A alma torna meu ser um nada. Transcendo sem morrer. Para que morrer, se morrer não é o fim? O fim é viver.
Neurose em morrer |
Neurose em morrerA alma torna meu ser um nada. Transcendo sem morrer. Para que morrer, se morrer não é o fim? O fim é viver. |
Temor à vidaO perfume da vida é o anoitecer dos sonhos. Sonhos são e não são eu ao mesmo tempo. A ilusão é o temor da alma. A distância é o nada que me atravessa a alma, confundo com o vazio que não estremece, é o vazio, a firmeza do tempo. A firmeza do tempo é o silêncio da vida, que se rompe sem nenhum tempo, sem referência de vida: apenas o silêncio na busca do vazio. O silêncio é o vazio na imensidão do meu ser. Tudo tenho sem dividir o infinito com o meu amor. A espera é expectativa, é vida. A espera é uma poesia. Quem dera a vida fosse apenas essa espera concreta, sonhada, seria a realização de um sonho. Vi no silêncio o que espera de mim: o fim. Fim do nada dizer, para um pouco, desisto: nunca se diz o que sente. Não há oportunidade. Há apenas silêncio: lago mais infinito do que o mar, do que a minha ambição por viver. Apenas a perda e o fim do silêncio, e o começo de morrer. Na frente de mim, a falta do fim e a eternidade abandonada por ser amada. Nada é destrutível: é conservado pelo fim. O fim é retomar a essência como ela é: apenas eu na falta de ter sido. Agora sou eu entre o ser, o nada, a vida e a essência. Somente não posso morrer, se nunca vivi. |
Desertos vencidosMe vesti de morte para ser vista. Você não sente minha morte, para ti morri há tanto tempo. Esses são os desertos vencidos: solidão na alma e amor tranquilo. Até ao morrer. |
Velar a morteAmor nenhum substitui a morte. Estou a velar a morte: essa é minha vida, de luto pela morte. Essa unificação na morte é o amor. |
SuperarSuperar-me não é viver. A distância supera a alma. A alma, para não ficar triste, morre. A tristeza é um olhar, atento à vida, como se algo pudesse se aproximar da realidade inacessível, vai ser como um sonho. O sonho não é infantil, ele amadurece a vida. Nada em mim me supera: minha existência é o meu amor por mim: é vazio, é essencial para me manter viva como o nada. Nada é por eu me amar. Se eu não me amasse, seria o fim desse nada. Se o nada morrer, morro também, nas palavras do nada, me emocionam, como a vida não me emociona. Não adianta escrever palavras sem serem o nada. É fácil ficar sem alma, difícil é tê-la. Nada é alma. Meu ser nunca será o amor que sente: está cravado de amor. |
Mágoas de luzA compreensão é infinita em mágoas de luz, como o resplandecer do nada, que se prostrado ao sol, tem a minha essência. E, assim, tornou vida, não uma vida particular, mas a vida de cada um. Escrever é a inexatidão da vida na exatidão do mundo. Exatidão e inexatidão se completam, como a alma e a sede, sem sede de alma. A sede de alma é a morte na vida. O tempo morre em mim. Canções são a permanência da vida. Canção e poesias são formas de não me esquecer da vida. Se a vida fosse eu, de que adiantaria viver? A vida existe na solidão? Solidão é ter a vida em mim. A solidão se fez ser. O outro é um ser, apenas em mim. Nada lembro do sentir. Mas não sinto o esquecer. O vazio é a minha imagem em mim: é apenas o espelho. O céu é a imagem de Deus. Fazer do espelho minha imagem apenas, não o que vejo em mim, é tornar minha imagem sua. O olhar é outra imagem que destrói a imagem real, distorcida em fragmentos. Mágoas de luz é a ausência, a perda de mim na imagem, mas não perderei a imagem de Deus em mim. Perder a imagem para o nada é como ter Deus. A imagem não é a falta de Deus, é o que nós fizemos de Deus. Até que, de tanto tentar ter Deus, morremos. Nunca saberemos que bastava seu amor. |
PazO pouco de paz que tenho é morrer. Não dá para separar a paz de morrer, de mim. O morrer em mim, não sou eu. Seja onde eu estiver, seja como eu me sentir, a morte está em mim, como o amor do nada. Como a paz isenta de paz. Não há falta na morte. A morte é um sorrir eterno, sem eternidade. Sorrir é o meu fim, fim da minha morte. A paz não é uma verdade, é mais essencial do que a verdade. A paz é ausência de tudo: não é ausência da ausência. A ausência é deixar de ser, para ser apenas paz sem ausência, no nada de mim. Superar a morte, sem morrer, com ausências. |
Culpa de existirNada se é por ser. O ser sem alma é o ser da ilusão, em que nasce a vida. A vida é culpa de existir. Perdi a vida, não perdi a alma, não me perdi. Nada é crer, por isso, acredito sem crer. O silêncio preenche as palavras, a definem, sem nenhum pensamento. O sonho é um silêncio de morte: na presença de um pensamento, no qual eu não necessite do silêncio ou das palavras: assim, eu preciso de mim, mesmo que seja superficialmente: como um sonho em vida. A presença nunca será um sonho, mas também não é uma realidade: ela sou eu. |
No fundo da almaO amor é a luz das trevas. Vou morrer no fundo da alma. Que a tristeza emudeça o silêncio na sua dor de alegria. A tristeza pode ser o que eu quiser: a alegria não. A determinação é um ser oculto em mim. A indeterminação é o ser em mim, não por mim. Luz é a antítese, a falha de se morrer. Morri na luz: no erro de morrer. Ser o que se é, é alma. Com luz ou sem luz, sei o que é ter corpo. Palavras são como luzes eternas. O sonho, consciência de ficar. O céu, sonho de partir. O sonho é um torpor que devolve a alma para a alma. O sol parte o céu em fragmentos, deixa a vida intacta. Ficas com a morte apenas: eu fico com a sombra. |
O florescer do nadaNascer, perda de Deus, prolonga a vida no nada. Nasce o que se é, viver neste deixar de ser. Florescer o nada com mortes que não acontecem: por isso, existem. |