Blog da Liz de Sá Cavalcante

Corpo para a alma

O corpo age contra a alma, por isso o corpo é para a alma. Ausência é um diálogo interior, que tira o meu ser das palavras, onde posso viver no acreditar da vida. Julgar é uma fé maldita, mórbida. O silêncio é a fé de um adeus, que se apoderou da minha fala, do meu sentir. A solidão é uma alma que tem dona, por isso é livre. A dependência é o fim da solidão. Sem solidão, não há vida, não há ser. O nada é o fim de ser só. O olhar é solitário, os olhos são a lembrança da solidão, mas os olhos não são solitários. A imagem dos olhos é o amor, que o olhar desfaz. O corpo para a alma é trazer meu olhar para a minha presença, é tocar a alma, o corpo, com o olhar, e, mesmo assim, me sentir minha, na minha presença, na de outro alguém.

Fadiga

Resta na pele a alma, como fadiga do amor. Feridas são a fala da dor da alma. O frio não sente o frio, que é morrer. A alma esquenta a morte, com suas lágrimas, prece nunca ouvida, de quem quer amar. Eu quero amar, como fala a morte e silencia a vida. A vida é eterna em seu silêncio, que pra ela não é sofrer. O silêncio é um véu que esconde o ser, não de si mesmo, mas da vida. O silêncio é a esperança de viver na minha pele, no meu ser, que não é a pele do ser, é um buraco, um vazio constante de trocar de pele, de ser, por morrer. Morrer na solidão não é morrer, o ficar junto é o morrer da alma, que dá vida ao ser. Não há nada entre o ser e a morte, nem mesmo a vida. O céu é apenas um pedaço de cada um. O espelho do céu é o próprio ser, do ficar sem alma. O que eu faria tendo alma? Não acreditaria no céu. O que o céu pode fazer por Deus? Não consegue manter Deus em si, mesmo assim é chamado de céu. Deus não está no céu, está dentro de si mesmo, para nos ajudar. Não há quem ajude o céu a ser céu. A luz, distante do céu, é também distante do olhar. Quero apenas a luz natural da lembrança da vida, que é a escuridão. A luz do desespero clareia a vida. Começo a me sentir, mesmo no desespero. Na força de morrer, nasce a vida, onde tudo é compreendido sem vida, sem palavras, sem dor. Apenas o silêncio, que é o eco do vazio, consegue perceber meu amor. Mas, eu não percebo, percebo apenas o silêncio. Sentir vazio é estar vivo para a solidão. Restos do vazio jogados longe de mim, nunca fui tão longe, nunca estive perto de mim, os restos de mim me aproximaram de mim, da vida. É uma idealização que preciso estar inteira, até sobrarem apenas migalhas de mim, que enterram apenas pela consciência. Sempre fui ausência, que não consegue partir. Fica, dentro do esquecimento, onde a aparência é eterna, é como a vida que não possuo, não sinto, mas a imagino pela aparência da falta de aparência. Aparecendo ou não, meu ser é o massacre sem alma, dor. A aparência é a invisibilidade da alma. Quase senti a alma, visível, próxima a mim, mas era apenas um abraço, eram apenas minhas lembranças, tentando se perderem. Foi assim que me encontrei, como se a alma estivesse em mim. Pode ser apenas uma sensação vazia, mas me trouxe alegria eterna, como se eu pudesse cantar a vida num silêncio mórbido, de palavras. Apenas eu compreendo que sou feliz, por isso não posso sorrir.

Morrer é injustificável

Morre-se porque a vida é pouca, quero mais do que viver. Mas há algo além de viver, além do que sou? Não há além no além das coisas, no além do ser. O que é este além que se determina no nada? Será o nada o além do além? Apenas o vazio pode separar o além do além.

Esmagamento vital

Tudo que foi esmagado vive, como se fosse nós. A ruptura é uma presença que tem alma. Tive a presença, como se eu tivesse me despedindo de mim, na tua alegria. Por que não me vês na tua alegria? Quero fazer parte dela. A lembrança, eterna presença do nada. Ouvir tua voz me exclui da vida, como se eu fosse sua presença, na exclusão do nada. Não há mais o que excluir, para manter a presença do nada. Excluí a minha dor, minha alegria, meu amor, para manter o encanto do nada. Vejo-me no nada, sem alegria ou tristeza, para escutar o silêncio da alma, sem o vazio de mim.

