Blog da Liz de Sá Cavalcante

Simplicidade de amar

A descontinuidade da vida é o meu olhar de sonho. A impermanência, alma que permanece. A permanência das coisas, do amor, dá vida à vida. Se o amor não sentido por mim, emocionar a minha alma, estou viva, a enaltecer a vida. O sonho não quer que eu viva. O sonho é a ausência, não se define em vida. Vidas não são eternas, suas ausências, são eternas. O outro de mim mesma é a alma. A beira do abismo é descobrir a alegria de não ser. Nada necessita existir. Não precisa. O mundo tem as próprias coisas no mundo. Nada precisa ser colocado no mundo. O mundo não foi permitido pelo ser. É mundo, indo contra o ser. O nada é no amor, mas é imperceptível no amor. O amor desconfia da realidade. Apenas amo, sem pensar na realidade, nem mesmo na realidade desse amor. Essa incoerência não é amor pelo amor. É apenas eu no fim de mim, num amor absolutamente imaginário, enfim, nada há a imaginar, além de saudades reais, que se confundem no irreal dos meus sonhos.

O amor da ausência

O nada levanta o corpo do precipício do infinito, nada no corpo é alma. O nada me faz viver. O tempo do céu é o ser, o tempo do ser é Deus. Deus não é ausência do meu corpo, Deus, é ausente de si para amar a presença humana. Deus é a humanidade, é o céu, o sonho, o que eu quiser e puder amar. A distância de mim, é o nada. Lembrar de Deus o afasta de mim. Ele pensa em mim no impensável de mim. Tenho medo de não ser mais eu ao morrer, e a sensação de viver, continuar. Não sou eu nem é o não eu. Acredito no impossível de vê. O amor da ausência morre no meu amor, perto de mim. A morte é a reparação do nada. Tudo se modifica na falta de morrer. A ausência, mais pura que o céu. Imaginar une a ausência do céu com a ausência humana, faz nascer a vida sem a vida imaginativa. Um soluço de estrelas escurece o céu. Não vou ficar entre o céu e a consciência. O amor da ausência é minha consciência. A distância é morrer.

Autenticidade

Não existe um estado de mim, existe minha morte, sem autenticidade. O mundo não é minha saudade, é a falta de mim no mundo, onde te deixo. O mundo reduzido em palavras finitas da eternidade, na eternidade. O som sem o fim é o silêncio dos mortos na minha vida. Querer é sonhar. Sonho fora de mim. Sonhar é o desencanto da alma. Sorrir e minha alma se eleva ao céu. A alma é uma forma temporária de ser, na existência de espaços vazios para preencher o ser de incertezas. O tempo, a vida, não escolhem suas realidades, elas os escolhem pela diferença de ser. A alma sonha apenas no tempo da alma. A preocupação da morte é se há tempo depois da morte. A eternidade é o resto do tempo na pele no suspirar eterno. O tempo sem pele, origem de tudo. A pele mantém a vida e a morte. A angústia é a definição do nada na morte, por isso, não vou tomar a morte pra mim. Ela não tem a liberdade de ser de alguém. A liberdade do pensamento é morrer, a minha liberdade é viver. O céu se inspira na realidade do mundo, para me amar, com toda a sua vida. O nada falo em poesias. O tempo é irreal. A irrealidade do amor, é o tempo real. A autenticidade da perda, é a vida bem vivida na perda. É a vida como ela é. O silêncio é depois da vida. O viver do silêncio é o meu corpo em mim. A vida no esquecer é o meu corpo submerso na alma. O nada fora do meu corpo é alma. Fecho os olhos dentro do que vejo, me entrego ao amor que sinto, renuncio a mim pelo amor que sinto, ou devo sentir. Está escondido, numa tristeza, sem senti-la. Ensino a alma a ser eu. Sem saber viver. Elaborar essa dor é dar vida aos fantasmas dentro de mim. O corpo não me serve para viver. Mas, vida, é a união do corpo com a alma. Ao me tocar, me esqueço, deixo de existir.

Sublime

O puro sentir é a morte. Ela me observa sem olhos. Tento morrer como, se eu não vou morrer? A desgraça da morte é morrer só, sem o abismo de conviver. A morte não morre só, e sim no meu corpo. É melhor do que um corpo: não pesa no meu interior.

