Blog da Liz de Sá Cavalcante

Estrondo

Saudades de mim me dão forças para viver e me apossar de mim. Embora me ensurdeça esse silêncio, essa dor, a vida continua pela solidão que me fez viver sem mim, não tenho mais nada. O que importa não ter saudades, se não existo?! Por onde começo a viver?! Pela inexistência da minha alma que faria qualquer um viver, menos a mim! Quero a alma bem viva pra saber quem sou nela. A inexistência da alma é a alma. Não procuro a alma, ela só existe na inexistência dos meus sonhos. Não procuro a alma, procuro a mim nesta alma inexistente. A saudade de mim me fez me ver com outros olhos, sem pena de mim. O que não via em mim era a minha ausência, onde sou completa. Nada me falta pela ausência, mas nada foi ausência na ausência, foi apenas decepção. A ausência do meu sorrir é minha existência, minha presença. Minhas lágrimas se tornaram ausência de um tempo, um fim perdido, como sendo o nada de uma vida. Não sei se meu ser existe, para mim existirá, se eu tiver ausências suficientes para viver! Vivo, não existo por viver! Sonhar não realiza o nada, que precisa ser realizado! Tudo depende da realização do nada! A falta que faz a ausência me enterrou viva! Vida, tentei gostar de ti, mas te faltam sonhos! A única realidade do meu corpo é a morte, por isso me separo do corpo pra viver! A vida não vive em mim, mas vive na minha solidão, seja ela apenas reflexão ou dor, a vida vive no amor, assim como a fé vive no desespero. A vida não reflete, ela é! Começar a viver é mais difícil do que terminar de viver. O pensar nasce da ausência, por isso é uma falta, um abismo sem fim de infinidade de coisas solitárias que vão além da reflexão. A reflexão não pode se manter viva, nem pela solidão que a reflexão não sente, mas gostaria de sentir, para que eu raciocinasse, não por mim, mas pela intuição! Essa intuição que deixa o sentir nessa alegria que me torna só, tão só que não me deprimo. A vida é a continuação do meu sorrir! A alma se desfaz sem o meu eu, em mim!

A inconsistência da vida (falta de lógica e firmeza)

Modifico-me pelo nada da existência, onde a alegria é apenas olhar a vida, sem percebê-la. Fragmentos do nada, eternizados em pedra. Algo se soltou do nada, sem a vida eternizada em pedra. Luz de pedra a diluir meu amor, como pedras em luz, no saber momentâneo do amor. Deixa-me sentir-me por eu estar distante de mim. A realidade é apenas um corpo dentro de outro corpo, onde posso morrer em paz. Quero morrer no irreal, sem o real de mim. A morte desaparece da alma, nunca do pensamento, por isso não se faz pensar. O ser não é sua morte, ela é exterior ao ser. A distância separa a realidade, não separa o ser do ser. Durmo profundamente na ausência de vida, é como se eu não tivesse morrido, é como se a vida sempre fosse ausente. Ausente como uma pedra jogada no mar.

Quem é o sujeito deste ser em mim?

Meu ser não tem sujeito, é um ser que torna o sujeito irrecuperável. Alma, ventre do nada, onde a esperança é um tênue fio. Andar na esperança é se equilibrar no que pode ser vida ou morte. Não sei em que me equilibro. Não quero enfrentar, quero desabar, como o nada, que esconde a sombra da minha ausência. A minha sombra é a ausência de mim. A ausência é uma maneira de manifestar o amor, que não existe na presença. Estou perdida, dentro da minha presença. Sem ti, nem minha ausência existe. Minha vida é sua. Na sua ausência, a minha vida é minha. Amar é escuridão, cega a minha luz. Quem é o sujeito deste ser em mim? É o teu olhar, que se esconde na névoa da luz, onde meu ser é o teu olhar. Não me deixou ser o sujeito do ser em mim. Mas, apenas por existir você, sei que nunca serei eu, nem pela ausência que me deste, na forma do meu ser. Meu ser não tem forma, cor, cheiro, meu ser quer apenas saber de ti, para te esquecer. O sujeito desaparece no meu esquecer, mas nada te esqueceu. A vida foi mais tua do que minha, isso me torna feliz, como se não houvesse ausência entre nós. Essa falta de ausência não me trouxe você, mas me trouxe de volta pra mim, sem ser, sem sujeito, sendo apenas eu em mim, para mim, numa solidão que não existe. Torna a ausência real numa existência, que deixou a solidão no teu sono, despertará sem mim, enfim, eu despertei sem ti. É tanto despertar, que não sinto saudade. A ausência é uma saudade, que nunca mais terei. O que sinto em mim, aprendi que é só, que é meu. É como se eu não fosse só, como se eu fosse apenas a ausência que quiseste em mim.

