Blog da Liz de Sá Cavalcante

Alegria de impermanência

Pela impermanência, sinto o meu ser, mas sei que essa impermanência não é amor. Amor para mim é a permanência do nada, permanência perfeita, absoluta, como se eu estivesse segurando o sol em minhas mãos. Estou dentro do sol, que me irradia. O sol floresce, como se fosse uma flor, é quando sei que posso morrer feliz, pela permanência das coisas, que é o próprio nada.

O silêncio do silêncio

O silêncio se escuta na alma, a falta do silêncio não é viver. Se a alma não for o silêncio, não há silêncio. O silêncio do silêncio é uma maneira de eu esquecer o silêncio, ficando em silêncio. Fico em silêncio, para não pertencer ao nada da minha voz. O silêncio não pensa, mas tem vida, alma, amor.

A eternidade da solidão

A eternidade da solidão é a lembrança do desaparecer. A lembrança do desaparecer é mais do que lembrança, é a minha vida. A eternidade da solidão é o meu amor. Não há quem me ame mais do que a solidão. Apenas ela me faz parar de pensar, como se eu fosse a eternidade. Sonhos não são eternos, deixei os sonhos pela eternidade.

A existência é uma má-fé

São tantas cópias da alma que construo em mim, que não sei qual é a original. Não sei mais o que é alma de ser e o que é morte. O sentir machuca o sentimento, até eu perder o prazer de sentir. Conhecia o sentir pelo prazer de sentir, até descobrir o amor. Não me importa ter prazer em sentir, se amo. O nascer não é só, nasce unido a um adeus. Sem a morte, o respirar não flui, pela saudade de você, onde sinto saudade de mim. Será isso me perder?

O silêncio do som

Existir ou não existir, continuo com a mesma história de vida. Sofrer é o silêncio de um som. O prazer, a angústia, será o simbólico de ser, se tornando um não ser? Quando amo, sinto a impermanência da morte no meu suspirar. Assim, o silêncio do som se rompe na eternidade da vida, onde suspirar e falar se misturam, com sofreguidão, numa impaciência para amar este sempre, que é como uma nova vida, um novo amor.

A invisibilidade da morte

Torno-me o que sou. A invisibilidade da morte fez morrer minha visibilidade, não me fez morrer. A morte são pedras, que se diluem nas águas da vida. A alma toca meu corpo, como se me tocasse, sente melhor meu corpo do que eu. Não se enterra a alma como se enterra a morte, são duas mortes diferentes. O sonho é uma morte em vida, onde minhas cinzas desaparecem na solidão da vida.

Como aprender a perceber?

A sensação não é uma maneira de ser descoberta, é uma alegria que não pode existir. A vida sem alegria é uma sensação distante da sensação, se torna percepção da vida. A luz das palavras é um abismo, sem a escuridão. A escuridão do ser é minha única percepção da vida. Por isso, o ser necessita das palavras para, ao menos, não morrer na escuridão.

Convicção

Minhas cinzas fazem meu corpo durar em não existir. Meu próprio amor tem medo de ficar sem mim, de eu morrer. Compreende-se a vida como o nada, eu vejo a vida no nada como um corpo. A alegria do nada é tristeza para o corpo, mesmo o corpo sendo o nada. Sentir o nada é a vida inteira sem o prazer de sentir o nada. A vida são pedaços de tudo, que não cabem na vida. Inadmissível esta convicção do nada, que não há pedaços de vida, há apenas o nada, de vida nenhuma. Esquecer o nada da vida, pelos pedaços de alguém, nesse alguém, que não conhece o nada, a vida. O amor se perde, se conquista no nada. O nada me lembra uma flor a desabrochar no seu nascer. Apenas o nada se lembra de mim. O nada não está em qualquer um. É raro o nada, é como ter essência na saudade do nada, minha única esperança de existir, como sendo a saudade do nada. Nada me falta, apenas eu e o nada, onde tudo importa sem a vida, que não é o nada, não é ninguém.

Inadmissibilidade da vida

O fim é a subjetividade do ser, que é amado como merece: sem o seu fim. O fim não é o fim de si mesmo. A exaustão da vida é a alma. Amo, para ter a sensação de viver. Mas o amor nunca será uma sensação, amor é dar ao mundo o que é do mundo. O amor é perda da alma. A existência não quer a existência de ser. O amor existe e não é real. O amor é o entorpecimento de um sonho. A insensibilidade de sonhar é a eternidade do sonho. O fim do sonho é o amor. Estou foragida do amor. A alma está no corpo, fora do corpo. Alma é o meu esforço para viver. Alma pode ser qualquer coisa, alma é fé. Pensar é forçar o nada a uma realidade, que apenas o pensamento tem. No inconsciente, eu sou eu mesma. Pensar é deixar de ser. Alma e espírito, exclusão do ser, que domina a realidade, como se me excluir fosse manifestação de amor. O amor é a vida, a morte é o afastamento do ser em sua presença. A presença do ser não é minha presença, é a presença da vida. Corpo, alma, é uma maneira de aceitar a morte. A falta de morrer é a morte. Presença nunca existiria sem o meu amor, mas não é uma presença de amor, e sim de urgência, de solidão. Existo para a alma como única, e a imensidão se dispersa, até se tornar o meu desaparecer. Desapareci por existir para a alma. Enfim, juntas.

Pedaços de aparência

As coisas não são o que conheço de mim. Pedaços de aparência, que vejo em mim, confundem os pedaços da minha aparência com meu olhar. Meu olhar é apenas aparência, que nunca conseguirá ser pedaços de aparência, que são mais do que aparência. Pedaços de aparência massacram o meu ser, ser é sem aparência. Amo quando minha aparência se reflete na eternidade. Nunca mais voltarei a falar como se eu existisse, falo pela minha inexistência: voz eterna do saber. A impenetrabilidade da vida penetra na vida como amor.