Blog da Liz de Sá Cavalcante

O som do sol

O som do sol me despertou para a beleza, a raridade do nada, que afina o som do sol, com a vida que não possui. Possuir a vida é o nada sem som. O som do sol se confunde com a realidade de ouvir. A realidade de ouvir não é a realidade do som. Ouvir o sol é a ignorância da realidade.

O nada inconfessável

Como confessar ao nada que ele não existe para mim? O nada se faz mar. O nada tem vários significados: vida, morte, sonho, ausência, presença, mas nenhum satisfaz o nada. Alguns nadas entram dentro da alma apenas para sair. Alguns nadas não ficam, mas continuam na alma. Perdoe o nada, se ele não consegue ser o nada em suas vidas. Não vejo a vida, vejo o nada na vida. O silêncio destrói o nada. A alma nasce da alma, mas é livre apenas se nascer sua alma do mar. Da alma do mar: realidade infinita de ser. Essa realidade infinita, é como pensar pelo mar.

O céu do céu

A natureza do ser é distante do céu. Universo é a proximidade do ser com o céu. Tudo é feito de céu até o amor, não sabemos usar as coisas, como se elas fossem simples coisas. Não sei, por isso quero o que não sei, pois não faz parte de mim, faz parte da minha tristeza. A tristeza é feita do que falta ao ser: alma. Que alma eu daria a minha tristeza? O depois que é alma e espírito ao mesmo tempo. Sou feliz como o amor que me falta. O céu do céu é uma maneira de me afastar de tudo. Deus não está no céu, está em mim. O céu é a minha tristeza por existir. Existir é o céu do céu.

Toda a minha energia

Toda minha energia é o nada, não precisa ser triste lá fora. A mágoa é paz do espírito. A vida não merece o sol de cada dia. Vou recompondo a poesia no desmantelo das palavras. O tempo vive do não ser. Tempo são palavras que brotam como um amor eterno. Tudo que amo é esta falta, o amor é o não eu em mim. Pertenço-me no não eu, que também sou eu. Nada mais será eu sem o meu não ser.

Ir além do céu é o mar

Eu dou vida à vida. Vou descer o mar ao céu pela inessência do belo. Beleza não sobrevive ao interior. Achados, supor, são perdas. Perdas são o mar no céu. Não existe céu de palavras para representar o nada. Por isso, nada posso fazer pelas palavras, faço em palavras. O olhar do céu chega em poesias. Sonho, depois amo, como um mar de palavras, a acender o sol. Depois do sol, a vida. Vida, seremos fortes para sempre, nada nos destrói se nos destruir, seremos como esse céu, clandestinos, que são almas que não duram, e onde o corpo é eterno, feito de mar. O amor não é o mundo visível. O invisível é a essência do ser. Deixo a essência sair das palavras e chegar ao coração. A saudade é paixão do perdido pelo amor. Manter o perdido unido à vida é amor. Apenas o céu e as estrelas sabem como vivo: com meu coração no mar. Por isso, não quero ir além do céu, quero apenas ser o destino do mar, navegando do infinito da falta de mim.

Dormi na alma ainda sendo eu

A falta de ausência me fez dormir na alma. A alma cessa a ausência lhe sorrindo. E assim, a alma cessa a ausência. O sol dá presença, modifica a ausência em ausente. O sol é sem ausências. Não existe uma presença na outra, existe o amor. O sol recebe as ausências sem a presença do céu. Sente-se essencial para a ausência, no outro céu: o céu do infinito. O céu finito é autossuficiente, não precisa ser importante para a ausência para ser céu. O céu é o ser dormindo na alma.

Fragmentos da alma são estilhaços de chorar

Mãos vazias, deslizem na vida áspera, como sendo amor. A quietude do amor sacode o mar, expande o universo. Mãos vazias, curem a vida da morte com o seu vazio. Vazio, espere pela esperança, como se ela fosse tua alma. A única coisa que resta do vazio é a esperança: alma, que apareceu apenas no vazio de mim. Se eu tornar tudo abstrato, minha morte será apenas abstração da alma.

Céu de lágrimas

O sufocar sem ausências é a presença do céu de lágrimas, ou será céu em lágrimas. O céu de lágrimas é por onde a alma são lágrimas do céu. Tudo se encontra no céu. É muito monótono uma alma toda minha, sem poder dividi-la com outros. Para a minha alma, ser só é compartilhar amor com outros. Os outros a tornam só. A luz embriaga, entontece, sonha comigo, onde não há escuridão. Mas a escuridão não abandona a luz, mesmo na sua ausência. A esperança morre de luz. Pensei que iria morrer, estava feliz ao contemplar uma luz sem esperança. Feliz, pois as minhas poesias são eternidades para mim, para minha alma. Não preciso de esperança, preciso viver este algo a mais, que não está na vida, está numa morte de transcendência não existe. Posso ir além de tudo, não posso ir além do meu vazio, da minha existência, que existe mesmo sem a vida.

