Blog da Liz de Sá Cavalcante

A vaidade da vida é o amor

Tudo que é negado é esquecimento. Vivi demais, falta viver o infinito. O esquecer é a continuação do ser. Levar, trazendo vidas sem esperança, vidas sufocaram a morte, pela esperança infinita de viver. O infinito é uma vida excluída da minha vida. Excluir é a inclusão da alma. Deixa meus braços afogarem teu corpo, com a vida do teu corpo, como se tivesse existido um dia. Tua inexistência é mais infinita do que meu corpo, tem alma. Mas é solitária tua alma, mesmo a sentir meu corpo. Tua inexistência faz surgir minha alma.

Viver

Não vou partir como o céu, a lua, as estrelas, eles têm uma alegria somente deles para eles mesmos. O céu não me faz feliz como Deus me faz. Viver no céu sem o céu. O céu, mergulhar meu olhar no céu, faz eu reviver o amor, mas era apenas o céu. Sem o céu, não há nada. Vou parar de olhar para o céu, quando ele existir. O céu são minhas lágrimas, minha força. Da minha dor foi feito o céu, mas não me resignei de mim, de sofrer. Há almas que não se explicam, sua explicação está no meu olhar. Às vezes, pareço ver minha alma no céu, longe de mim. Eu sei que o céu sempre está no céu, pois escurece abertamente meu olhar no céu. O céu é a esperança de depois. Olho para o céu, me descubro mais só que o céu. A solidão é apenas a existência do céu no meu olhar, na minha alma. Viver, apenas para perceber que existe o céu. Vejo o céu pelo indefinido de mim, que conclui o céu. Conheço o céu apenas em mim. Vejo um céu previsível, sem detalhes, surpresas, expectativas, por isso me encanta. Não sei se é o céu ou a distância do céu que me encanta. Sei que namoro o céu com as palavras. Para que tanto amor pelo céu? Alguns perguntam. Sei que o céu me faz amar, falar de amor. Nem o amor faz o céu viver. O céu é meu olhar dentro de mim. Custei a acreditar que o céu é o céu. Dentro de mim, o céu é eterno. O céu não se percebe. Nada se esconde do céu. O céu expande a vida, o mundo. O sol é apenas uma parte do céu. O infinito do céu é vazio, mas me fixa o olhar. Tenho lembranças do meu olhar sem mim. Mas, ao olhar o céu, meu olhar se eterniza em mim, que nem a eternidade consegue impedir a eternidade do meu olhar. Há eternidades que duram no céu, outras apenas comparecem, para dizer que existiram um dia. A eternidade não é bonita como o céu. A eternidade não é perfeita, o céu é perfeito, enquanto eu puder vê-lo nas minhas poesias, que não precisam ser eternas para significar algo. O céu não é obrigado a ser eternidade, mesmo que o céu desapareça na eternidade, ele vai aparecer não pelo meu fim, mas vai aparecer pelo fim do meu amor. Como amei o céu, e agora ele desaparece para mim, como se fosse vestígios do nada. Mas, antes do nada, houve um céu, não vou esquecê-lo por não haver mais nada. O céu retornará como sonho. Eu nunca o eu perdi. A presença do céu não se acaba na alma, em morrer. Céu é vida, essa é minha única certeza. Meu medo de morrer se tornou amor pelo céu. Enfim só, enfim eu.

A pele de que vivo

Sou refém da pele, faz-me existir na dor. Sem a pele não consigo sofrer, não sou mais nem o meu sofrer. Para viver, não dá tempo respirar, mas dá tempo sentir a pele por dentro de mim.

