Blog da Liz de Sá Cavalcante

Deixe-me viver

Não sei se é desespero, mas o bem irreal faz bem à alma. O tempo se foi com o real. A alegria encosta no sol, como se a realidade fosse possível. E se a única realidade for o sol? For a vida? O que vai ser de mim? O asilo da saudade são flores. Não sei se sou vida ou morte: não quero decidir. Saudade é sentir a brisa como amor. Viver de saudade não é justo: é como se houvesse céu para a dor.

Sou transparente como o sol que ilumina

Vou começar a viver como se sempre vivesse, como se estivesse acostumada a viver. O amor da alma vem da distância do universo na minha poesia, vem de mim. O sonho é uma poesia deformada pela falta do vazio. O vazio é a esperança da poesia no céu. Minha esperança é sem céu.

Carência de vida

Amor é inexistência: não faz viver. Existir ou não existir, não me torna inexistente: sou inexistente ao viver. A inexistência é o amanhecer, nos meus abraços afoitos por sentir a vida, no sempre do nunca mais. Perco os meus abraços sem esse nunca mais: me faz te ver.

O que fazer com a vida?

A consciência, perda de mim no que sou. Serei o que sou sem palavras. Ações são o limite das palavras. Deixo-a, vida, para a eternidade, não para mim. O céu cresce nas palavras que definem o céu sem o céu. Palavras são a vida do céu. Não há céu ao lembrar de Deus: há apenas Deus. Lembrar de Deus sem me esquecer é transcendência. Ir além de Deus é morrer sem Deus. Liberto-me de me libertar. Morri dos meus sonhos, como a tristeza que não aparece e, se aparece, não aparece como é. Tocar na consciência é deixá-la partir, pela consciência eterna, onde o mundo é mundo. Não pretendo ser eu para ti. Não sei como o tempo é consciente de mim. A morte, distante, me faz morrer. Ter alma de adeus, é voltar a vida. Corri, sem sair do que sinto, corri da minha solidão, da minha esperança. Mas não tenho medo, apenas necessito fugir de mim. O tempo é como me refazer sem o nada. Nada sou sem o nada. Eu vi o nascer sem sol.

O comum no sonho

Durmo para acordar a inconsciência no meu sonho, sonhando ainda mais, como se eu fosse a única estrela do céu, no devaneio do céu. O céu é um estado de espírito temporário, tem fim com a minha morte. A eternidade do vazio, é o comum no sonho. Sou eu, ausente do corpo, como um sopro do meu corpo, a sonhar comigo.

Estranhamento

Não vou entregar minha morte a mim: vou deixá-la no nada, no vazio. O que resta da morte? O recomeço!

Morte em palavras

A ilusão não é simples como o sol: é uma morte em palavras, nem sempre são o que se precisa ler, ouvir. Nada vivi por um adeus. Lutar contra um adeus, é lutar no nada, no vazio. O vazio tem palavras, amor será consciência, apenas uma palavra que uso, para disfarçar a minha ignorância no amor? O que posso ser para o amor? Nada. Morrer, em palavras, é minha maneira de ter alma. O abismo é a vontade das palavras. Sair do abismo é ter palavras. A morte é diferente de morrer. Morri por falta de morte. As tristezas colorem a vida, para eu vê-la, amá-la, senti-la com os meus olhos. As cinzas da morte são a morte, com ou sem palavras. Nada fica na morte: a morte se esvazia. Estou livre da morte, da minha alma, crua em mim.

O silêncio do silêncio

O silêncio do silêncio é a voz da eternidade. O ser é o tempo que resta da vida. Me esquecer de ver é sem a força de um adeus.

A ilusão da subjetividade

Nada além… se os sentidos, não os sinto, é a vida a existir. Nada além do além. O além da minha alma é a minha morte. Meu ser é percebido pelo meu esquecer, continuidade de vida. Perceber é amar vendo. Ir além do ver é nada perceber, nada a amar. E, mesmo assim, morrer de amor. Tudo pode ser feito, apenas por amor. Ninguém veio saber de mim, do meu amor. Melhor seria nunca amar. Para sentir é preciso deixar de amar. Continuar em mim, em um céu de certezas, que torna a vida intolerável. Eu amo o amor no que ele não é capaz: de transcender. O inconsciente é o amor. Sonhar é entrar dentro do sonho, é desaparecer no sonho. O meu eu sem mim é o fim da eternidade. O fim na eternidade é o amor.

Momentos

Ser percebida não é perceber. Os momentos param diante do sol, da vida, da conquista de viver. Meu ser, lembrança que não me torna eu, algo distante, inacessível, como o tocar do vento na minha pele e ali eu me descobrisse viver. Mas estou aqui, do outro lado do espelho. Momentos despedaçam o céu. Nuvens de ar clareiam o sol e carregam em si todo o esquecimento da vida, causado pelo amanhecer. Momentos são a distância da vida como alma. Essa distância não sou eu, é a vida perto de mim. Encostar na vida para descansar da vida é impossível. Impossível ver com minha alma, a vida. A vida é um amor que não precisa de alma, apenas necessita de tristezas para amar. O sol pesa na alma, é leve em ver. Pelos momentos, descubro o sol sem o amanhecer. A realidade escapa no amanhecer, cria poesia: voar eterno. O que não é pode ser, é a percepção de algo. Se é percebido, esse algo existe na percepção que faço dele. Estou na morte existente, não a percebo. A luz se abre em falta de esperança. Ainda procuro resistir a mim. Ser eu é o fim do que acredito, fim das minhas lutas interiores e exteriores também. Meu ser não pode acabar com a vida. Não é a vida, é a mim que procuro ao soltar meu corpo da vida. Nada posso ter da alma: mesmo assim, ela é minha. A morte é invisível no sentir morrer, é invisível, como ar que se aproxima. O ar é visível no amor. Consertar o nada como nada. Pelo invisível, vou viver. Não consigo ser invisível: vivo como se fosse. Sou invisível para o meu amor. A alma é meu verdadeiro eu: por isso, sou imortal: pela alma. A vida é invariável. O mar se revolta calmo. A monotonia da vida me causa amor. As palavras de sempre me surpreendem de amor: estão sempre dispostas a amar. Não coincido com os meus sentidos: eles são minha morte. O puro sentir é a morte, onde não há distância entre mim e eu. Na morte, acordo para a vida.