O nada não sabe ser nada. O tempo refaz o nada. Sem o nada, ele é. É o nada sem o nada de ser. A alma exerce o nada, não é o nada. O nada é espiritualidade infinita. Há mais entre o céu e o mundo do que o ser. A falta é um abraço na alma. O mundo é uma alma fictícia, no céu da aflição. Meu ser não sabe que desapareceu. É mais uma vida de amor que prevalece no desaparecer. O desaparecer é o próprio ser sem o nada. Minhas mãos não escrevem: sonham: logo, escrevem. Vou reduzir meus sonhos, ocupam toda a minha vida. Alma, me socorra, nada faço sem ti. Tua ausência é um consolo para ti. Desconsolada, perdida, tento resgatar o meu olhar da minha lembrança. A visão emotiva falha, erra. Tenta visualizá-la, o amor não deixa. Deixo que o amor a veja sem o meu sentir. Para sentir, não basta amar. Sentir é saber dizer adeus. Não se vive, me despeço da falta de vida para ir para o nada, minha origem. Eu fiz de mim o vazio do nada. A vida é diferente dela mesma. Sem a morte, não há nada, há apenas a angústia não vivida, nem no céu, nem no mundo. A angústia é sem tristeza, sem espera, sem o nada, é apenas o ar que respiro. O nada não se nadifica no nada, se nadifica em mim. Escrever é como segurar as mãos de Deus. Minha aparência é o nada no céu. O nada no céu são os meus pensamentos. Tudo se diz nada eternamente sem o céu. O nada das palavras é um céu inacessível, que abraça a vida sem o nada de si mesmo. Nada tem o nada original. A vida são cópias do nada. O nada original é a morte, não é fiel como as cópias do nada. Nada é cópia de mim, mas será que sou me único eu? Meu eu não é minha morte. O sol da morte é minha alma. Apenas a morte me traz ao mundo. O além do real é o nada. A morte devolve minha fala, meu agir. Agir, às vezes, é morrer. Não morri agindo, morri sendo. Sou capaz de morrer: tenho necessidade de morrer como nada, para afastar o nada de mim. Morrer no nada é morrer sem o nada, onde posso abraçar a mim. O conflito do nada era a minha ausência de morrer.