A alegria não depende da vida

Um abismo de luz toma conta da alegria. Encontrei o meu amor no inencontrável do meu ser. Para amar, não sou mais nada. O tempo devolve à vida sua ausência, como se não fosse perdê-la. O tempo causa o nada, exterior ao tempo. Onde há amor sem o interior e o exterior? Há muito a viver sem o tempo. O tempo é a falta de coragem de viver, de ser. O tempo impede que eu viva. A alegria é o tempo que se foi dentro do tempo. Não há tempo no tempo. O tempo existe apenas como fim da morte, renovação. Criou-se o tempo pela falta de morrer. Me lembro do tempo, como sendo a minha alma, ainda viva. O tempo é a alma que me restou. Sou afetada pela alma, como um sol que acaba de nascer. O tempo é cheio de faltas, como se fosse preencher minha vida pelas faltas. Perda, que me perca apenas como perda, nunca como amor. Meu ser e o nada, juntos, conquistam a eternidade de ser. Desaparecer é ter alguém para poder desaparecer na coragem de viver. Não existe mais alma no desaparecer, pois quer aparecer no desaparecer da vida.

Na pele

O olhar tudo vê sem a vida. A pele é um jeito de me rasgar por dentro, sem me ferir! Fui substituída pela minha pele. Se tudo for apenas pele, como abraçar a vida? Fazer de um abraço pele da pele, onde sinto a ausência do nada. Pela pele, olho a vida, revestida sem corpo, alma. Ter pele é mais do que ter corpo, alma, é olhar a vida na pele, infinitamente só, onde a vida nunca mais será esquecida.

A certeza é um labirinto

Se a morte for apenas essa liberdade de ficar, quero morrer. Nada desejo da alegria, isso é ser feliz! A alegria acaba-se por viver. Desligo-me da alegria, do que sobrou de mim, agora sou amplidão que te faz sorrir, como se algo existisse em nós. O que não é vida é mais verdadeiro, sonho com a falta, como se ela pudesse ser a vida de alguém. A vida daria tudo pela irrealidade dos teus olhos. Não existe realidade no olhar, mas os olhos deveriam ser a última realidade da alma a desaparecer na existência de não existir. Não é uma recaída esse desaparecer, é para que o instante seja esse desaparecer com seu perfume de perda, ainda sou imortal, nesse perfume sem vida. A certeza é um labirinto sem saída.

Eu e a morte somos um único ser

Alma, não há nada que eu queira mais do que ir embora em ti, para não te sentir partir. Minha solidão não é de alma, de sentir, é de existir. A vida, por ela mesma, não existe! A fala não me permite falar, falo em sonhos, inconcebíveis no silêncio da alma. Parece que vou acordar da vida, começar a viver por mim, sentir meu corpo, alma, pelo silêncio do meu amor. O corpo nasceu da alma, a alma nasceu de mim. A necessidade de me deixar na alma fez com que eu a perdesse por me sentir. Senti mais a perda da alma, do que a minha. A palavra rompe o ser com o mundo. A vida é uma palavra inalcançável, é por onde aprendi a dizer amor, mesmo sem outro alguém. A distância tenta se comparar com o amor, eu me comparo comigo. A distância não veio de longe, veio da alma. Nada impede a distância de viver. Eu e a morte, um único ser que se despedaça sem morrer.

