Blog da Liz de Sá Cavalcante

Amargura

O sonho da alma é a letargia do ser. Alma inexperientes sonham enganos, acertos para a alma, que ri, sonha, como se tudo fosse um engano e ainda faz dos seus sonhos, engano eterno. O silêncio deixa a alma esquecida sem silêncio. Talvez a alma do silêncio cesse a alma em si, para a alma do silêncio se sobressair sem o nada. O amor é tão essencial, por não saber viver. A vida é o nada sem aflição. Sinto a vida em mim, sem meu corpo, minha alma a morte é um processo, um progresso interno. A alma se alimenta de morte. Vê minha ausência, me torna presença de vários sóis, várias vidas, me torna presença de mim. A amargura é a falta de sol na alma. O abismo da alma e do universo são duas almas que não se dão a ausência de tudo, como se a ausência de tudo não houvesse mais nada, além de se dar. Por isso, me dou sei lá a quê. Deus se desprende da vida para ser a vida de todos nós.

O sol dura o tempo de ser feliz

Cinzas ao sol, a essa possibilidade de voltar sem vida. Morrer concretamente é a vida sem voltas: é viver! Limpar a morte, na escuridão, como salvação do meu sofrer, da minha agonia agonizante. O sol é uma agonia. O sonho é a exaustão do pensamento. O que tem que doer, que doa na profundidade de ser feliz, como um pensar bem-vindo nas entranhas do amor, descobre a função da dor. Sorrir ao sofrer é ter alma. Alma é uma dor que não passa, é uma resignação. Eu quis sofrer. Quis viver. O sol é o saber de Deus. Quando escurece, o sol descansa em mim. As cinzas são levadas no sol para a eternidade. Apenas a morte resgata minhas faltas. Sei que vou morrer como sol: em absoluto abandono. A morte não é cruel, é um paliativo para a vida, mas não a cura, apenas a ama. O amor não pode me fazer viver. Estou trancada em mim. A morte é o recomeço do sol sem as cinzas, sem a miséria do pensar. Eu não sei nadar em meus olhos, que é toda profundidade da vida, nado no vazio da vida. Sem o será da vida tudo seria determinado por Deus.

A sombra da sombra

A alma é sem alma, como sombra da sombra. Tantas almas, nenhum ser: isso é vida. Vida, para que vieste a mim, e não tem nenhum ser em ti. Como me escolhe? Pela minha sombra de ser? O amor é uma distração da alma, do vazio de ser. A alma é o isolamento da eternidade, em que o ser habita o nada de ser, para compor o pensamento, o meu eu.

O tempo sem a morte

O corpo e a alma, unidos, é morrer. Corpo e alma, separados, é vida, eternidade. O corpo e a alma são uma maneira de esquecer o que vivo, o que sou. Distante do amanhecer, penso em mim sem escuridão. A alma vence na morte. Não há alma para minha alma. A alma é um delírio. Não posso sair de mim sem alma. Posso sair sem vida, nunca sem alma. O nada é a única liberdade. O céu não é livre como eu. O céu não esmorece. Ter sempre o que vê, é não viver no que vê. O que importa não é ver, mas importa saber por que dependo de ver para viver. O que há por detrás do ver? A inessência como divina? O meu ser como humano? Como ser sem ver? Pelo amor! Nada refaz o ser do seu isolamento de vazio. O tempo sem a morte é apenas uma luz que se apaga. Todos descansam em Deus, no tempo sem morte. O tempo sonha morrer como nuvem. O ar é a companhia do vazio. Respirar incorporando o ar é eternizar o vazio, no nascer do sol, que não nasce. Estou sempre perto do meu nascer sem mim. O respeito da minha sombra me impede de morrer.

O pressentimento do fim

O som ensurdece por dentro da alma, me faz ver o que não existe. O sonho é a realidade individual em todos e, ao mesmo tempo, em nenhum. A alma paralisada como um querer divino. A alma conhece o desconhecido: o meu ser. Eu não conheço o desconhecido da alma. De alma em alma, nasce a vida. O tempo me faz esquecer da vida. A culpa não é de quem ama, mas do amor que se fez amar, até a morte da inconsciência florescer na escuridão da alma. Alma é inconsciência. A inconsciência do corpo é o ser. Vivo das lembranças. As lembranças são o olhar do meu olhar, que se afastou de mim na lembrança do olhar: não sou eu a lembrança do olhar. A morte é cessar a verdade na escassez do nada. É o fim.

