O ser não pode se negar, isso já é uma negação. Dou vida à vida. Não sofro a vida. Não sofro a vida perdida, tento vivê-la, torná-la importante, essencial. Tudo se faz sem a vida. Eu escrevo ausente de vida, sem vida. Não consigo viver como um ser, estou perdida no ar que eu não respiro. Vivo como sendo o respirar da vida. Faço a vida viver, mas não me faço viver. Viver é triste, é chuva que não desce a terra. O sol torna a terra só. O ventre da chuva é o sol. O tocar deixa o corpo vazio, ao plantar a semente da morte. Se a morte define o ver, como o olhar é vida? Sou esquecida por mim ao ver a vida. Vida, o que sou sem o teu corpo, tua alma? Eu não te vejo. Ao escutar o mar, pareço te ver. Pode ser apenas um aparecer para mim, ele é real, como se minha sombra se movesse na vida, em vez de ficar parada esperando por mim. Esperar é morrer, não ter o que viver, ter apenas o que morrer. A consciência me separa de mim. Consciência é morte. Sorrir é a única consciência de vida. O céu me sorri sem precisar ter consciência. A consciência da vida nunca foi descoberta. A vida tem consciência. O céu é o buraco da morte. O céu morre de estrelas. O escurecer do céu se torna o branco do nada. Onde a eternidade se preenche no céu, como um oceano em gotas. E o céu, pendurado em Deus, não cai nunca. O nunca é a solidão do mundo. O mundo é a falta de solidão de Deus, por isso, precisa haver um mundo sem vida: Deus. Deus em silêncio sem silêncio é o mesmo Deus. O que ele sente? O que é Deus? A única resposta é sentir, nunca explicar. Explicar Deus em Deus é impossível, mas posso explicar o quanto o amo o amando. A vida cessa, o meu ser morre, mesmo assim, sou eterna em amar Deus. O céu parou para ver Deus. Tenho olhos, não vejo Deus. O escuto sem o silêncio da vida. O escuto nos gritos aflitos do mundo. O mundo sem a vida é silêncio exterior a mim. O exterior do exterior é o nada. Ver o nada como real é ter o mundo nas mãos. Nunca tocar o nada para torná-lo irreal, é onde o corpo tem vida. Me sentir não me cansa, nem a alma. Um corpo sem pele é a afirmação de se viver.
Negação |