreve na vida. Como devolver o tempo para o tempo? Trabalhando a morte, a torno melhor: nunca é melhor em mim. Somente se sofre de ausência sem ausência. Ausência é o nascer, úmido no seco de amar. Ausência é orgulho de viver na vida. O orgulho de viver é a vida sem vida. Se a vida existisse apenas em mim, não saberia ser ausente de mim sem morrer de mim mesma. Nunca serei a vida. A vida pode me usar. Viverei todas as almas, vidas. Terei todos os sonhos. As flores sonham no despetalar da eternidade. O riso, o choro são eternos sem o ser. O olhar é a segurança da alma. Nem o céu, nem as estrelas têm o meu olhar de poesia.

A função da imagem

Minha imagem me esquece. A imagem é sem função. Importante não é o que existe, o importante é o amor. Amar da existência a inexistência, apegando-me à imagem da morte, é ser no meu fim.

Lógica sem palavras

A morte é uma lógica sem palavras, onde abstraio a vida. Nada posso ser sem o meu amor. Meu amor, nada é sem a inexistência. O sol, inexistência de Deus em Deus. Deus existe para os outros, não para si. O colorido da alma se desfaz em ser. O espírito é a razão de tudo. A alma é a certeza de tudo. O ser é a lembrança de um vazio inexistente. Mudar de inexistência cessa o vazio de estrela. O momento da estrela é essência. Aonde vais com minha estrela? Minha essência é o meu amanhecer. Minha estrela é a morte. O brilho visceral da estrela é o meu coração. Chorar sem estrelas é nunca ir para o céu.