Blog da Liz de Sá Cavalcante

Presença do mundo

O olhar não torna as coisas reais, as coisas, o ser, tornam as coisas tão reais que eu não as vejo: essa é a presença do mundo. A ausência é o refúgio da alma. O que é mais infinito, a vida, o amor ou dizer te amo? O infinito é o espaço vazio, que nunca é preenchido. A alma não sorri nunca, mas, quando o mar é envolvido por suas ondas, minha alma começa a sorrir. Ser ou não ser não depende do querer, depende do céu, das estrelas, que navegam em meu amor. A presença do mundo é quando, em meio a tantas lágrimas, senti apenas essa no meu rosto, como presença do mundo. O interior é o esquecer que me emociona. Para esquecer, é preciso ter vivido algo, que ficou no esquecer, como sendo vida. A presença do mundo contribui para esquecer. A fala vai além do esquecimento, além da lembrança. A fala é o amor infinito. O infinito está expandindo o esquecimento. Nada ficou no esquecimento, nem o próprio esquecimento. Apenas o esquecer traduz a lembrança. É no esquecimento que fica o que há de especial em lembrar. A mente não descansa, seja no esquecimento ou na lembrança. Minha mente descansa e se refaz na saudade de viver, que é o que há de sublime na saudade e no esquecimento. Pensar no esquecimento é tentar perdoar o amor de não me amar. O amor ama apenas a lembrança e o esquecimento, mas, mesmo assim, o amo, é meu único sentir, é a minha vida, que vivi longe da lembrança e do esquecimento. Eu estou viva por te perder? Perda é amor, que prefiro silenciar por dentro de mim!

Existo da mesma forma que amo?

A dor vai desentranhar a alegria que não tenho. Nada existe no amor, onde nascer é apenas voltar a mim. Vida, não maltrata meu nascer, ele veio de ti ou é só um pensamento da ingenuidade de criança a dormir, como se nascer fosse esse sono, esse gozo da renúncia de mim. Nasci para lutar contra a vida?! O ventre da vida é o que não permanece em mim, mas a falta do ventre permanece. Existo apenas para provar que pude nascer?! A vida é inútil, o amor é inútil, nada faz perceber a verdade do ser que condena o amor. Eu acredito na verdade para poder amar a visão do mundo, é essa verdade interior que se sobressai até no vazio de si mesma. Talvez, a inspiração seja uma verdade além da verdade. A inspiração é a falta do interior que cria vários interiores, para que eu deixe a inspiração pelo interior. O interior também é alegria. Dá medo ser feliz. Minha alma enrijece meu corpo, meu coração, para o que não está por acontecer. O que pode acontecer em ser feliz?! Ser feliz é ser invencível. A força desta alegria é o nada. As lembranças nem sempre são tristes. Cada lembrança é um calvário de alegria. Dispersar a alegria, apenas para não desabar no abismo de mim, é a única realidade em ser feliz, um sopro de luz a inundar a escuridão. Tudo que faço pela escuridão é sonhar com a luz. Luz que tem um pouco de mistério, foi ultrapassada pela escuridão que absorve o tempo, a vida melhor do que eu, mas absorver as coisas vividas não é tudo, é preciso sonhar, rir, chorar, se desesperar com elas para que fique um pouco da luz da vida em nossas presenças, mesmo que no fim reste escuridão. Não deixo a luz se apagar em mim. Viva ou morta, ela sempre será aquela luz que foge de encontro a mim, pois ela sabe que para mim nunca será escuridão. Faz falta a luz em plena luz, faz falta a saudade na saudade, faz falta querer a vida pelo ser que existe dentro dela, que é um pouco cada um de nós que rompeu com a realidade para viver a vida. A vida foi expulsa de dentro dela, mas está dentro de mim. Vida, me dá forças para continuar em ti, contigo ou sem ti, tua presença nunca falha, nunca muda. Deixa os instantes na vida do depois, onde esses instantes não importam mais, deram lugar ao ser, à vida, ao que foi perdido, que tem que ser resgatado apenas pelas lágrimas, não pela vida. Não é fácil chorar sem a vida, mas tem o lado bom. Aprendi a ser, sem a vida, como se eu fosse um pássaro aprendendo a voar, contagiando o céu com alegria, que somente existe em voar no infinito de nós, que é maior que o céu. Voei com a alma, com o amor, não voei como pássaro, mas sim em mim, como eu mesma voando na imaginação. Pareço nunca aterrissar, quero viver voando, em amores sem fim, que são minhas asas, minha liberdade, que dedico a quem sofre. Quem não aprendeu a voar pode se segurar em mim, para não cair. O céu é o limite do ser. A alma vive nas minhas asas, no meu amor, no meu imaginar. Nada é eterno sem alegria. Voa comigo, deixa o medo voar contigo e ele será livre, tu também serás. Essa é a alegria que imagino em mim, sem medo de amar, mas se não há o que amar, fico a voar, como se o céu voasse comigo, numa alegria eterna de eu ser eu neste instante, que, mesmo sem vida, nunca fui tão feliz!