Minha condição de ser

A tristeza é o meu sonho de ser. Só, sem tristeza, olhos abertos para a morte, para essa intuição do infinito no mundo, sem o mundo das estrelas, para ser só. O sol me une em estrelas. Estrelas fazem bem a alma. A alma necessita mais de estrelas do que de sonhos. Sonhos, eu invento, estrelas não. O nada justifica as lembranças sem as reconhecer. Escrever faz nascer estrelas, me faz sempre me sentir nascer. Nascer para o sempre de não nascer. Há meu nascer me impedindo de amar, ser feliz.

O abraço contido na dor

Nenhum momento é perdido se se pode morrer, se se tem alma. A não pele não é o nada, na pele, é o tempo, em pele de esquecimento. O que existe dentro de mim é algo apenas meu: sem pele, cheiro, lembranças, mas é amor. O nada são lembranças de alma. Alegre sai de mim, em um abraço contido pelas lágrimas. Uma vontade irreprimível de ser, estar, onde me despeço desse abraço, feliz por este abraço.

A descontinuidade da vida

Não esqueço por ser eu, esquecer é alma, para haver a descontinuidade na vida, na continuidade de ser. Saudade de me despertencer, numa realidade infinita. O céu desaparece no meu amor. Tudo é real sem mim. Em mim o real é apenas minha alma. O céu morre no vazio de mim. Nada é fiel na morte. O sentir é vazio. O nada sente o vazio na sensação de pertencer. O não pertencer é a alma. Conviver com a morte é o meu corpo morto, não ser esquecido por Deus não é apenas uma lembrança para Deus, meu corpo vive nele, como a poesia que não pude escrever para Deus, ela foi escrita em seu amor. A fragilidade é o infinito, se doando de amor. O tempo, refém do infinito, ama em único adeus: o sempre o jamais.

Impulso

Não sei se é a alma ou o nada, sei que transformo meu impulso de morrer em saudades infinitas, em vida, solidão. O ar, tão puro de tristeza, cessou minhas ilusões. Não quero desaparecer como quem morre. Quero aparecer como quem morre. Assim, não há o sentir, há apenas o aparecer e o desaparecer, mesmo assim, sinto saudade, uma mistura de vazio com amor. A saudade sente falta do nada, da ansiedade de ser só, como a chuva no vento. Por isso, em nenhum momento fui só, pois não há amanhecer, nem nas minhas poesias. Sonhar é o sol triste no meu sonho, no amanhecer da saudade, não amanhece em mim, faz das respostas esperança. É a esperança que não me deixa viver na minha imortalidade de saudade, enfim, a falta de destino é amor. Impulso de ser feliz.

A luz de eternidade

Surdez que ninguém percebe, na voz da alma: luz de eternidade. Sonhos são apenas o passado, o não esquecer, que não é lembrança, é o porvir, é o nada se vendo no espelho, é a luz do sol. Lembrar sem ausência é esquecer. Esquecer é agir, não deixar para o depois inexistente. Há mais luz na esperança do que nos meus olhos. O fim da tristeza é a dor. Olhos nos olhos no meu esquecer. O nada não justifica ser ausente. Sou ausente por sentir a alma. O nada da alma é o não ver indefinido em náuseas do ver, do esquecer abominável da solidão. Criar para a inexistência é um sonho, um torpor, a me fazer viver.

O que sou?

O nada são pensamentos sem morte na absolvição da vida. O que sou, se não sou uma lembrança tua? O que faço para lembrar de mim em você? O nada é a inexistência do ser, em um repouso de alma, em sonos de alma, sem dormir na alma. A morte é a certeza de que há um depois de mim, onde sou eu sem ser, sem medo do que eu possa sentir. Sentir é o partir da alma sem a lembrança de partir. O que sou é apenas o depois de mim, num aparato de mundos e almas. Um silêncio de alma entre o mundo e eu, a perceber a dor da inexistência da vida, na existência de morte. Existindo ou não existindo, não há realidade no amor. A falta de existir e de não existir torna o amor real, na falta do depois de mim. Lembrar é deixar de amar? O que fica em ti é a falta de mim, não a falta de nós. Esmoreço por não morrer. Não sei se amor é um castigo. No ser da alma, há amor no meu corpo, no ser de mim, apenas desilusão. A ausência compartilha vidas, um dia, terá meu corpo como sua alma.