Abraçar o partir do amor

Tudo sofre nada. O nada separa a vida do ser, como um abraçar o partir do amor. Abraçar o partir do amor cola meus pedaços no partir. Como suportar amar se o amor tira meu corpo de mim? Me deixa coberta do nada. O nada pesa no meu corpo, evolui a alma. Quando meu corpo é coberto por ele mesmo, exclui o nada do corpo, para incluir o sentir da alma. Deixo meu corpo ser ausência dele mesmo, estando dentro de mim, dentro do nada. Nada, ninguém, pode tornar o nada um nada. A alma torna-se corpo num adeus eterno. A ausência de que falo em palavras permanece mais que a ausência sentida, que é apenas o nada. Apenas pela palavra, a ausência existe sem o nada. No nada, nada é ausente, é pela ausência que penso. Abraçar sem ausência é ser só eternamente plena de mim, mas, se da ausência surge o nada, é como não haver vida, abraços, somos nós, fugindo de nós, da vida, do tempo. Fugi de um abraço, mas não consigo fugir do amor, que penetra na pele, na alma. A alma é a impermanência do nada, deixa dúvidas no sentir que meu ser não tem. Não importa se acreditei no amor para morrer. Um corpo com duas almas, para a eternidade do nada. Eu me esforço para a eternidade sofrer, sem lhe esmagar a alma. Tudo permanece num suspirar. A alma voa, sem a liberdade de existir, para nunca existir. Por isso, fica a poesia despedaçada, como se minha alma a recuperasse friamente, a paz da poesia. O desaparecer é poesia eterna no aparecer. Me apego a qualquer aparecer, ou o desaparecer. Cessar o aparecer, até surgir um novo aparecer. Aparências não enganam, tudo é como parece ser, por isso não há sonhos. O devaneio de aparecer me faz desaparecer, como o mundo que gira em torno da minha alma. O desaparecer é a alma dentro de mim. Deixando-me na alma, não sou mais eu. Sou o esquecimento de tudo. O que o amor pode me dar é apenas minha alma. A dor nasce de vida em vida, até acabar, se torna angústia: minha vida. Tem angústias que desconheço por existirem: é um aviso que necessito viver. Nada existe na angústia, por isso é fácil se angustiar. Dividir a angústia com a angústia é morrer. Não sei a dimensão de morrer, nem mesmo na angústia. Me desfazer, morrer eternamente na angústia sem a angústia, mesmo assim me angustiar, é que a minha angústia fica no ar que respiro. Respirar, única angústia que responde à vida. A vida não respira. Respiro por mim e pela vida. Se eu pudesse ser ao menos um nada na tua vida, viveria por sorrir, cada vez que vem, e quando partir, leva meu sorrir contigo. Incendeia-me de morte, de dor.

A negação une o que falta no pensar

Como o tudo se une na negação do ser, a espera é livre para viver, como a afirmação do que foi negado, empresta sua alma ao saber. Saber não é ser. Um ser para o outro ser é o nada da alma. O nada surge de um nada maior: o infinito. O nada é o tempo que falta em minha vida. A vida pode faltar à vida, mas o nada não pode faltar à vida.

Alma finita por amor

Alma que tem fim por amor, não por si mesma. A negação do meu ser é a minha alma, meu amor, minha vida. Tudo desaparece sem viver, isso é a vida. Minha alma é livre, é o mundo, é o aprisionar, é o libertar, apenas para estar em mim. Promessas de vida não são dívidas, deveres, são amor. Há tantas vidas que se perderam, num sorrir eterno, como se esse sorrir eterno pudesse ser a vida. E se a vida for apenas sorrir eterno, o que vou fazer? Tudo que faço agindo é por não existir. O que deixou de existir por sorrir era apenas vertigem do nada, que surgiu como sendo vida de depois. O que tornei minha alma se torna minha presença. A vida é o destino da morte. A alma, desaparecida como o encanto de uma ausência, que se revelou em mim. O coração trancado, numa vida aberta, mas se vê a liberdade, sendo livre de alma, de vida. Há tantas almas desencontradas na vida, por nunca se perderem, não quer dizer que existam sem as perdas humanas. Cada perda tem alma, amor. O amor não torna a perda uma perda, ela se torna uma perda em si mesma. A perda sonha comigo, é como se nunca tivesse me perdido antes. Perdeu mais do que a mim, perdeu a si mesma. São tantas almas, numa única vida. A vida não é esquecida como alma, e sim como vida. Perdas são almas que não sofrem. O sol aqueceu a minha morte. A morte tem perdas que a vida conclui serem os momentos que não foram perdidos com perdas, foram perdidos com a morte. A alma é infinita, no amor e no ódio. Sonhar é morrer, pelo despertar de um sonho. Sonhar é despedida. A despedida é o único mar em que não me afogou em viver.

