Blog da Liz de Sá Cavalcante

Derreto-me sem Sol

O ser existe por não haver razão para ser. Este é o meu derreter sem Sol. Preocupo-me com a alegria do nada. É a mesma alegria minha. Fugi de fugir. A alegria se fez em mim, no pouco que sou. O infinito não tem a minha alegria. A alegria é o adeus na permanência. Não sei o que é permanência, mas sei que estou aqui. Não sei se por aparecer ou por desaparecer, se pelo fim ou pela eternidade. Sei que sinto falta do fim e apenas assim consigo viver. Sei que a alma intacta de eternidade não permanece, por isso dura, segue adiante sem mim.

Razão e sensibilidade

A razão é o nada a me separar de mim. O nada é especial, razão para existir vida. Tudo é especial se eu sentir com amor. O desaparecer é apenas falta das minhas cinzas. O desaparecer desaparece em mim. O desaparecer é o Sol completo na plenitude de Deus.

Deus confia no real?

Deus não explica para que serve a vida dentro da morte? Apenas Deus pode tirar a vida de dentro da morte. Deus é uma coisa se sua inexistência for verdadeira. A compreensão da vida é Deus. Deus é para todo amor, todas as coisas, todas as vidas, todos os seres. Morri em Deus, para Deus, para ninguém ocultar a minha morte.

O que se perdeu do céu nas estrelas?

O que perdi do céu, das estrelas foi a consciência do nada. O depois é um Sol a acolher a morte sem braços, que abraça a morte para esconder o seu silêncio, assim como um único Sol é um jardim onde as flores são o pensamento. Ainda vivo trazendo o bem em alegrias diversas, no céu ou no mundo. A morte é uma porta nunca aberta. O princípio é o fim. Um corpo dentro de outro corpo é a morte, é ficar firme no possível. As flores superam a alma. Se as flores não pudessem existir, a alma seria uma flor, uma lembrança, um gesto, um olhar, por isso nada fica marcado na alma. Não há registro da alma na memória. A cor do infinito é sem céu. A morte não é estranha, é vazia. O céu é por onde me vejo no mundo. Não há distância que separe o céu das estrelas, apenas o mar se afasta do céu, como uma resposta ao tempo. O amor é uma estrela para as estrelas. Pensar é a minha eternidade. A vida é a existência de Deus; a existência do ser é Deus. A existência é o existir sem fim. A noite cai na alma para haver pensamento. A noite se ergue da alma no sonho. Não tenho sonhos, tenho alma. Não preciso sonhar.

A inocência da morte

Protegendo a angústia da vida, a inocência da morte flui em mim. Sei que venci a angústia no amor que sinto. O passado se foi, ficando em mim. Esse ficar é a despedida no amanhecer. Que seja breve como um suspirar de Sol. Ver a alma da morte como se fosse um rosto, onisciência do meu partir. A loucura é o tempo do meu corpo. Debaixo do Sol, a morte nos olhos de Deus.

A vitória de viver

Sem consciência, a consciência é a morte sem céu. A inconsciência amplia a consciência na inconsciência divina de amor. O tempo da alma é a inconsciência na consciência, sabendo algo que não sou eu. Deixo-me ser alma para viver de alma. Não há vitória sem derrota. O céu caminha só, em Deus. Não há resolução, há Deus. Não sei ficar na ausência, mas fico. Paro no meu olhar, nesse saber de mim absoluto, em uma alegria que adivinha a vida. O soluçar da alegria é a vida. A alegria é recomeçar a ser, até no indefinido. O indefinido se define na minha alma, como se fosse eu. O espírito é só em espírito, no ser. O espírito é tão só, que morre. Essa é a minha vitória.

O ouvir da alma silencia

Como terminar de ser, se o ouvir da alma me silencia? Vivo só o que não vivemos. É maravilhoso viver por mim, por amor. A alma levanta o céu do abismo de ser. Mesmo sem amor, a vida ainda é amor.

Nunca parar de procurar a vida

A vida partiu, mas continuei a viver como se existisse vida. A vida era para ser um pedaço do meu corpo morto. Não é mais nada, por isso não acredito no amanhecer.

Em carne viva

Não conheço a lembrança de ser eu, mesmo em carne viva. O céu é a pele de Deus. A vida se responsabiliza por Deus. Deus tem vida? Não. Deus é amor. É raro respirar vida. A vida respira por mim. Não conheço a linguagem do respirar. Memórias de água em um oceano sem mar. O nada na memória sou eu. A memória infinita sem mim é porque tudo está bem. O desaparecer desapareceu; a vida apenas não aparece. Nada fica, tudo se possui. A vida trai Deus. Deus jamais trai. Despertar o ser aí para um não vida. O ser aí ainda é um ser. O ver da ilusão são cinzas do pensar. Nada penso no pensamento vivo. O lamento do amor é o sonho. Procuro a procura, mas nunca é o que encontro em mim. O sentir é a procura da alma dentro do sonho não sonhado. A alma cura o sonho de sonhar comigo. Eu vi o meu sonho, por isso morri. Nunca a vida se entrega a mim. Pode ser eu. A vida também morre só. Alcanço o Universo e não me percebo. O mar se dissolve em areia. Na inconsciência, o mundo está diante de mim. Não há mundo na consciência, nem solidão. Há apenas a consciência. Ela existe até na consciência do nada. A ilusão da ilusão é o real de um sonho. Acreditar não é real, mas está dentro de mim. O mundo brilha, o Sol se apaga para não ver o mundo, e assim eu existo.

A presença do nada

A presença do nada é o único corpo com vida no meu ser morto. Assim, Deus é a minha única realidade neste mar de neve. A falta, realidade eterna onde o coração é apenas uma canção. Dormi na realidade que me falta. Privar-me não é nada, é apenas concretizar a alma na definição do nada: eu. Nada desaparece no nada. O nada é o surgir do nada, o nada não sente a sua própria ausência. A presença do nada é a sua própria ausência. Reviver, ter o nada em mim, recuperando-me do perdido. Mais ainda perdido é o nada. Sair do imaginar para ser eu não vale a pena.