O que falta para o amor ser amor é apenas morrer? Assim, seria fácil amar. O amor necessita da alma, como necessito de mim? A alma tem apenas a vida para amar, a alma não pode me amar, não quer me amar. A miséria da humanidade é o amor. Amar, maldição de uma alma, que me olhou nos olhos, aprendeu a amar. Posso me sentir diferente do que sou, de como me sinto perante mim. Se eu sentir sem mim, como não sendo eu, como saberei que o eu que fui um dia era eu, que pode ser eu hoje? O passado, o agora, o depois, é uma maneira de ter a alma perto no tempo da alma. O ser não tem antes, agora nem depois. Não procuro o tempo da alma em mim, se tiver que acontecer, vai acontecer, o tempo do tempo é o ser. Quando o tempo da alma acabar, vou morrer. Vivo no tempo da alma, como se eu despertasse um sol sem sol. O tempo é a falta de imagem da vida. A imagem da vida não tem tempo. É incômodo viver. Fiz do tempo o meu progresso espiritual, penso na solidão, não penso em mim, no que estou a viver de solidão, sem o silêncio do pensamento. Para o que resta, desejo a solidão de um olhar para o amor. Quem se vê como um olhar não é nem o olhar de si mesmo. Ser o olhar de outro alguém não significa que existo noutro alguém. Ver é saber a diferença do olhar para a vida. Falar com o olhar é desejar o desejável. Acreditar me realiza mais do que a fé. Fé é não acreditar em nada do que vivo. Que morrer significa fé? O mundo exterior é o amor, o mundo interior é o ser. Amor é expectativa da vida, não minha. Meu olhar invisível, em busca do nada, onde meu olhar se vê como sendo a falta de vida. A ausência é o excesso de vida, onde a vida me vê. A alma não separa o ser do ser, separa a vida da morte.