Nasci numa eternidade sem sol, no vazio de mim. Melhor não nascer. Melhor ficar no sonho do não nascer, me apegar a esse sonho para não morrer. Para não existir nunca.
A eternidade sem sol |
A eternidade sem solNasci numa eternidade sem sol, no vazio de mim. Melhor não nascer. Melhor ficar no sonho do não nascer, me apegar a esse sonho para não morrer. Para não existir nunca. |
Olhar a morteOlhar a morte me acalma, me torna real, normal. Se olho a morte, algo existe. Existe além do existir. Olhar a morte me preenche de vida. Nada me faz morrer: o pior é não morrer. |
Luz da imensidãoO que não tem alma é luz da imensidão. Não sinto o desaparecer, mas sinto nele um vazio que aparece no desaparecer. Desaparecer é a única linguagem de vida, de amor. A vida não é submissa ao amor. Ela ensina o amor a ser amor. O sentir nasce do amor. O sentir não sofre com o meu sofrer, o amor sofre. Confundir amor e sentir faz nascer o vazio de cada estrela em mim. As estrelas se derramam em céu pela busca de sol. Para o sol a realidade é sua luz no ser. Torno-me luz da minha dor e escuridão da minha morte. Afastar a luz de Deus é morrer na escuridão. Quero ir na luz de Deus, transcender em Deus, assim, terei minha própria luz na luz de Deus. O silêncio é um amor interior. Não sinto saudade da minha voz, sinto falta da consciência da minha voz. É como se a luz se tornasse vida, ela lembra da minha voz. Nada se ama sem luz. A luz acende o amor. Quero ser o meu mundo. Sonho no que eu vejo. Ver une as almas, nunca o ser. Nada é a luz dos meus sonhos. Sonhar sem luz é o mesmo que não sonhar. Tocar o sonho me torna um sonho. Necessito me afastar da vida, renunciá-la para perdoar a minha morte. |
Eternamente euViver na dor de existir é viver eternamente. Amor é desumano, é a única dor: é eternamente eu. Não sou eternamente eu, se eu for eu, na imensidão do vazio. O amanhecer é a imensidão do vazio em nós, pelo mundo, pela vida, pelo que amo na vida: o nada da vida. O nada pode ser o amanhecer sadio, sem sofrer. Esqueço o amanhecer sem o nada. O que me oprime liberta. Liberta sem liberdade. |
Como amar amanhecer?Como posso amanhecer se já amanheceu? Como gostar do distúrbio da alma é morrer no seu amanhecer. Agora a alma é livre. Tem o amanhecer todo para si. Ela é o amanhecer sem a perda da sua morte. |
PerfeiçãoA perfeição é chegar à alma sem morrer. Amar é insustentável, mesmo na perfeição do amor. Amor com amor é esquecido. Nada quero trazer do amor, quero apenas que ele não se perca. Vivo inteira para os pedaços da vida: esta é minha perfeição. Apenas minha. |
Sabedoria do incertoAcreditar na alma é uma incerteza de amor. Amor é mais do que alma, do que o vazio, do que ver. A sabedoria é a incerteza da vida. A vida é apenas aceitar o nada em mim. O fim é que falta muito para ter alma. O fim é o meu não desistir. |
Saudade nuaSaudade nua, que se mostra sem pudor, é o coração sem alma. Não consigo parar de morrer. Ser não é melhor do que estar onde nada está, nem a morte. A alma mantém o corpo numa saudade nua. Ver é a incerteza da vida em mim. A inexatidão dos sentidos é o amor. O sol é a demora de viver dentro do amanhecer. O amanhecer substitui o ser em mim. |
Harmonia é encontro de almaA alegria busca um coração, que necessite dela. Não sei se vivi um dia, nem sei o que é a vida. Não se pode manifestar a tristeza, de tão interior que ela é. O sonho é um olhar noutro olhar. O olhar é o irreal transcendental. Mas o ver não transcende. O ver, em mim, desaparece. O desaparecer sem ausência é meu ser sem mim. Sem ausência, não há vida. O ver da alma sou eu. A desarmonia é um sonho. Sonhar é a explicação da inconsciência viva dentro da consciência viva dentro da consciência morta. Não há luto pela morte da consciência, não há perda, há consciência do adeus, que é a alma. A alma ressuscita, agora é apenas uma ideia. Não é preciso uma nova luz para morrer, tudo se renova na escuridão do meu ser, da minha morte, grita mais alto do que o silêncio. O sonho morre comigo, não em mim. Morrer é mais essencial que ter fé. Ou será a fé a morte? O vazio não pode ser preenchido. Nem o vazio de Deus precisa ser preenchido. O vazio é o que é sem mim. A distância do vazio é uma alma que fala, reage, ama, mas isso não me torna próxima do vazio, da luz da escuridão. Minha escrita é a pausa do meu amor, sou eu me dando a vida. |
A verdadeA verdade é um interior doente, com tanta verdade. O espelho do espelho é a alma. A inexatidão é a única certeza, como o fim no infinito, que fez da verdade, a vida. A fim não é certeza de viver. A certeza de viver é a minha emoção. O fascínio é uma morte sem consciência. A consciência do meu corpo é a alma. Não posso viver de alma. Não posso viver de alma. O corpo é o infinito da imaginação. A morte, poeira que sai do corpo. Deus é um corpo no corpo do infinito. Sem o lado do corpo, fica a morte, o adeus, lado a lado com o corpo é a falta de corpo na alma. A alma é a única palavra que não é só. A verdade da alma é o ser. O ser é apenas para si mesmo. Meu rosto é o inencontrável de mim, o corpo o encontra. O sol é a realidade da luz, não minha. O céu se faz luz na escuridão. É quando percebo que meu corpo é imperceptível na luz, na escuridão, na vida, na morte, no real, no irreal, em mim. |