Silêncio sem o silêncio

A ilusão deixa a ilusão sem rosto, a falta de rosto é um silêncio profundo. O silêncio se parece com a alma. O silêncio se torna alma, pela falta de existir, como uma vela apagada. Vejo o desaparecer nas cinzas da vida: suave brisa, me refaz. Silêncio, deste-me tua vida, como se fosse minha. Nada nasce por dentro, nasce por fora. As lágrimas escorregam por dentro de mim, cavando minha morte. A pausa no silêncio é caminhar pela eternidade, sendo conduzida pelas palavras, que tornam o silêncio mórbido, deslizar na morte por entre meus dedos, onde meu corpo são apenas dedos, apenas tocar para esquecer, não há perigo em morrer. Acalento, promessa de silêncio e dor.

O sonhar e o sonhado são dois opostos que se atraem

Existência são pedaços de vida, esquecidos como existência. O sonhar é a existência, o sonhado é a vida. É na morte que se aproveita a vida, o infinito do sonho é a morte. A vida é, sem precisar ser vida. A inexistência da vida está inacabada, inconclusa. O valor da existência é a inexistência. Sonhar sufoca a alma, ela não conhece o sonho de ser. Por que o ser não pode amar a alma?! Como se contentar com a vida, sem pensar em morrer? Pensar em morrer é pensar em mim. Em mim, onde a distância de morrer é apenas o meu pensamento. O pensar é ilusão da alma. É preciso coragem para pensar. Pensar faz falta ao refletir. Sofrer me traz de volta ao real, não se pode ser feliz no real, mas se pode ser feliz em sonhos. E se eu não souber sonhar, como vou aprender? Tenho que escolher entre a minha realidade e Deus? O que é real em Deus? A falta que Ele me faz? Deus é um fenômeno isolado da vida, longe é sua maneira de cuidar. Deus não cuida de Si mesmo. A distância é perdida sem Deus. Ter Deus é uma forma de não viver. Se esquece Deus com a vida. A vida não é Deus, Deus é muito mais do que vida, do que o céu, o infinito, Deus é paz. O céu tenta ter a paz de Deus, é impossível. A paz de Deus é Deus. É impossível esquecer Deus, mesmo sem senti-lO, Ele sente por mim. Nunca terei a paz de Deus como Deus. Paz para mim é algo sofrido, me tira a esperança de viver. Viver pra Deus e pra mim, ao mesmo tempo, é possível? Tenho que escolher entre mim e Deus? O amor, o sofrer, não é bastante pra Deus, Deus quer que eu O sinta. Para mim, sentir, mesmo sem sentir Deus, é senti-lO, não por Ele, mas por mim nEle. Sentir não é destino, é obrigação de quem vive. Quem consegue viver apenas para Deus? O que vai ser Deus para mim, quando eu morrer? Deus comanda o sonhar e o sonhado. O sonhar e o sonhado são o desespero da realidade. Sonhar e ser sonhado é morrer de tanto amor. Deus não pode sonhar e ser sonhado, não pode morrer de amor. Esta é uma dádiva, um milagre humano. Eu não penso mais em mim, penso que, um dia, sonhar e ser sonhado farão parte de Deus. Se Deus morrer, não é o fim da vida, é o renascer do amor, que fará de Deus seu renascer. Tudo, enfim, será livre para viver ou morrer. Esta é a verdadeira vida, o verdadeiro amor: Deus, Deus, Deus, Deus…

O meu mundo não é o mundo de todos

O amor anseia por um amor inexistente, como um sonho que vivo só. Carrego só a solidão, como um sacrifício, um fardo, por onde o sonho se dispersa na solidão, torna-se dor. Vencer o invencível pelo amor é Deus em mim. Ter Deus é morrer sem levar nenhum sentimento meu. A morte é um pedaço de Deus, e tudo que é Deus, me resigno, aceitando em meu sofrer. Meu mundo não tem Deus, é Deus. Por isso, espero permanecer no que amo, como sombra da minha ausência. Enquanto não puder ser eu, não posso morrer. Morrer é um prazer de alma, que me faz eterna no morrer. O sol mancha a minha morte, e o sol fica manchado também, até que amanheça, e o esquecer seja mais do que morrer.

