Blog da Liz de Sá Cavalcante

Insensibilidade do sensível

A realidade do sonho é o nada da sensibilidade. O desespero é sensível à alma. A essência não é uma qualidade: é ver nas coisas mais do que as coisas. As coisas são a essência da essência. A vida é complexa como um sol a sair de dentro de si, a respirar nuvens. Respirar vai além da luz, da saudade de viver. Mãos respiram só. O isto ou aquilo é a negação do ser. Negar é esperar por algo que não precisa ser para mim. Chorar não é negar: é sentir a dor de realidade. Se nega a realidade em ser feliz. Apenas o olhar vê a realidade pelo ser. Respirar cansa o pensamento. Sou iniciante em respirar. Preciso ser ou sou essência? Penetrar na morte é me despedir da morte. A impermanência da alma, é a falta de mim: me faz companhia. Como socorrer as lágrimas de mim? É difícil ser o fim do meu sofrer. Sofrer é a alma feliz. Alegria é um segredo que o tempo não perdoa. O eu, ausência de mim, é a vida. Com a vida ausente, posso sonhar. Meu sonho ausente ou presente não é a vida. Vida, torna-me luz.

Abismo de luz

Nada se compara a uma tristeza bem vivida. Nasce um abismo de luz, de dentro de mim. Um sopro, uma voz, uma ausência me fazem viver. O outro é a vida que não tenho. Abismo sem luz é o mesmo que vida sem morte: é triste, penoso. Se não calo minha voz de poesia, minha ausência me escuta como alma, me faz falar poesia. Poesia, me diga quem é, mas sem me fazer viver. Mas sempre a nascer no abismo de luz. O abismo me conforta das flores do tempo. Consertar o tempo na realidade de viver. Não há o que chorar sem poesia: a poesia é o único sorrir, a única lágrima que não estremece de amor, pois é amor. O amor falta a realidade. A morte depende das coisas vivas, como o renascer das trevas. Renascer me separa das vísceras da morte em uma relação visceral. O abismo de luz se afasta das trevas de luz. A morte não afasta o ser da luz, da ambição de viver. Viver é ser sempre. O sempre na luz é o nada. O nada me emociona, da mesma forma que a vida me emociona. Haja emoção! Tudo que vem da palavra me interessa: pode ser um grão de areia no deserto da saudade, vale a pena: é reviver o nada num sorrir de tudo.

Resíduos da alma

Viver unidos no nada é fácil, difícil é na vida. Resíduos unem na alma, o que antes foi apenas amor. Ver o ver em mim é não ter alma. Pela alma vejo as coisas percebo que não estou só no que vejo. As coisas me veem pelos meus olhos de alma, me fazem viver. Meus olhos de alma incertos de ver, significam a vida por ver.

O respirar ausente

O que sou para o nada? Um respirar ausente? Não é possível que o nada não sinta meu respirar. Se o meu respirar ofega dentro de ti, me ame. É a morte ou o respirar de verdade? Ainda me escuto: pode ser apenas a ausência da minha vida, pode ser minha respiração, pode ser eu a falar da minha morte. Falar da minha morte me faz sentir menos morta. A transferência da realidade para o sonho é a perda da alma. Perde-se o sonho na eternidade do corpo. A eternidade do meu corpo é sua sombra em mim. Mostro com a morte meu olhar, mas não lhe mostro meu fim, minha essência. Minha essência é minha incerteza, me faz amar. Meu fim nem a morte conhece. O agora é sem vida, é plenitude. A alegria que vem da morte é interiorizada: não é um respirar ausente. Não tenho condições de respirar: respirar é tão forte, frágil, é presença. Me escapa em céu de amor, que também é agonia. Respiro, não sei o que estar viva: o corpo não respira mais, a alma respira. Voltar ao passado não me faz ter alma. As brechas de luz são o sol, a vida. O silêncio aquece o sol. O ser é a única essência vazia. As lágrimas do vazio são a morte. O respirar ausente me ensina a falar, a amar, a viver.

O silêncio da alma

Não dá para esquecer o nada no silêncio da alma: expulsou meu ser de mim, sem silêncio, sem palavras, me abandonou. O silêncio boia nas palavras. As palavras não conseguem sentir, ficam a boiar no nada. A superfície do céu é o mar. O sonho das palavras sou eu escrevendo o céu sem as palavras até as palavras se tornarem céu. As minhas mãos moldam o céu de palavras com meu amor. Escrevo pela existência de um único instante em que vivi: por escrever. Escrever é infinito: é o único instante em que vivi: sem corpo, alma: apenas eu por mim. Não importa se vou morrer, e sim, o quanto vivi, e ainda vivo.

