Blog da Liz de Sá Cavalcante

Aconchego na alma

A sinceridade é o amor da alma, a sinceridade é voz da alma. A alma reconstrói sinceridade. Reatar o nada ao nada, reviver em silêncio a falta do nada, como escuridão. Além da escuridão, carinhos sem alma, sombra em forma de ser.

Realização

É morte. A morte cala o sentimento, mas não consegue se calar em uma realização de si mesma. Uma mancha de amor na escuridão do passado, que será nada. O azul respingando o céu na irrealização do amor, da ternura disfarçada de céu.

Paixão pela vida

A paixão pela vida dando um fim ao tempo. O tempo necessita do fim, mesmo em atropelos. Viver sem vida, em uma realidade inesperada, é o meu amor. O nada é o amor presença. O céu, um amor ausente, um milagre. A tua ausência escapa na minha ausência. O limite do céu é Deus. Vivencio o nada quando estou dentro de mim. Minha alma estala-se de morte para não se contorcer de vida. Minhas mãos são mais que alma, vida, amor. Céu, onde está na vida sem céu? No Sol da noite, na alma do amanhecer? A Lua esconde o ser do dormir, por isso sonho. Sou meu próprio sonho no infinito real. Meu fim é meu rosto no meu sorrir. Sorrir, fim da eternidade, começo de uma alegria alheia a mim, por isso sou feliz. Afastar o alheamento na distância do infinito presa a mim. Meu corpo é apenas um corpo. Eu sou apenas eu. Minha alma é apenas alma. A indiferença da alma comigo faz-me acreditar em mim. Deus não é o fim de tudo, é a minha morte, por isso não tenho fim. O escutar esmorece a fala do instante que fica entre a vida e a morte – e quem morreu fui eu. A vida quis assim, contra tudo e contra Deus. Deus é vida.

Não há luar como a alma (Para pai)

Olhe para mim e morrerei apenas em pensamento. Não há luar como a alma, não há silêncio sem ti. Teu silêncio é minha vida, uma vida que nunca sonhei nem imaginei ter. Você me ama em silêncio para não incomodar os que não amam, não são felizes como nós dois. Teu silêncio é amor, é a minha vida.

No coração da alma

A alma nasce como vida, morre como morte. O céu é um único infinito, o amor são vários infinitos. Vários infinitos são o fim do céu. No coração da alma, o céu tem a cor da vida. O céu é a palavra no sonho de Deus. Perceber é não crer na realidade. Ter Deus para ser irreal é tornar Deus comigo, sendo irreais juntos. Para que o coração da alma extravase minha morte, que minha morte seja vida em alguém. O tremor do coração é a vida voltando a si: sem libertação, amor, perspectivas. Libertação não é liberdade, é uma morte artificial, impura, sossegada. No coração da alma, a morte se debate, faz nascer um jardim. O meu coração deveria ser o coração da alma quando escrevo. Ele escorrega em mim.

O céu do céu

Ampara o céu do céu, das estrelas do firmamento. O tempo demonstra-se em céu estranho. Nada penso do céu. O silêncio é sem céu, é uma paz mórbida, nociva. Nada penetra a paz. Sem paz o silêncio dorme nos braços de Deus.

A doçura em calor humano

A doçura em calor humano distribui vidas. A morte é um corpo, ignora-me no meu corpo, traz de volta minha alma. A alma expõe o corpo ao corpo para falar do nada. Fico apenas nas pontas da estrela da vida, sem encarar o Universo. O fim do Universo é a minha vida, meu céu, meu ar, meu contentamento descontente de ser feliz. O Sol é a doçura do tempo sem calor humano.

A despedida da despedida

Despedida é sem corpo, não é alma. O nada, beleza na alma. O céu é a alma dos mortos. A saudade tem corpo, alma, mas não tem a alegria de uma despedida. O começo, meio e fim são despedidas que se completam. Estou soltando estrelas no meu coração, porque eu amar é mais essencial do que ser amada.

O tempo do nada

A alma é inexorável para o tempo e torna-se o seu próprio tempo. A demência da alma é o amor. Amor são asas que nunca se quebram. A alma quebra-se no fim, no infinito. O sonho é o infinito de mim. Um desdobrar de mim não é real, nem irreal. Sonhos de Sol escurecem a alma de alegria. Penso ver, mas vejo apenas a alma. Ela não me vê. Ela é a única que vê meu amor e o ama mais profundamente, como eu não sou capaz. O coração canta o não ouvir. Não ouvir é uma canção sem tempo, espaço, pausas. Apenas a falta do fim é uma canção.

O amor da vida

Aproximar-me é morrer na realidade de ser. A ausência de linguagem fala, age, estremece: é a alma. O respirar é a ausência perdida, recuperada em um amor sem sentimento: o amor da vida.