O sacrifício

O sacrifício de Deus em me ver sofrer é o seu amor por mim. Mesmo estando viva, não dá para me separar do céu. O amor é a falta de nós. Na morte, não posso pensar em mim, seria egoísmo da alma. Sei qual é a minha alma quando sonho. O depois de mim é a minha consciência. A continuação da vida é o nada.

Nunca a morte me realiza

A morte não é realização, é alma. O céu se realiza numa morte isenta de alma, de ser. A morte se realiza na realização do ser, para não precisar matá-lo. Alegria é vida, continua depois da morte. Vida, serás apenas minha, por eu te perder. A sombra é vida infinita sem o sol. Falo apenas pelo infinito da minha voz macia a se arrastar sem fim, sem vida. Ouvir é o infinito da vida que compreende a vida sem fala. Eu tento fazer da compreensão das coisas a minha vida. A vida nas montanhas não é diferente da vida que vivo, é apenas mais alta, mas também nada vejo da vida no alto das montanhas, mas também não vejo a vida no que está perto. Se a vida não é a distância ou proximidade de mim, o que é a vida? Não espero pela vida, ela não me espera. A vida falta sem me faltar, mas é ela que me mata, mas não posso ter vida espiritual, não tenho espírito. O amor não é espiritual, é a convivência. A falta é a convivência do arrepio, onde a pele destaca o ser nos seus sonhos. A pele é o respirar eterno de Deus. Meu amor é sua luz, aprisionada em Deus. De todas as vidas, nada sei, mas, da vida da vida, tudo sei, conheço seu cheiro, sua cor, seu silêncio, sua respiração. É como se ela fosse a única vida, eternidade de ser só. A vida muda, e eu vou morrer, como se a vida ficasse de outra cor, outro cheiro, outras lembranças que fazem parte de eu morrer. Fico mais do que viva. A ausência não se realiza, não se é, a ausência se perde no silêncio, na dor, mas não se perde na presença. Escrever é o fim da ausência na ausência. Deixo meu ser em Deus o que não digo a mim, não amo em mim, não torno só. A ausência se realiza na presença que não tem, é sempre o outro alguém a ausência, mas sou eu minha ausência. A ausência faz tudo por amor. Ausência é vida do meu olhar. Deixo minha ausência fazer de mim o que quiser. A alma não é minha única ausência. A ausência de ter vida é a pior. Sinto falta da ausência como o ar que respiro, não me deixe sem respirar, essa ausência para mim é a presença de Deus, que sobrevive ao ser pela presença do ser. A ausência ficou distante, inacessível, como o sol que não amanhece e deixa a vida para me iluminar. Mas essa luz pode se tornar vida pela ausência, que são apenas palavras, sem afeição, talvez esse seja o fim da ausência, e o começo do nada, que esquece o tempo que fica no que nunca aconteceu. Não era ausência, era a ilusão do nada, que me abraçou pela última vez, sem vida, mas o nada sentiu minha alegria, tornou-se tudo pra mim. O respirar fez com que eu não me esqueça do quanto respirei só, precisava ser assim. Assim como necessitei do adeus para dizer adeus. Meu respirar respira por mim, comigo morta, talvez esta seja a sombra da vida, a se fazer sol. O respirar fez da minha morte um respirar do meu ser, para que minha morte possa respirar por mim, isto é o meu ser!

