Blog da Liz de Sá Cavalcante

A alma não é como é

A alma não é como é, é sempre mais. A falta de valor é o único valor do amor. Ninguém pode ter o vazio, sentir o vazio, nada há no vazio, isso para mim é possuí-lo sem o ter. Que fim é o vazio? Um fim que busca algo não pode ser vazio, é um ser no ser do vazio. O fim do vazio é a ausência do sol. Se o vazio levar o sol, de dentro de mim. Apenas minha ausência é sol, fim da eternidade do vazio, fim da esperança. O amor queima na ausência, que é puro sentir. O sentir e o amor se unem, nasce a morte. A morte nasce do amor, como se nascer fosse sorrir. Apenas ao sorrir, sou capaz de nascer do que não nasce em mim: amor, amor, amor…

Alegria infinita

A alegria é infinita ao partir. A alegria somente existe sem alegria. A inacessibilidade de ser feliz é que me faz feliz. Ser feliz é como saber quantas estrelas há no céu. A alma é o ser, quando o ser a deixa por amor. A vida não está onde estou, não sei onde estou. Sei que meu pensar chora como se eu estivesse em algum lugar, mas não sinto que há um lugar para o amor. A sombra da alegria é o infinito da alegria, onde a vida é me dar a mim. Nada acabou por acabar, acabou sem o fim. A distância é um olhar mais atento à vida. A alma é a minha sombra no infinito. A alma é a solidão que o amor queria ter. Partir sem alegria é não partir. A alegria não é infinita quando a sinto.

Vida caótica (confusa, caos)

A morte é não ter começado a viver. Botei a morte no colo, ela nasceu de mim, foi tão natural quanto respirar. Respirar é apenas a escuridão que não se define. Eu sinto por mim ou pela morte? Viva ou morta, nunca sei o que é sentir, por isso sou minha própria poesia. Perdi o sentido da vida, pelo sentido da vida. A morte floresce dentro de mim, define todos os sentidos no indefinível do meu ser. A brisa da morte não carrega o sol do amanhecer da noite. Dormes, e eu floresço, sem pensar em ti. Pensar em ti não me pertence. O momento suspende a morte num único pensamento: viver. Aprendi apenas a morrer. Talvez, eu viva mais que a delicadeza da morte, prefiro a brutalidade da vida. Vou viver, quando não houver mais vida. Sonhar é a imagem da morte, tão mais verdadeira que viver. O que quero ao morrer? Apenas que o desejo continue a florir, como se fosse eu. Quando o florescer de mim não sustentar minha morte, é porque os meus obstáculos foram vencidos, e a tristeza teve a paz de me ver morrer, feliz por sofrer. Tudo morre sem dor. Sonhar é o partir da alma, que não me faz florescer sem a minha morte. A dor, vencida pelo medo, desvenda a vida. Paz é o medo, o receio da vida. Vai dar tempo de morrer? Nada levo da vida, além da sensação de morrer, mas nada levo da vida, nem mesmo a morte. Encontrei a morte sem a minha morte, assim morri plenamente no nada, como nada sendo nada, que faz todos viverem, para eu morrer na tua paz, que não é a paz de todos, são os destroços da vida, que se acumulam, para que eu seja algo, que não seja o nada, não seja eu. A vida supre a falta de morrer, contanto que eu não exista, somente assim descobri o privilégio de eu nada significar para viver. Viver não precisa de significado, viver precisa do ser, até para morrer, onde o silêncio não enterra a dor de quem vive, mas sabe que nenhuma palavra, nenhum ser, nenhum amor, me impedirá de viver e morrer pelos meus sentimentos, que vigiam a morte, desfazem destinos, para haver esperança de vida. A expectativa de vida não é ser amada, é ficar só em mim, como um último instante perdido de vida, que deixou para depois. Nós deixamos o instante desaparecer, na ruptura de nossas almas, onde a separação une o que foi esquecido por nós. Nada podemos fazer por nós, nada podemos fazer sem nós. Resta apenas a distância, devorada no vazio de nossas almas. Somente queremos morrer, com o nosso olhar nos vendo, como se houvesse nós.

Extenuar-me (esgotar, cansar)

Tudo que vai descendo, até a alma, não existe, é como o céu a esperar apenas o meu olhar, num suspirar eterno. Nem o céu pode curar a alma dela mesma. Nada me separa da alma, mas não me sinto unida a ela. A palavra prefere morrer a ser poesia. Amar é apenas sobreviver no nada. O suspirar traz de volta o momento perdido, onde não há mais vida. Mas, ainda há vida na minha vida, no silêncio. Sinto falta do momento perdido, como se fosse minha alma, mas nunca houve esse momento perdido, ele era apenas o meu imaginar, é a única presença real da vida. Mas não é presença da presença. Disse adeus, para encontrar o amor que sinto, talvez ele seja um momento perdido, encontrado na falta do meu ser.

