Ela veio.
Ela ia.
Logo voltava.
Ia.
Voltava.
E foi.
Foi.
Voltará?
Voltou.
Nunca foi.
Nunca irá.
Está.
Sempre estará.
Sempre.
A homenageada: Ela, a filha (Liz)
O autor: Ele, o pai (Tales)
ELA |
ELAEla veio. |
Sonhos de solidãoO manto do céu é minha vida. A solidão não apaga a escuridão da vida, única luz eterna, sem a solidão do prazer da paz, sem o mando no céu. |
Gotas de SolGotas de Sol mantêm o destino acordado. O limite é uma gota de Sol a desmanchar as nuvens. Quero ser as pontas dos dedos no nada. Quero morrer de amor. O instante se vai com amor e fica a alegria de estar sendo. Nada volta ao instante, mas o instante volta ao amor verdadeiro, onde sempre esteve, é eterno na alma. O fim da eternidade é o meu amor por mim. Nada escapa em vidros de solidão. O temporário não é real. O amor é real por dentro de mim. A dor cura-me em vida. O abandono não é meu ser, é a alegria de ficar só até sem lembrança – é porque estou comigo. Isso é tudo que posso ter, que preciso ter. |
A plenitude na faltaA falta de uma estrela é a falta de tudo. Consciência é saudade do nada no vazio da consciência. O eu transcendente não é um eu, é desfolhar a morte como uma flor. O desabrochar da morte é seu adeus. Um sonho cessa noutro sonho. O sonhar mistura-se com minha morte. A sombra do meu amor sou eu. A sombra do meu amor é minha profundidade sem intensidade – resta apenas uma sombra. A sombra é um grito de socorro de lágrimas. Lágrimas correm pela eternidade do desafogar. Cinzas são eternidade, levam a alma onde quiserem. O estranho na alma é aceitar meu ser nela. O ser do ninguém é a alma. A morte vai saindo de mim em uma despedida de vida. |
A angústia do prazerDando-me alma, é angústia sem prazer. Nada seria nada se não houvesse morte. É impossível ir além de mim. A morte vai além da morte. O céu é descoberto por uma estrela. A estrela torna-se céu. O céu desfaz-se em estrelas. O sonho é sem estrelas. Nada aprendo com o real. A falta de mim é a única coisa real. Engasgo-me com a vida engolindo a morte. Sonhar, perda de mim. Não há perdas no real. No real sou apenas o que sou. A bondade no ser é sua morte, a bondade da natureza é o vento que espalha saudades para eu uni-las. Vivo disso como se fosse minha única poesia. Amor é falta de presença. O silêncio absorve-se no ser. Não existe eu no meu amor. A poesia é a vida da vida. O céu não vive, escolhe-se. A morte é a autenticidade do amor. Ao morrer, amo ainda mais. Esse amor nunca acaba, mesmo na incerteza de amar, de ser. A poesia para mim é para o mundo. Esse mundo que criei exclui-me. Eu o excluo, fazendo-o nascer de mim. Queria ser o meu nascer. O mar embriaga a saudade – não é amor. Meu coração de estrelas é a constelação do mundo, do meu ser, do meu Universo vazio. É pior morrer leve. Nada traz de volta a quietude do amor. Tomada de mim pelo nada, percebo não ser. Nunca fui. O ser é a vida a sonhar com meu ser. Somente se encontra meu ser depois de morto, de todos os abraços, de todos os amores que não vivi. |
A realidade da ausênciaA realidade da ausência é apenas a dúvida ausente de viver. Sai do meu corpo sem morrer para o meu corpo ser eu. Nasci no não nascer. Existir é ausência de mim. O princípio do ser é a morte. |
Flexibilidade em morrerTornar o amor irreal é o Sol pondo-se na minha ausência. Ver o amanhecer é mais do que amanhecer, é sorrir como a vida sorri. Sorrir nunca será triste. Sorrir é um passado que está presente. Esquecer o Sol é esquecer a vida e a morte. A consciência é um lugar onde não estou. Uma vida acaba com as outras. O irreal é real na morte. O princípio do fim é o meu ser. Não há ser para o fim. Meu fim é escrever na infinitude de mim. |
A alma realA alma real é sem o ser. A alma melhora na dor. É indescritível o sofrer. O amanhã vai ser de alma até anoitecer de dor. |
Fim do fimO fim do fim é ficar só. Só em mim, não nos outros. Infeliz é aquele que não tem fim e o que tem fim. Apego-me ao fim. O fim não é fim de si mesmo, é o fim do fim. O fim do fim é o mar a secar e o Sol a desaparecer. |
Consciência é morrerA impossibilidade do amor é o amor. O céu tem muito a aprender com o amor de Deus. Como posso ao mesmo tempo viver e morrer? O que é o princípio do fim? É a falta de alma? Sai de mim para morrer. |