Blog da Liz de Sá Cavalcante

Ar de eternidade

A minha ausência é o ar da eternidade. Mãos desviam a eternidade sem a solidão de ser, no não ser das minhas mãos. O não ser das minhas mãos me faz ser com mãos de eternidade. Amei a minha ausência com mãos de eternidade. O tempo é eterno no que vê: essa é a sinceridade do tempo: tocar é a eternidade das mãos. Meu amor é o tempo, nada posso fazer por mim, pelo meu amor. Carrego o céu no meu amor. O tempo de um olhar é a imagem que pensa, ama. Amar é imagem sem céu. O ódio é o céu sem imagem. Nada me torna o que sou. Sonho comigo, iludo-me no desconhecido. Ver é uma imagem, mesmo sem imagem. A luz do nada é a falta de um último olhar. O ar da eternidade é sem expectativas, é raro como a morte na alma. Não há caminho para a eternidade. Há apenas a minha visão do mundo. O céu não desaparece em si mesmo. O eterno é um retino espiritual. Nada nasce só. O tempo destrói a fala, destrói o ser: não destrói a consciência, ficou sem o ser. O mundo vê o que quero e eu vejo o que o mundo quer. A aflição é algo que não se pode sentir. Eu não vivo no tempo, vivo em mim. O ver para sentir o que vê se torna um ser. O meu ser é torturado pelo que vê. Me vejo morrer. Nada é inabalável, nem mesmo a morte. É impressionante a falta na morte: é como me encontrar outra vez para me dizer adeus. A alma nunca silencia. Sofrer de alma é insensibilidade do infinito no meu corpo. Ninguém sabe da minha alma, mas quando me abraçam é a minha alma noutro alguém. O último adeus foi entender o nada. Amar no adeus é loucura. A morte é meu porto seguro. Prefiro essa insegurança de viver. A vida é insegura como eu, são duas inseguranças que se atraem. Essa compulsão por morrer é saudade de mim. Faço falta à morte. Alma é o não existir dentro de mim, na existência do nada. Isenta de poesias, sou a alma do amanhecer. Nas poesias sou apenas só, onde não escuto o vento, o meu silêncio onde escuto meu amor: por isso, sou só: por amar. Tenho autoestima na solidão dos meus passos invisíveis, do meu respirar irreconhecível, do meu não desaparecer na minha sombra. A minha sombra é a certeza da minha ausência. Sem minha sombra não sentiria a minha ausência. O nada não é nem a sombra da ausência. A morte é a perda da alma. Não consigo suspirar, consigo ter alma. Não perdi a alma, ela tava ausente. Nada se perde no suspirar. Um único suspiro é o meu ser. Nada envolve-me, por isso, sou esse único suspirar dentro do nada de me separar de mim. O nada, única consciência que não foi perdida. O dentro de mim é um suspirar dentro de mim, faz doer a alma.

Ansiedade da paz

Entre o sentir e o conhecer oscila o tempo, o amor, mas não oscila o tempo no amor. O tempo sem amor não é solitário, vazio, é Deus. É plenitude, superior ao amor. Tudo termina em corpo, não em morte. A morte torna o adeus a espera de algo mais. O adeus é sempre um adeus, mesmo sendo um adeus de morte. A reconciliação com a morte, é o nada. Suspiro poesia no ar que me falta. Falta eu no meu ar. Expandi o universo com palavras poesia. Poesia é o fim de tudo. Palavra poesia é o recomeço do fim. Sem a poesia não tenho corpo, não tenho alma. Sem alma, corpo, a poesia é apenas mundo.

Meu sofrer reconfortante

A morte não é reconfortante sem sofrer. Toda uma vida é em busca da dor que ainda não tenho. Respirar perde os sentidos da alma. A alma não precisa dos sentidos, necessita de alma.

Sinto-me bem sem pele

O problema é que a pele quer o amor todo para si, deixa nada no ser. A alma não pode me devolver a vida. A falta de vida torna a alma uma dúvida. Não vou desistir da minha pele. Como me aproximar da minha pele? Morrendo pela minha pele, em um instinto de ser. Morrer sem pele é não ter solidão.

Pelo ser

Ver é a possibilidade do infinito no fim. A visão é habitada pela morte até ser cega de vida. O nada, para ser, dando continuidade à morte em vida. O meu ser não se define na vida ou na morte. A humildade de morrer é a leveza do tempo, se doando a mim.

A existência é um interior

A existência é um interior massacrado de morte. Por te ver a existência cessa, dá lugar ao amor. O interior de mim é o tempo de Deus, não preciso de tempo para viver. Viver é sem Deus. Sonhar é tocar sem o nada. Deixa o sonho no intocável de mim para ser um sonho. Não há espaço entre a morte e eu. Morri sem espaço. O acontecer é um buraco fundo, para eu caber dentro. É cabendo nos buracos que vou vivendo. Os buracos, as faltas, são vida quando se tornam abismo, cratera. O nada é a falta da falta, de buraco, de morte é o vazio sem angústia. O nada vê em mim o que não sou. O deserto é sem saudade. Está tão deserto em mim que vejo na claridade luz, esperança. Esperança é escuridão. A sensibilidade é sem interior, sem adeus. O adeus é a vida sem falta nos furos do céu. Morte é um não adeus vivido como adeus. Ninguém diz adeus ao que tem, diz adeus ao que não tem.