Na sombra das palavras

Na sombra das palavras, me fiz sol, onde as palavras são luz, derretem o viver, como se a nostalgia fosse apenas palavras escritas ou não escritas, deixam saudade. O amor é o fim do ser, onde a sombra das palavras é o único pensamento. O esmorecer do sol na escuridão é a lembrança de que fui um dia mais do que sou hoje, não me impede de ser o que sou hoje. Sou melhor, sendo menos do que fui. Nada serei por ter sido um dia. A permanência é a única maneira de morrer, sem ser eterna em mim. A eternidade, lembranças vivas, distantes da vida. O espírito, lembranças do nada, onde, isento de lembranças, trouxe o mundo para perto, e assim construiu suas lembranças do mundo. O mundo se torna o mundo do espírito. Não, o ser não é do mundo, é dos espíritos, onde as sombras das palavras se tornam amor. Abandonarem eternidade pelo espírito, onde leio as sombras das palavras. Me desencontro do espírito, sem me abandonar, apenas por existir.

O valor da ausência

O valor da ausência é como deslizar na alma para me descobrir sem alma, e me encantar com a falta de alma. O valor da ausência não tem valor para a ausência, mas tem para mim, que fiz da minha ausência a esperança de Deus. A falta de Deus é sem ausência, na atitude divina de ser só. Nada da realidade pertence à vida. A realidade torna a vida ilusão. Não tenho ilusões de viver, por isso vivo. O tempo é uma vida vazia. Queria ver o invisível sem a inessência da vida. A inessência é visível, a vida não é. A falta de morrer se perde em inessências profundas, mais profundas que a essência. Ler pela ausência é decifrar a eternidade.

O insonhável dos sonhos (que não se sonha, não se pode imaginar)

Imagino o inimaginável. Nos meus sonhos não imagino, nem mesmo o inimaginável de sonhar. A falta que faz imaginar cria a loucura, como se fosse imaginação, sonho. O não sonhar são meus sonhos. Minha ausência é tão grande, que não existo na minha inexistência, que é toda existência possível dos meus sonhos. Sonhar não é existir nem não existir, é a falta do não existir para o existir que permite o sonho penetrar na morte, que é a pele da vida. Escrever faz da alma um isolamento sem solidão. O sol é uma poesia que se desmancha nas mãos de quem o sente. Sonhar, morrer, viver, é o mesmo sonho, que se aproxima do sol em silêncio, para enaltecer a ausência do sol, que escurece a poesia, lendo-a cegamente na falta de mim. A presença de escrever é mais corajosa, forte, que o sol, pois consegue na escuridão ver a sombra que reflete a luz do saber. Sei das sombras, que me tornei sombra da sombra de mim, onde o sol nunca desaparece. Ele vive das suas cinzas, ilumina até suas próprias cinzas, na esperança de ter, alegria, da mesma forma que ele amanhece.

O pensar da ilusão

A ilusão pensa com o meu amor, que, mesmo distantes, se uniram, como se toda ilusão fosse o mar; e o amor, o cessar do mar. O infinito do mar é o pensar da ilusão. Penso na ilusão, como se pensasse em mim. A verdade da alma é o ser, mas a verdade do ser não é a alma. Há muito a se fazer pela falta de alma. Fazer algo é não viver. Fazer do ser sua falta de alma é lhe dar minha alma. O tempo somos nós, em busca de lembrar de nós juntas, ou ao menos de uma de nós. O pensar da ilusão é como o nascer do sol invadindo o tempo. O tempo é um pensar aflito. Nunca pergunto como está o tempo, mas exigindo que ele me realize. O tempo se transforma em realização. O tempo, lugar vazio, que não é vazio. Pensar é ilusão. Pertenço à realidade do pensar, mas não será a mesma realidade da ilusão? Ilusão não é amor. O tempo não é amor. Nada é amor, apenas o amor é amor. Será que o que não penso existe ou será que eu faço o meu pensamento não existir? Escrevo pelo pensar da ilusão, isento do consciente e do inconsciente. O pensar da ilusão é a falta de carícias na alma. E se a alma for ilusão? De que ilusão é feita a alma? Da ilusão deste sempre inconcluso, por isso definido. O pensar da ilusão é o amor da alma. O pensar da ilusão cessa o amanhecer como nada da ilusão, onde a luz sobrevive a si mesma. Onde há luz, há esperança de que o escurecer seja apenas o pensar da ilusão; e o meu ser, luz da luz, vida. Eu dei minha alma a mim, como certeza de que a ilusão não existe. Sonhar não é ilusão, sou eu, meu respirar, meu pensamento, minha forma de amar. Minha forma de conseguir viver.