Melancolia

Alegria, morreste para mim, por ficar comigo. A alma está quieta, só, tornou-se sol, onde sua solidão é apenas melancolia. O que conheço da alma é o amor. Me conheço pela alma. Estou vendo a vida em mim. A monotonia da alma torna minha vida intensa. Morte, faz da minha voz tua voz, neste falar de mim. O mundo não existe na razão. A vida é razão do mundo. Um olhar de luz, no meio do nada. Sorrir é deixar minhas cinzas serem meu único pensar. Pensar só é deixar minhas cinzas voarem, distantes de mim, no soprar do vento, que me une ao nada. O nada é o instante, em que amar não adianta. Minhas mãos nas tuas mãos, é por onde não vejo o céu, não sinto mais meu corpo, meu corpo não era minha vida, era apenas um consolo infeliz. Morte crua como a alma, despida como a alma. Separar é unir mais ainda o que está unido, que não precisa se separar para unir. Qualquer coisa serve para chorar, nem tudo serve para amar. Meu corpo é apenas a ponte que me levou à vida. Pareço seguir qualquer coisa sem destino, pois essa coisa se encontrou em mim. Talvez seja alegria. A alegria é a necessidade de me perder, sem interromper as ondas do mar na minha emoção. Não dá para a alma ficar na alma de si mesma. A alma sinto de longe, quando ela se desprende de mim. Corpo, sensação que não se sente na alma. A alma tem que deixar saudade no ser, por mais que machuque, me torna humana. Tão humana, que não posso me separar da alma, mesmo que ela nada signifique, fez toda a diferença. Uma única alma não é bastante para viver. Tenho muitas almas e nenhuma tristeza. Quando penso que estou triste, é apenas a vida a acontecer para mim.

Me acostumar a viver

Me deixe perdida, perdida no azul do céu, nesta alegria de céu, de ficar no céu, comigo, no céu, não tem como eu ficar longe de mim. Não há céu no céu, há apenas o amor que sinto, como sendo o desespero do nada. Não dá para deixar minha dor num céu tão perfeito. Que alma boa, deixou o céu no céu. A alma não faz de mim um ser, eu faço de mim um ser, que não existe para mim. Minha alma não te ama, como eu te amo. Minha alma é o fim do nosso amor. Fiz da alma a minha vida. Não há vida sem alma. Não há alma sem amor. O nunca é o eterno vivo, acessível. O que separa o ser dele mesmo é a consciência de vida. O meu ser não é salvo na consciência. Nada restou do céu. O que o ser tiver que ser, ele será, não importam as possibilidades. Meu ser não é suas possibilidades. O que separa o nada do ser é a possibilidade, onde posso me amar. Amar acaba neste para sempre. Se o amor não quisesse permanecer, seria eterno. A vontade não se realiza como vontade, mas como perda. As perdas não atingem a vida. Se a vida fosse apenas perda, seria feliz? Perder é continuar a viver. Perdas justificam a vida. A perda renasce, como descoberta de ser. Mas, falta o ser na perda, ser é perda. O desaparecer são perdas que duram. O ser não pode desaparecer para sempre, nem mesmo com sua morte. O ser existe como sua perda. A vida é o que o ser possui e vive em sua perda. Sem perda, não há vida, não há subjetividade. Meu amor não me deu notícias de mim. Descer até a alma, ser inferior como a alma, é estabelecer o infinito. O infinito de um olhar é mais do que infinito. Deixar a paz no desfazer na alma, num sorriso, lembrança da vida que tive. Sorrimos juntas, vivemos juntas o que tínhamos para viver.

O amor no futuro

Minha voz é vida, que se encosta na minha solidão de amor. A voz da razão é muda, pelo amor no futuro, tão esperado como desejo sem amor. O amor do mundo não me faz esperar a vida. A vida é o que não devia acontecer jamais. O ser é a falta de Deus, por mais amor que o ser seja, ele é falta de Deus. Aprendi a viver, não aprendi a morrer. A alma não se dá ao trabalho de morrer, nasceu morta, como a vida. Tudo vejo pela ausência, nada vejo na alma. A alma é a ausência de depois, sem morte ou dor. Uma mistura de esperança e morte abalou meu amor. No amor, não há retorno. O observar de uma estrela é o nada no céu. O céu se diminui no amor, que é menos do que o céu. O medo morre sem a sua escuridão. O sangue entra por dentro da percepção solitária do tempo. O tempo se torna mais humano do que o meu ser. Não sei ser humana, sei apenas sofrer, sofrer não é humano, é um beco sem saída. Sofrer é leve, é sonho, onde fecho os olhos na eternidade, que não é sonho, não é leve, é apenas a dor comum de ser. O sonho expressa a angústia de me sonhar, onde sou real. Sou real para sonhar comigo. Neste sonho, sou real para o sonho, não pra mim. O medo sem teus sonhos, que dormem profundamente nos meus sonhos, que são piores do que o medo de morrer. A vida tem medo dos meus sonhos, sabe que eles vão destruí-la aos poucos. Mas, não há sonho na destruição. O tempo foi lembrado na sua destruição. É mais fácil destruir o tempo do que o meu ser, nem a morte destrói o meu ser.