Afetos

Afetos são trocas de vida e morte. Nada é o que parece ser. O que vejo no amanhecer é meu olhar de volta aos meus olhos. Olhos nos olhos, onde o amanhecer é apenas um pensamento, uma ilusão das coisas não sentidas. Amor é o amadurecer de um adeus. Meu olhar pensa. A vida é a minha visão, meu amor. Corpo é o que se vê em mim. O corpo sem mim é ouvir a eternidade sem senti-la. Isso é o eterno da perda em mim, sem perdê-la. Aproveito tudo da perda para perder a essência sem perda. A única perda que percebo é a do olhar. Por isso, vou olhar ao menos uma vez mais.

Angústia é estar viva

Sonho e o real se misturam na mesma angústia. Tiro minha alma de mim para me ver. A alma pode se tornar espírito. Palavras são o mesmo nada que partiu da alma. Nada se satisfaz sem o nada. Nada desaparecer não é a alma, não é ser. O cansaço do desaparecer é um cansaço de alma. Pensar é apenas a vontade de pensar, como pensamento do eu em mim, até o pensar ficar sem um significado. Não posso ser eu o significado de pensar? O que é eu nesse pensar? Pensar a sorrir é descobrir um mundo novo. O mundo é a canção de Deus, a vida é melodia. Coração de flores para uma alma sofrida. Depois da morte, não há mais verdade, não há mais céu. Não há mais abandono. A alma cativa sem abandono, sem o ser, sem mim. O ser da alma é a libertação da vida. O nada é o sufocar da liberdade. A vida perdida nas liberdades reais que o ser lhe causou. Liberdade é me entregar ao pensar até desaparecer. Não sou um ser, sou a liberdade de ser em mim. A liberdade é só em suspirar o ventre morto da vida. O sol é o ventre de Deus. O ventre de Deus é o seu espírito: o nascer eterno que morre como espírito de Deus. A angústia de estar viva faz nascer a alma. A alma da minha vida é o nascer da minha ilusão. O tempo cessa a ilusão de ser, existir. A morte é o exterior do tempo no interior de mim. O olhar da morte é a vida. Meu interior não é vida, não é morte, é lembrança do nada. Me abraçar é sentir a morte perto. Me convenci que a morte existe como permanência da vida. Eu sou a impermanência da vida. Em mim, o sofrer desabotoa a vida em sua liberdade. A vida tem a idade do amor. A permanência é o fim de um ser para amanhecer sendo eu sem um fim. O ser do fim não é mais eu, por isso respira por mim, para não suspirar em mim sua não vida. A eternidade do sol é a vida. A luz esclarece na eternidade, a morte na escuridão. O corpo ainda é corpo na eternidade, sendo corpo de luz ou de escuridão. Na escuridão tudo flui, faço em alma. Colhi da minha morte tua alma, teu vazio. Pode ir, morte: estou dentro de ti, mas não estás dentro de mim. O vazio não me deixa me esquecer. É delicadeza me esquecer no mar. Sem me afligir no infinito sem mar. O corpo é o momento certo de me esquecer, a alma, momento errado de me esquecer. O momento é uma forma de me devolver à vida. Nunca vivi sem mim, apenas me sinto só. Sol, me traz a realidade de ser. A realidade sem sol é a alma na luz do nada. Sem a realidade, nada se desfaz, é apenas distante, como uma lágrima ao vento, a tirar os instantes de mim, fazer deles a eternidade da minha solidão. Angústia é estar viva, não para mim, para Deus.

Ausência é querer

O espírito é um peso na alma, ausência infinita, no não querer de mim mesma. O inessencial é a vida, o amor, o ser. O essencial é o vazio cru sem nada, nem vida, nem amor, nem ser, apenas o vazio, a equilibrar o nada, faz a vida fluir no nada. Até surgir o nada de nós, sem necessitar a vida fluir. A vida escapa de mim pelo meu corpo, até chegar até a alma, para morrer em mim. Gosto de sofrer num único suspiro. A morte não me faz sofrer, é a distância do meu amor. Chorar cessa a morte. Me faz viver. Viver não dá tempo de sofrer. O não saber aprende ao menos a sofrer. O céu é descoberto pelo meu sofrer. Tudo reaparece nas cinzas da solidão. Desperto como uma rosa, no fim de mim mesma. Não acredito na verdade da morte, no amor finito. Acredito no meu fim. O fim é o amor escondido em mim. Tudo flui sem amor é a lei da morte. Janelas de alma são o viver. Nada se compara a esperança que existiu um dia: é como voltar para o real dos teus olhos, no teu silêncio a suspirar tua própria falta. Sua própria falta na quietude da vida. O sol da alma não me sorri. Tudo termina no amanhecer. Minha realidade é um sol assustado com o amanhecer. Sonhos alongam o céu no meu olhar. Meu olhar cessa em céu. O sonho é o abraço do céu. O olhar é um sonho subterrâneo, dá a sensação que o céu é subterrâneo ao céu. Compreendo minha alma, não compreendo a vida. A vida é o meu corpo a me conhecer, não sei se estou viva ou morta, quem sou, sei apenas do existir do meu corpo. A alma vê meu corpo no seu fim. Sente-se nada perder em si mesma mesmo morta. Agora posso pensar na minha alma, pois ela morreu. E eu, viva. A existência é o não respirar constante em mim.

Ignoro a vida

Ignoro a vida, mas não a deixo ser o meu ignorar. Ver é não precisar de mim, nem do céu para ser eu. No não acontecer aconteço. O nada é um acontecer eterno. No nada não consigo ignorar a vida. Não tocar o céu é sonho. O nada sofre sem o nada de si. Tenho medo de não sentir medo. Tenho medo de não ignorar a vida. O silêncio é a realidade nua. O sentir é a razão de ser. É essencial ceder ao nada. O espírito é a alma de nós na minha morte.