Blog da Liz de Sá Cavalcante

A impercepção do nada

A impercepção do nada é quando a alma vive. A impercepção do nada é a existência da alma. A percepção do nada é o fim da alma. Se eu nascesse poesia, eu seria o meu fim.

O som do vazio

O som vazio não é o som do vazio. O som do vazio é quando não há mais estrelas na alma, e o céu limpo de amor, a engrandecer o vazio sem alma, perto do céu. O que não é sim, não é silêncio, é o sussurro de ver. Notei que nem o barulho nem o silêncio tem a presença de ver. Vou fotografar minha mente na minha alma, para saber onde a perdi, como encontrá-la por ser apenas alma. Transcender sem pensar é o melhor transcender. A ausência é o transcender absoluto. A ausência não é falta de pensar: é o meu ser no pensar. Nada é a imensidão do ser no meu ser. O recuo ao nada é a imensidão do céu na imensidão do ser. Recuar no nada é compreender o universo com o olhar, separando o nada do sentir. Sentir, nada significa na alma, mas para o nada tudo significa. O tempo dá significado ao sentir. Não sei mais qual o tempo real e qual é o tempo verdadeiro. O tempo não se perde no pensamento: se torna meu ser, minha alma, minha perda de mim. O som do vazio é a superfície do meu ser, onde posso, enfim, respirar. Respirar é a realidade ainda morta. Vou me refazer do não morrer ao sonhar, deixando a vida no campo dos sonhos. Apenas o sonho disfarça sua dor. O sonho não pode ser o silêncio que morre ao seguir os passos da solidão sem solidão.

O que deixei em mim sem morrer

Morrer é um momento apenas do espírito. Apenas tento ser esse momento, que não é meu. Resistir a alma é morrer. Ser a alma é luz que foge da escuridão no jardim do pensamento. O que deixei em mim por morrer foi essa mistura de luz e escuridão. A escuridão me aproxima da luz. A luz que o olhar não sente é a luz da escuridão. O firmamento do céu é escuridão. A beleza do céu é a escuridão que torna o céu enigmático, na prontidão do luar para ser o céu inimaginável, como a alma. A morte posso imaginar sem o céu. A sinceridade é o céu no meu amor. A falta de morrer é um sentimento raro. Não morri, me senti morrer. E foi por me sentir morrer que não morri, para a estrela ser eu a morrer. A permanência vem com a morte. O que espero da morte é a vida: não uma vida deixada por mim, mas uma nova vida. Beijos de silêncio calam-me no nascer das palavras. As palavras são o sonho a fala. Meu beijo na superfície do nada, minha fala flui, em acontecimentos eternos, onde permaneço intacta de ser. Permanecer é esquecer.

Tempestade de ausências

O sonho em tempestades de ausências é o despertar do céu nesse nós de mim. O nada emendado no nada é a falta de mim. A alma desencontrada me impede de morrer. Morrer se derrama em mim. O despertar é morrer sem me derramar.

Formar o nada

Cavar minha alma para eu vê-la no fundo do nada, para formar o nada. Quero morrer sem o fundo, raso de vida: não estou mais só em mim. Lágrimas de luz dão-se ao nada, com a certeza de não sofrer, de ser esse ser no nada do não sofrer. O nada eterniza a vida no nada de si, para não sofrer. Me eternizo no nada para ser, para sofrer em paz. Mas o que se eterniza é o meu fim. Fico sem o nada: fico vazia. Quero estar contigo no meu nada, ele não deixa. O nada sacode o vento como uma melodia que não cabe na poesia do vento.

Não há retorno no nada

Não há retorno ao nada, pois ele não é, apenas existe. Seu existir é o meu ser em mim. O nada é de dentro de mim, saindo como entranhas do céu a fixar o tempo no nada de Deus, que somos nós. Somente em Deus posso retornar ao nada de ser feliz.

A alma da voz

Estar viva é a memória de Deus, na alma da minha voz. Um estrondo no meu silêncio de morte, me aproxima da morte, da realidade.

O ser do meu ser

A realidade aparece em sua negatividade: no ser do meu ser. Não há distância no amor. Quero ter alma para que a distância de mim abrace minha alma sem o mundo. Sem a vida o amor é infinito, sem tristezas. O vácuo de mim é minha essência, que roubou minha morte de mim. Fico vazia sem a morte. Vazio preencho com o buraco dentro de mim. Esse buraco é a plenitude do vazio, sem o vazio de mim. A beleza da vida é a morte: fim do fim. Do fim que apazigua a terra da alma e faz morada. Flui natural minha morte, é como o despertar da natureza, fez-se em mim. É sede para saber onde vivo: estou dentro do amor de quem me ama. Não há ser em mim, além do ser do meu ser. Dessa incansável busca de nós. O amor cessa o ser. O ser da morte é o ser como presença. O nada é uma presença dentro de outra presença. A presença do céu são todas as presenças numa única presença: a presença da ausência. A ausência só significa o céu no mundo, no ser, no mundo do ser. A vida é um mundo particular da alma de Deus. O silêncio é a falta de alma a retornar ao nada, como sendo o sustentar do mundo do amor. O tremer do sol renuncia o amanhecer por um amor infinito. Tão infinito quando deixar de olhar a vida. Para a vida, o infinito é o meu olhar.

Me consumir (me destruir)

A multiplicidade de sons na morte me faz não escutar o último apelo da vida. O sonho enterra a vida. A alma descoberta no fundo da morte. A vida vive do seu fim. Esse fim somos nós. Vivo duas vezes: uma para esquecer a vida, outra para lembrá-la. Lembrar e esquecer é uma só vida, perdida na lembrança do esquecer. Nada pode se destruir no esquecimento. O esquecer tem a firmeza da alma. Abrir o sol na permanência da morte. Ver a morte no sol: permanência da alma. Não há sol na vida. O tempo trará o sol de volta à vida, pelo meu ser, pelas minhas poesias. Poesia é um instante só no mundo que se estende pela eternidade. Eternidade é presença do sol na minha vida.

O risco de ter paz

A paz pode ser a morte da alma. Faço a luz conforme a poesia, de acordo com a minha vida. Fiz nascer a luz para não ter paz no ver. Ver é luz, cria a realidade. O céu não se abandona mais, sem ser visto. Ver o céu é clarear a alma. A paz é meu amor morto. Paz é não ter esperança. A esperança do meu olhar é a minha morte. Anseio vida.