A eternidade se perde em ser feliz

A vida está perto de acabar, na eternidade do sol. Perder o não é perder a vida. Não há negatividade na negatividade da vida. A alma afirma o negativo por viver. Vou recolher a morte da vida, num adeus eterno, onde é impossível modificar o conhecível, que cessa meus olhos na vida, como um presente da morte. Pelo ver desconheço a vida. Nada é perdoado no perdão. Os outros são a distância de mim. Tudo que me resta é a positividade do nada. Tudo foi escolhido pela vida, até a morte foi escolhida pela vida. Tudo se passou não sendo, por isso intimamente existe, como se fosse o resto, incompletude do sentir, que fez da vida eternidade. A eternidade se perde em ser feliz, como a vida que foi esquecida na minha alegria. A vida abençoou minha morte, como se eu escutasse o meu amor, vivendo uma liberdade inexistente, que a morte não cessa a liberdade. Ela sempre sonhou comigo. Liberdade apenas na falta de esperança, onde abraços libertam a morte, de seu aprisionar, mas apenas esse aprisionar é livre na alma, como o céu a desaparecer dentro de mim, para eu não ter nada, não ter nem onde morrer, assim o silêncio cessa a morte, somente o silêncio conquistará a vida sem mim. Não consigo parar de falar de amor, por isso morri, obstinada, sem amor. O tempo deixará minha morte intacta, vazia como uma liberdade longe do tempo. Me deixei ser quem sou, onde não necessitava ser, nem por isso morri, sem a tua esperança fechando meus olhos. Morri, livre, como o respirar que me separa da realidade. O ar é amor, é eternidade. Não quero perder o ar para a realidade, para a minha liberdade interior.

Quem é esse alguém sem mim?

O espaço, o tempo não pode ser a vida de alguém, mas pode ser alguém em mim, onde o ninguém é possível. O céu se emociona, como se não fosse viver por mim, eu viverei por ele, no esplendor do nada. O esplendor do nada, tão sagrado como o sol, a chuva, o vento. Me traz minha alma, pelo teu amor, vida, e prometo que serei feliz, pois, vida, me deste minha alma, num abraço fiel. Faltou-me coragem, para me apropriar da alma; mesmo assim, ela é minha. A coragem aflita tornou-se o sol, a fé da cegueira. Tudo que não sei existe, como saber? Sei somente sobre o que não existe. Nasci, como se eu fosse a existência do nada, na inexistência da vida. Alegria é respirar, com medo do ar. Não sou meu próprio ar. Desliza o ar nos meus pulmões sonhadores. Respiro o respirar em mim. Um dia, meu respirar se torna vida. Nada respirei só, tive a ajuda do mundo para respirar pela vida, o que me faltou respirar por mim. Respirar, como se a alma fosse meu respirar. Respirar sem alma é o mesmo que não respirar. Deixe-me só por respirar sem alma. Quem sabe eu encontre algo melhor do que a alma, do que respirar. Encontrei algo muito melhor: a solidão infinita do amor. Para ser só, não preciso viver, ser. Necessito apenas ser só!

Confinada no possível

É tão fácil amar a vida, que se torna impossível amá-la. O sonho justifica o amor. Mas, o amor não justifica o sonho. A partir do sonho, a vida não existe. Mas existe a vida de você em mim, dor, me dilacerando de tanto viver. A imaginação existe, para eu viver sem imaginar. A imaginação não se imagina, apenas dou vida a ela. Onde não importa o que vejo, pelo imaginar, vejo o todo, que não cabe na realidade. Estou confinada ao possível, onde não há o real, o imaginar, há apenas o nada. O nada não é vazio, é a essência da arte, da morte, que vai existir, enquanto eu estremecer.