A sombra da alma

A sombra da alma é a inconsciência da vida em um sol infinito, triunfante. Desde o início fui o fim da vida, no teu sol encantador: de abandono, solidão. Solidão é areia a dissolver o tempo para nós. Viver no tempo não é ser feliz. A falta é a eternidade. A falta que me faz a falta é quando sorrio. A vida tem sabor de nada, se perde numa fala de amor. O amor vem até o ser apenas na falta de ser, cessa a ausência do ser, que é a morte. O ser sem a morte está perdido em um infinito vazio. O nada indestrutível no amor. Não existe consciência de falta, por isso, a falta é consciência. A consciência pertence ao nada. Sorrir é o nada na minha angústia. O medo de me angustiar é angústia com vida. Não há alma sem sombra. A alma é a falta do ser no ser, não na alma. O silêncio é falta de alma. O silêncio é o ser no que ele não é. O meu ser é afetado pelo silêncio, numa alegria silenciosa, incomunicável. Comunico-me em sombras de alma, para me refletir no nada como sou. A sombra da alma foi enterrada com o sol. O permanente não tem a permanência do sol. A vida sem vida é permanência: faz tudo durar. Até pareço fazer parte dessa permanência sem mim. A poesia é permanência do céu. Mas há céu na permanência? Apenas não permanecendo, saberei. Permanecer é a arte do desencontro. Me encontro na impermanência. A impermanência da flor é a própria flor. Queria ser a minha própria impermanência. Queria te ver de flor em flor, de sonho em sonho, mesmo sem saber se te amo. O amor sabe menos do que eu. Não há o que saber do amor: saber é ilusão. Escrevo mais do que vivo. A liberdade é uma ausência pura: não adianta escrever: já saí de mim. Tomei a vida de mim. Não há alma viva em uma poesia viva. Meu corpo é por onde fico a fugir do mundo. Mas há um mundo de fuga, do qual não quero fugir. Morri, mas meu nascer é eterno, onde cessa a sombra da alma, e a alma é apenas alma, para a minha alegria de morrer.

O real do real

Amo o nada: é o transcender da alma. A morte é esperança. A sombra dentro do corpo é a morte na alma. O céu se destaca em sol. O sol apaga o céu em estrelas. A ausência de morte é morte. Não há ausência sem morte. Não há Deus sem a vida. Deus é vida. A genialidade da morte dispersa o mundo na vida. O futuro é o ser a existir. O ser é diferente da morte, do teu adeus. Nem o céu é das estrelas. A morte do silêncio emociona a vida: faz nascer palavras sem a fala. O silêncio não morre nas palavras. As palavras definem o meu ser. Não vivo nem sonho, transcendo no nada, sendo uma poesia que ninguém sente ou ama. Há mundos que não pertencem à alma, e sim ao ser: são mundos tristes. Nada é feliz sem a alma. Eu falei com alma. A indiferença é a única realidade. Renascer é falar com a eternidade da alma. Ela morre, ainda falo com sua morte, e sinto a alma viva. Tão viva em mim, que me faz viver. Ela me deu a vida que não possuí.

Absoluto (realidade suprema e fundamental independente de todas as demais)

A lembrança escapa sem amanhecer. O sopro do esquecimento é ventania das lembranças, asilo da morte. A sinceridade são lembranças que permanecem na alma. A vida torna a saudade vazia em beijos da minha voz. Minha alma, meu ser escutam com amor. Quero morrer falando sem a solidão da vida. É difícil viver, fácil morrer. Morri como uma vela sempre acesa no céu da escuridão.

Visão perdida

Pela substância a substância é uma visão perdida, como se fosse alguém em mim. A permanência é ver o que está ao meu lado, apesar da minha ausência, minha percepção de amar, não é ausente: é a minha permanência em mim. Perceber: sou eterno no amor. A visão está perdida no mundo. Meu olhar espera ver algo além da realidade: a minha tristeza. A morte é igual à vida, sem nenhuma visão, nem mesmo a perdida. A visão perdida me salva dos males da vida e da morte. Morte é olhar para a vida e nada poder lhe falar. Morte é ver a vida sofrer. Sofrer é ver antes de ser o que sou. Ver é perceber. Não vou saber o que é viver antes de morrer. Não vou parar na eternidade: quero mais. Quero a dança das flores nas minhas poesias. Minha visão será recuperada pela dança das flores. Flores são a presença de Deus no nada da vida. A vida pertence a Deus. Sou uma maneira de deixar a vida em Deus. Deus é um amor sem lembranças. O ser aparece apenas na sua morte, é presença eterna. Perdi a transcendência para o mundo, a vida nada fez. Mas as flores continuam a dançar nas minhas visões imperfeitas. Dançam minhas poesias, me devolvem a vida. Minha visão foi perdida, estou feliz, ela vai voltar e verei tudo como se fosse a primeira vez.

Esplendor da dor (luminosidade intensa)

A distância é o tempo. O esplendor de sofrer é o tempo. O amor é sem tempo algum. A permanência que eu tenho de ser, é a permanência da morte. O passado é a permanência do tempo, sem a morte. O passado é o tempo eterno, não sai de mim. Deus não está no tempo, nós o levamos ao tempo para se despedir de nós mesmos, sendo eternos para Deus. A paz encontrada é a paz deixada em seus abraços, vida. Esqueci a vida ao abraçá-la: em mim, ela é apenas esse abraço. Apenas isto me importa: ser abraçada com alma, sentir a alma da vida. Até morrer!