Ninguém

É preciso deixar a alma correr solta, livre, no ninguém de si mesma, para o ninguém da vida. O nada perde a razão em amar. O ninguém não se desfaz em alguém. O sorrir é a certeza de não existir alguém para o ninguém. Posso fazer da poesia o que a vida não levou da eternidade. Eternidade vem, parte, mas a dor é a mesma. O nada é alguém que não percebe a presença de ninguém. O ninguém é o desejo infinito de ser, onde nada se aproxima. Apenas este ninguém aparece na inconstância de nada sentir. Eu refleti a luz, onde o ninguém que amo é a minha ausência, na presença do meu saber. A luz se apaga sem refletir, pois nenhum alguém, nenhum ninguém, existe mais. Mas, se vê no indefinido de se viver simbolicamente, como poeira no deserto. O indefinido tira-me do deserto da alma, torna meus sonhos amor. Minha inexistência é o sonho, a presença do nada, que tornou o sonho morte, nem por isso modificou minha inexistência em morte. Ninguém, ninguém sopra o vazio do ar, do amor. Ninguém espera existir, não há mais nada nem ninguém, por isso a alegria ama nela mesma, por isso é infinita, distante da vida, da plenitude. As palavras tristes, na ausência de alegria, me resgataram para eu nada ser. Nada preciso ser para a alegria me preencher da sua luz, que ilumina o céu de tristeza. Tudo se tornou desolador, como se a tristeza desmaiasse em minha dor. Tudo estagnou, foi pior do que cessar de novo: sei agora que a vida é possível, mas não sei como fazê-la acontecer. A amei em palavras, sem palavras, apenas para que este ninguém seja o meu amor. Foi assim que morri, da ausência da falta de viver. Nesse instante, o silêncio me banhou de amor. Morri, não vejo mais corpo em mim, sinto apenas amor, na certeza de que vivi um dia. Conheci todos, e ninguém para amar. Estou cansada de amar, nem as palavras me fazem amar. A vida foi a minha morte. Não amei por mim, amei por todos. Agora, não sou mais nada, nem sou ninguém, sou algo perdido no ar, que consolará as estrelas da imensidão do céu.

O pouco da lembrança que eu tinha era apenas solidão

Lembrar sem mim, a lembrança me deixa mais só do que a solidão. Esta agonia, de ter o corpo na alma, é uma saudade sem saudade, onde não preciso me lembrar da vida, a vida é apenas essa saudade, que dá calor ao meu corpo. Se houvesse amanhã, a vida não existiria. Mas, meu corpo não é ausência de vida, é o que pude ser em mim, para mim. Se a lembrança é a procura de um corpo, não é pela lembrança que vivo. Lembrança é o que falta para ser. Então, como a morte é uma lembrança? A morte é o ser pelo ser. Apenas a morte cuida das minhas lembranças. Tive lembranças, mesmo sendo por morrer.

O silêncio abraça a alma sem amor

Morri, mas não perdi a liberdade, que importa mais do que viver. Sem consciência penso, pelo silêncio, que abraça a alma sem amor. Penso, como se me restasse apenas pensar. Pensar é não prestar atenção ao silêncio, que isola o pensar de si mesmo, da vida, do amor. Meu olhar não vê a morte, mas a sinto tão real, que ela vive em mim, sem eternidade. Meu amor, lembrança da morte, ainda viva.

A alma é o futuro do amor

Há caminhos sem esperança, que podem ser amor! Minha alma não se completa por eu viver. Não quero ser a sombra da alma. A liberdade, quando é plena, é pura tristeza. A ausência do que seremos é a liberdade da alma. A alma feia e velha torna-se a beleza e a juventude da vida.

Perdi a mim de saudades de mim

Não perdi a saudade de viver, como perdi a vida. A morte vai cessar sem morte, sem amor, protegendo o céu, reconstruindo o céu pelas estrelas. Perdi a mim sem morrer, de saudade de mim. Não necessito morrer, para sentir saudade de mim. O fim da morte é o não ser, é o ser pelo ser. Se nada em mim houvesse para morrer, seria triste.

Variações da alma

O instinto de morrer são as variações da alma. Somente a alma pode mudar o sentimento de morte com a minha morte! A morte precisa do meu sentir, para me fazer morrer! A poesia é a única solidão que me une à alma! Para a poesia, não existe morte, tudo é eternidade! O eterno é sem eternidade! A alma é a falta do ser, é o indefinido ter alma. É como abraçar o nada, e se preencher de lembranças, mas cada lembrança é um nada escondido em mim, tentando existir! Para que o nada?! Para saber que existo! Ter alma é apenas uma crise de identidade, logo cessará. Tudo passa, até a alma. A alma nunca substituirá o ser! Para fixar a alma, é preciso não compreender a alma! No dia em que eu compreender a alma, a perderei. Mas não esquecerei o quanto fui na alma, foi como ser para mim! O ser de mim mesma é sem valor, mas o ser de alma é de um valor extremo. Não há individualidade na alma. A alma são todos ou nenhum! As variações da alma não são a alma. Alma somente é alma ao se determinar alma! Já não basta sofrer, eu ainda tenho que morrer como se sentisse sua dor! Não acredito que você sofra; mesmo assim, nada sabe do sofrer, mesmo que sofra. Vou afastar o sentir do sentir, mais pleno, absoluto, apenas porque não sei sentir, como se nada estivesse acontecendo entre mim e a morte! É como me reconciliar sozinha com a minha dor! Não há reconciliação com a morte! A revolta da alma é um olhar, que permanece nela, deixando-a partir, como se a alma não soubesse olhar, nem tivesse que sustentar o olhar no que sente. Olho como se não dependesse do olhar para olhar! A ausência de um olhar já é um adeus! Saio e entro dentro de mim, sem alma, sem mim. Sou apenas um meio para o amor. Nada no amor se despede mais do que a morte do amor, que não é a alma do amor! O amor não tem alma, por isso encanta o desencanto! A morte significa ser amada, até mesmo sem o amor!