Ficar na sua alma, no adeus de mim, é minha imagem. Ultrapasso a morte ao morrer. Morrer é um estado temporário do espírito. Ao morrer, sobrevivo a mim. Ficar na sua imagem, renasce minha imagem para eu morrer.
Me defino sem imagem |
Me defino sem imagemFicar na sua alma, no adeus de mim, é minha imagem. Ultrapasso a morte ao morrer. Morrer é um estado temporário do espírito. Ao morrer, sobrevivo a mim. Ficar na sua imagem, renasce minha imagem para eu morrer. |
A imagem é o indefinido de mimMeu grande erro foi não perceber que a minha dor é imortal. Tentei sufocá-la, matá-la dentro de mim. Meu corpo, minha alma, são reservatórios de dor. Minha dor é minha imagem. A vida sobrevive ao ser. Tudo já foi vivido na vida: sem saudades: essa é a razão da vida, de viver: morrer. Apenas morrer. O silêncio cobre a morte de poesia para eu não me afastar da luz. |
A criadora e sua criaçãoSou criadora e criação. Meu ser cessa onde começa a vida. Nem o sonho pode traduzir a vida. A vida nunca será um sonho. Não crio vidas, crio sonhos. Meus sonhos despertam o céu. O céu não desperta os sonhos. Tudo sonho, nada sou. Escrever é desconsolo da alma em mim. Escrever é o meu fim. O fim é o que me resta. Sem o fim, a vida seria insuportável, perfeita. Acabar com o fim é meu fim. Eu sei do fim que preciso ter. Tenho necessidade do fim, mas não faço dessa necessidade a minha vida. Minha vida é ausência, é o fim. A percepção da vida é sua essência. As perdas são o meu amor. Por isso, não perco o amor verdadeiro. Amar não é verdade: é ilusão que abranda o coração da vida. Eu perdi o meu ser para a minha criação. |
Minha vidaMeu ser não engana a si mesmo. Meu ser é o começo da minha vida. A vida é mais essencial do que o ser? Apenas a alma tem a resposta. O infinito é pouco para a vida. Nada há para morrer. A vida não percebe ser só. Sou só na vida. O fim sem infinito é o ser. O ser é o fim de si mesmo, mesmo sem morrer. O ser no espírito é a vida da alma. Meu ser cessa na imaginação, por isso, a existência não é mais só como antes do meu fim. Fim são recomeços de alma. Mas a alma não fez do recomeço vida. |
Me realizandoMe realizar não são realizações, são poesias da alma. O sol não se contém nas minhas lágrimas, que torna o céu flexível, como se fosse voltar para mim. O céu se maquia em Deus. Deus é a maquiagem do céu. Não há céu na minha solidão. |
O arrepio da almaA natureza é a morte no arrepio da alma. O sentimento acusa a alma de nada sentir. A alma lhe diz que não conhece seu sentir, não penetra seu sentir. O sentir é a vida que não possuo. Sentir é algo pessoal, não se pode dividir com ninguém. É um absurdo viver. Vivo no nunca mais. Ninguém vive como eu: na entrega de um adeus. A entrega de um adeus é a vida acontecendo. Nada é alma, é apenas arrepio da alma. Sonhos são almas que não se realizam. Sonhar é o adeus da alma. O céu se despede ficando entre uma vida e outra, um ser e outro. A dúvida do céu são as estrelas. O céu existe sem estrelas. Não existo sem mim. O céu depende do olhar de Deus para existir. Não espero, vivo. Vivo no que resta de mim. Rastros de mim, no meu amor. O branco do céu, a procura das nuvens me faz perceber a realidade, me realizando nela. Não desabo no abismo da realidade, me faz querer sonhar: o sonho pode ser sonhar ou pode apenas olhar o infinito, como se sonhasse. |
Sinestesia (associação de palavras que ocorre em sensações diferentes numa só impressão)Incorporo a vida como se não existisse morte. A sensação ao morrer, é a essência da vida. A morte é a única impressão da palavra vida. A pele se faz corpo na alma. Não posso viver apenas de alma. Morri tanto, não posso morrer mais. A vida da minha alma não é a mesma vida minha. |
A fala da poesiaA vida não tem sequência nem na fala da poesia. Meu corpo morto está dentro de mim. Não há nada entre mim e o que sinto. A falta de amor me faz sonhar. A saudade, eu isolo nas minhas lágrimas. A sensação é uma alma que nunca nasce para viver o luto do vazio de mim. |
Me ilumineMe ilumine na chuva, no sol do anoitecer. Me ilumine para eu aprender a me perder de mim: é o que falta na escuridão. O céu nunca escurece: anoitece como poesia da escuridão. Nada é melhor na luz. Amor é escuridão. A escuridão é a alma no amor. A luz é imaginação do amor no desaparecer sem alma. Ter alma para não dizer adeus é morrer como luz. A luz não é minha imagem. A luz é um passado sem imagem. O contrário de ser é a imagem no fim do meu ser. Preciso morrer para ter uma imagem que se torne eu. É fácil iluminar-me de coisas vistas apenas por mim. Minha voz é uma imagem, mas tentar ser essa voz, ela desaparece no amor em que a sinto. Para morrer, tenho que resgatar a vida. A morte não deixa atrás de si o ser. O ser está na frente da morte e atrás de si. |
Quero teu corpo na minha alma, no amor de serMorri sem a escuridão a iluminar, me chame escuridão, quando não conseguir me chamar. Estarei dentro de ti: essa é minha morte. Se estivesse dentro da minha morte, seríamos inseparáveis por morrer. Morrer é essa distância que dura, me separa, unindo-se a mim. Quero teu corpo na minha alma, como a sombra da minha ausência, como resíduos de mim a existir por ti. O inteiro são pedaços alheios, isentos de mim. Os meus pedaços modificam a vida em amor. Amor não tem o cheiro da minha pele. A morte é o cheiro da minha pele. A alma da pele são suas entranhas. Conviver com os mortos me torna um ser em mim. Deixo meu ser sem conviver com os mortos. Quero teu corpo como minha morte. O sonho de morrer é vida eterna no mundo, no ser. Não acredito em ser. Tudo me invade. Ser só é minha certeza. Não sei onde estou em mim. Mas estou em mim. Que a falta de amor me salve de mim. O concretizado é infinito, mesmo sem o corpo encontrar sua morte. |