Nunca dizer jamais eu

Alegrias são momentos, que duram uma vida inteira. Separada do nada do ser, a alegria é feliz. O suspirar é a fala interior, que se escuta na morte. Nada no ser se faz morrer, o ser é a morte.

Martírio

O martírio se queima por dentro, para amar. Como pude amar a falta de fim na inexistência da minha alma, que escraviza o amor na inexistência? O amor resiste à inexistência, onde tudo se transforma, muda, mais do que o tempo. A mudança não precisa de tempo, e sim de amor. Mas o olhar não se acostuma com o que vê. Não existe amor na visibilidade. A invisibilidade cessa o amor que não existe. Algo existe na invisibilidade, talvez ela seja a existência sem amor. O ser ama, pois vê o infinito com olhos de amor. Logo, tudo parece ser infinito, pelo amor que sinto. Começar é nunca terminar. Começar o amor pelo fim, como se isso fosse o recomeço de mim. Enfim, só. Enfim, descansei. Enfim, adeus.

Pela cegueira da vida vi o mundo

A alma é o desapego da morte. A areia do desprezo molha o sentimento de amor, com amor. Há tantas coisas a sentir pelo nada, que o nada não é vazio, apenas minha vida é vazia, pela ausência do nada. O nada me afasta do nada, existindo por mim. O além vive o nada. A vontade surge no morrer, como o sol que nasce por dentro de mim, iluminando a morte. Vivendo, não deixo a morte levar o que vivi. A ausência é um sopro sem ar.

Quando me amo, me sinto menos esquecida

A vontade é a negação, falta de viver. A vontade esfarela como papel, para dar lugar ao amor. Abraçar sem corpo, sem alma, sem me parecer com nada, apenas abraço a sombra desse adeus, como se fosse esse adeus! Mas o adeus não volta, não me quer, nem mesmo pelo vazio de mim! Daria minha vida para sentir que a solidão é somente minha! Eu e a vida temos mundos diferentes que habitam a mesma alma, dentro de nós duas! Escrevo para a morte isenta de mim. Mas ela sou eu! Meus pensamentos são mortes que surgem por dentro de mim, onde vou indo para a morte: minha cura, acalento! A morte de ontem não importa mais, morrendo mais a cada dia, esqueço que já morri ontem! Nada falta para esquecer, posso morrer na paz do meu esquecimento! Minha única lembrança é morrer! Quero morrer sem a falta que você me faz! Preciso morrer para provar que te amo?! As portas se fecham, e a vida sem portas, separações, se abre para mim! As lacunas são portas, abertas, por onde sinto o desprezo, a nostalgia, como se não existissem portas para abrir. As portas não contêm a imagem de viver, que é diferente da imagem da vida! Quando me amo, me sinto menos só, como se o silêncio da vida fosse a imagem da vida! Sair de mim, me dar a você em mim, são lembranças da vida: sufocam, sua imagem e a saudade que tenho de ti. Tudo agora são cinzas de um vazio infinito, que embeleza o amor, de tão sofrido! O luto da saudade me torna quem sou! Sou a imagem da minha vida, em poesias desencontradas pela alma. Mas a alma não está perdida, ela sabe o que quer: a poesia no amanhã, que não tem fim! Não existe defesa contra o amor, o amor é maravilhoso e sempre será a poesia de alguém, que se descobriu feliz em amar!

A saudade faz eu perceber que amo e o quanto ainda posso amar pela saudade

Quem me dera socorrer o sol da chuva, fazer a vida viver por mim, em mim. A saudade é um sol infinito, sem ausências. A saudade de viver me faz ser, não troco a saudade de viver pela vida, nem por ninguém. O fim de escrever seria minha pior morte. Nunca posso morrer como o fim da poesia, seria o fim de tudo. A poesia cessa a vida, a morte, mas não cessa o nada de ser!

A razão de ser não existe

A imensidão sem o vazio não é poesia. É a alegria que define a falta. Sinto falta de mim ao ficar comigo. O silêncio é a falta do que não existe, para poder suspirar palavras. Não há transcendência na ausência, mas a ausência se realiza na transcendência. Não sou minhas faltas, mas faço falta às minhas faltas! Como faltar a mim, se sou a falta de mim? Não quero viver o que dê para viver, quero que a vida seja para viver. O ser é um intruso para a minha consciência, para minhas faltas. Não há faltas na solidão. O preenchimento se preenche só, sem solidão, sem o suspirar da falta do acontecer. Nada acontece sem o teu acontecer. O acontecer não acontece sem o sempre. Nada acontece, por sempre existir.