Blog da Liz de Sá Cavalcante

Dentro de mim

Dentro de mim o vazio permanece como sendo a sombra da minha ausência. Dentro de mim não precisa de interior, precisa de mim. Mas, dentro de mim, nada permanece, assim nasce meu interior.

Me acostumando ao ar que respiro

As cinzas da saudade são a minha pele, meu coração a bater, pulsar, como respirar nada, que é todo meu respirar. O respirar condena a alma a ser só, como se eu pudesse te buscar na minha solidão, que é todo meu respirar. A vida chegou tarde no meu respirar. É tanto respirar, que a vida não dá conta, respiro meu pensar como se fosse o resto do mundo em mim. Respirar é sem ausências. Eu acalento meu respirar sem o dormir. Vivendo, respiro melhor, como se fosse fácil te esquecer, minha vida. O meu respirar é a tua presença, atenta a mim. Somos somente eu e você, por um respirar.

Vivências

Misturando amor e poesias, não há mais vivência na vida do meu ser. Minha alma, em carne viva, não percebe morrer, pensa que tudo são vivências. Pensar o fim é o infinito, plenitude do corpo. Caos, suplício para a alma. Não há plenitude no fim. A morte é o começo de um olhar, o fim do olhar é a vida. As vivências do olhar não são minhas vivências. A vivência do olhar se perdeu em mim.

O que preciso ser para ser amor?

Quando cessa o amor, o diálogo infinito enche meus olhos de palavras contra a cegueira da vida. Nada restou do rosto sem adeus, restou apenas o contentamento infinito do fim. O amor, expressão que acaricia o rosto sem rosto. A falta do fim, no rosto da vida, é paz que se escuta, se sente. O fim da vida é o ser que esconde o tudo da vida.

A ausência do nada

A ausência do nada é o nada. A ausência se torna ausência sem o nada. A ausência é alma, é coragem, é não desistir de mim. Vivo melhor sem sol, sem ar. Ficando apenas o instante encontrado no tempo, é o sol, é o nascer do sol. A alma sobrevive ao sol sem o tempo. Quando o amor se entrega ao sol, na plenitude do florescer do nada. O amor, espera sem fim, que não espera a morte como sendo o infinito de mim.

Silêncio de vida

A alma não é o silêncio, não se reconhece no silêncio. Saber é uma ausência feliz, penetra na ausência da alma, como uma falta que absorve o silêncio sem alma. O amor rompe o silêncio, faz a alma entrar na vida. O amor não cessa a falta, mas dá um lugar para a falta. Faltas são vidas que não foram perdidas. Não há ser no meu ser, mas há amor no meu ser que fala mais do que o silêncio. Meus pensamentos não podem me fazer feliz. Quero ficar sem pensamentos, como sendo a minha alegria depois do mar, que é apenas saudade, sem olhar para o que passou. A alegria é o mar na imensidão do nada. Tudo que eu podia ser ficou no mar, sem faltas, sem ausências. Não olhar é não dizer adeus, para nada silenciar. Não olhar é me reconhecer como este olhar na falta de mim. A alma não resiste ao tempo sem o seu fim. O olhar se vê apenas no sonho. A realidade não vejo, pois ela já existe. Existe não como realidade, mas como eu a amar.

A negação sem relação com o nada

A negação é o contrário do nada. Negar o nada é tão impossível quanto amar. O nada ama abrindo o céu e desvendando as estrelas. A abertura do céu é o nada em meus olhos. Realiza-se a essência do meu olhar com a inessência do meu amor! A alma quer apenas a inessência das coisas sem amor. O amor é a inessência da inessência. A realidade diminui a existência na falta do nada. Deixar não fluir o acontecer, para que algo aconteça mais do que acontecer, isto é: sem acontecer. A falta de acontecimentos é a vida, mas ela não é monótona. Sinto-me diferente pelas mesmas coisas. Há diferença de um nada acontecer para outro nada acontecer. O amor é onde o nada acontece, iguala-se ao nada, onde não há vida nem eu em mim. A negação é o acontecer eterno que não acontece para a vida, mas acontece para mim e para o meu ser, que agora somos a mesma coisa, o mesmo acontecer.

O que me encanta

O que me encanta não floresce. Morrer é sorrir pela primeira vez. Morte, vai em paz, estou em paz sem sorrir, estou viva. Se vivi em vão, não percebi, percebi apenas minha ausência de sorrir. Sorri sem viver, e ainda assim sorri. O tempo, a vida sorri para o infinito. Eu somente procuro ficar ausente no sorrir eterno, e assim secar as lágrimas de Deus. Nada me encanta: o sol está lindo lá fora de mim. Escrever no meu corpo a poesia que não escrevi na alma. A morte, olhar adiante, prende a realidade no seu irreal. Desejar ser o que já sou é como ter a presença da alma em mim. Ter sede é alma que foi saciada. Como impedir a alma de amar como eu amo? Tem amor que é apenas alma. Como perdi a vida numa ilusão? O que a ilusão tem que a vida não tem? Pássaros no ar da alegria. Pássaros voam como alma. Nunca deslizei sem voar. A lembrança é uma ilusão: ilusão de reconhecimento.

A alma da inexatidão

A alma é o negativo do ser. O amor faz que tudo permaneça no nada da alma.

Iminente (que ameaça se concretizar)

A morte não acontece porque quer, acontece sem o acontecer. Tento mover o corpo sem o corpo, é a presença da alma, estagnada de tanto sentir. A alma dá vida ao meu corpo, que não existe mais.