Fecho os olhos, saio de mim, para não amar o nada. Um dia terei o nada, só como eu. Meu eu não é para mim, o meu eu é da vida, para mim, meu ser é meu. O tempo controla o nada: é a maldição do tempo. Me solto de mim, em busca das minhas mãos. Minhas mãos não me consolam de ser, mesmo escrevendo, não sinto minhas mãos. Elas não se foram, estão ausentes. Tão ausentes, se tornam poesias ausentes, como alma. O som não me escuta. O olhar é o fim da poesia. O sonho, a vida, me impede de ser eu. O sonho, a vida, são minha presença sem mim. Busco meu corpo a rastejar meu corpo dentro de mim. Ver é presença de Deus. Sou o fim do sonho. Fiz da minha tristeza apenas morte. Morte me consola nas dificuldades de viver. Vivo pela fragilidade das minhas mãos que suspende o mundo e cria sonhos de vida. Mãos se condenam ao falar comigo. Nada posso dizer às minhas mãos. Nada se perdeu, apenas deixou de ser. Escrevê-las em mim. Mãos escrevem em mim.