Se eu vivesse pela consciência, seria nula, não teria a consciência do nada, nem saberia não viver. Viver é triste, não é só. As lembranças nascem num tempo sem ninguém. O que antes era ser tornou-se lembranças do nada. Escrever é o ser sem lembranças. As lembranças são o sonho de um adeus. Apenas meu corpo não adormece nesse sonho: é como se algo precisasse viver, das minhas lembranças perdidas. Eu sou apenas uma lembrança sem abismo, por isso morri. O abismo é a luz do sol que condena as estrelas a serem felizes, mesmo que não brilhem, não deixarão de ser estrelas, que guardam os sonhos da morte, no sagrado do céu não tenho pressa de morrer. Sonho com os sonhos da morte. Eles são raros, perfeitos, como viver. Um dia serei eterna pelo sonho da morte, não pela morte. As nuvens de tristezas são apenas para disfarçar o céu, sua alegria, seu amor extremado. O céu me dá outra vida. Não quero outra vida, quero a minha vida de volta, com poesias, mesmo sem os sonhos da morte. Sinto falta: por isso, eu tenho sonhos de morte: esses sonhos de morte são minha inspiração de viver. Não necessito escrever, estou inspirada, sonho mais do que a morte, para sonhar com ela é êxtase nesse deslumbramento, me perdi da vida, como se a tivesse mesmo a tendo perdido. A vida são coisas velhas, precisam ser jogadas fora para renovar a alma, o meu ser, o amor. Não estou cansada, parece que comecei a viver agora. Enfim, eu, na vida ou na morte, no vazio, na poesia, no amor, na plenitude, seja onde eu estiver, me encontrei, posso dizer que eu sou eu, mesmo a sofrer. Convivo com meu sofrer no deserto de mim. Que bom que sempre pude estar comigo, no melhor e no pior de mim, tudo que quis foi ser amada no meu sofrer, esquecendo meu infinito particular por alguém, ou por mim, mesmo que isso causa o meu fim! Enfim, a vida.