O sol é uma homenagem à vida

Ouvir o amanhecer é uma pergunta para a alma. A alma responde com o silêncio, com a vida. Amanhecer é vida, não se vê. A última visão anoitece em mim, na sombra do nada. O tempo perdido no nada é o amor pela vida: é o otimismo de viver. O céu vazio pelo ser ainda é céu. O fim não tem o silêncio de Deus, a presença de Deus é vida. Mãos sufocam o corpo sem o tocar e depois sufocam, como areia perdida no mar. Mãos são a suavidade de Deus. Minhas mãos recolhem o nada do nada, para não recolher o corpo do seu afastamento. Quem não suporta a dor, é apenas uma mentira. Há lagos de alma a penetrar no sol de mar.

Me expulsaram do nada de mim

De perto a vida não é nada. O pouco de alma que eu tinha era saudade do nada inexistente. O ser no meu ser é a existência do nada. Minha alma divido com todos. Tudo é diferente do que é: por isso sei de mim. Nada pode ser o que perdi: teriam que me atravessar por dentro de mim, para serem o que perdi. Tudo perdi, mas não perdi o tempo perdido, ele permanece.

Insuficiência

Nada pode ser a esperança perdida, brilha mais do que o sol. Minha esperança é inferior a uma esperança perdida. A esperança do céu é o sol. Quando termina o sol começa o ser independente da morte. A vida luta contra o sol de onde nasceu. Devo a esperança o meu nascer, a minha alma. Nunca terei o insuficiente para morrer. A alma é o suficiente para viver. Minha alma é Deus! O ardor da morte é minha pele. A morte é minha pele, viveria apenas sem pele. Não se pode morrer ou viver na solidão. A morte é a mesma para todos. O céu é o passado de Deus. Nós somos o agora para Deus. Sem Deus não há solidão, alegria, amor. Não posso ver Deus, por isso, o amo. Deus são minhas ausências. A ausência foi o sorrir mais pleno que já tive: foi como alcançar o céu em vida. Domino as coisas vazias: pois são eternas. Não uma eternidade qualquer, mas uma eternidade de alma, não da alma. O nada é a razão de tudo, menos da morte não sei como a morte sai do meu corpo feito alma, não tenho reação para viver. O corpo, em colapso por não morrer, se debate. Nada há em te esquecer, não é nem vazio. A alma é o vazio de ser. Viver do interior é viver da morte, como se não houvesse mais suspiro nem poesia, é como desaprender a amar. Se eu vir as coisas, e tudo se iluminar, perderei a alma. A escuridão mantém a alma na alma, isso é: em mim. Pecado, perdição, é não aceitar a perda da alma. Sem alma, irei viver, ao ter o nada dentro de mim. Não é justo viver. Mas o que é justo? Deus. Por isso, morri.

A impercepção do nada

A impercepção do nada é quando a alma vive. A impercepção do nada é a existência da alma. A percepção do nada é o fim da alma. Se eu nascesse poesia, eu seria o meu fim.

O som do vazio

O som vazio não é o som do vazio. O som do vazio é quando não há mais estrelas na alma, e o céu limpo de amor, a engrandecer o vazio sem alma, perto do céu. O que não é sim, não é silêncio, é o sussurro de ver. Notei que nem o barulho nem o silêncio tem a presença de ver. Vou fotografar minha mente na minha alma, para saber onde a perdi, como encontrá-la por ser apenas alma. Transcender sem pensar é o melhor transcender. A ausência é o transcender absoluto. A ausência não é falta de pensar: é o meu ser no pensar. Nada é a imensidão do ser no meu ser. O recuo ao nada é a imensidão do céu na imensidão do ser. Recuar no nada é compreender o universo com o olhar, separando o nada do sentir. Sentir, nada significa na alma, mas para o nada tudo significa. O tempo dá significado ao sentir. Não sei mais qual o tempo real e qual é o tempo verdadeiro. O tempo não se perde no pensamento: se torna meu ser, minha alma, minha perda de mim. O som do vazio é a superfície do meu ser, onde posso, enfim, respirar. Respirar é a realidade ainda morta. Vou me refazer do não morrer ao sonhar, deixando a vida no campo dos sonhos. Apenas o sonho disfarça sua dor. O sonho não pode ser o silêncio que morre ao seguir os passos da solidão sem solidão.