Alma nua de saudades

Saindo inteira do meu corpo, sem recorrer aos pedaços deixados sem o meu corpo. Meu corpo é minha realidade espiritual. Vem para o meu corpo, morte, para eu perceber que não sou apenas morte. A busca da perfeição é morrer por morrer, apenas. Morrer com a alma nua de saudades é ter a alma perto da morte, sem ruído de solidão. Para o ser tornar minha consciência tem que morrer. Pelo meu corpo, não tenho raiva da vida. As faltas preenchidas pela morte são o amor de amanhã, sem perdas, arrependimentos, fico apenas com a sensação de continuar. O mar sabe onde me levar, sem a minha aproximação de estar perto de algo, sem as minhas sensações. A alma, sedenta, bebe a si, sem ter sede de mim mesma. A alma se encanta com suas vertigens fugidias. Fogem como se fossem o céu. O céu demora existindo. Demora em mim, sem existir. A existência destrói a alma, eu não consigo me destruir. Existir é como se afogar na alma. Alimento-me de alma. A alma é a distância entre mim e eu. A alma não é uma verdade, mas é como se fosse, vivo dela. A verdade é a falta de alma, que brinca com a alma de separação, mas já estão separadas. Separar a alma de si mesma é ter origem de alma. Origem não é o ser. A origem é a falta de ser, na falta de alma. Sou a origem do nada que não modifica a alma. O nada nada pode contra mim. O nada, sem paredes, não é o nada. Tudo sem alma dá prazer. O sonho é um meio de ganhar perdendo. Desistir é não ter alma. Alma é luta, devaneio. Vou lutar por mim, mesmo que isso seja matar a pior morte, é aceitar o desamor. A morte está nua, entregue a mim, para me matar. Ainda vou ver se tenho um olhar, mas não me preocupo, a morte vê por mim, me diz como é meu interior, não consigo visualizá-lo. A vida diminui o pensar. Quero pensar com a vida. Não percebi minha alma nas poesias, em mim, mas na morte. O infinito é a pior morte, a pior poesia, não posso amar o infinito como o conheço. Está no meu respirar, o conhecimento do infinito. Tudo que eu posso, posso pelo infinito. O corpo é infinito em sua dor. Mas a dor do infinito é maior que a dor do corpo. O que me separa do corpo é o corpo. Não escuto o que escuto, mas sei que a morte está aqui, no barulho do vento, no silêncio que escuto, como se fosse o vento a falar comigo. Eu posso morrer, mas o silêncio não. Morrer é dar vida a outro alguém que não seja eu. Consigo dar vida a alguém morrendo. Apenas dessa maneira é possível. Anestesiada pelo espírito da morte, notei que este é meu lugar, esta é minha vida, e continua sendo apenas minha, na minha morte. A morte tem mais estrelas que o céu.

Pertencer sem a vida

Nada de me esconder, vou aparecer, mesmo sem a vida. O nunca vai nascer das entranhas pelo enclausuramento, sou do mundo sem o mundo. Mundo não é vida. Bebo a morte, pertencendo à vida. Abraços prolongam minha vida, abraços cessam, o amor fica. Corpos persistem, mesmo mortos. A consciência do corpo não morre: o que morre é a distância de Deus. Tudo que eu devia ser não sou mais, mas ainda tenho a presença de Deus em mim. Não posso matar meu sorrir, posso matar a mim. Os heróis da vida estão sozinhos na alma, mas não duvidam que exista vida, mas não se acham dignos de viver e, assim, encontram a si mesmos, sendo apenas alma. O corpo é incompatível com a alma. Não vou morrer pela alma, vou morrer pelos meus sonhos. Meus sonhos não sabem que existo. O segredo de ser é um sonho. Voltarei como um sonho, nos braços do nada. Carregarei o sonho com o sonho a me levar. Não há nada entre mim e a alma, estou só, como se pudesse pintar o céu. O céu pode ser de várias cores, a vida pode ser de várias maneiras. Reinvento-me em vidas desconhecidas, que podia ser a minha vida, mas é minha segunda vida. O que vivi hoje nunca acaba, está em mim. Mas o que morre em mim não continua, acaba, pois não está dentro de mim.