Blog da Liz de Sá Cavalcante

Coerência

Tudo estaria perdido no querer. Não é simples querer. Querer algo é a coerência de ser. Existir não tem querer. Você fez da minha alma pedras, como um muro de pedra nos afastando em emoções de pedra, que destrói o amor com o que falta no ar. Mas o pulmão não tem ar, tem apenas pedras. É pelas grades do tempo que nós nos comunicamos e sentimos falta das pedras que nos afastam. A poesia tenta me interpretar, sou única em mim. Meus gestos são levados por um instante de esquecimento, que poderia ser poesia. A poesia não pode ser esquecida, como se tivesse perdida. Posso perder o céu, as estrelas, minha vida, a minha morte, mas não posso perder a poesia, que se encontrou em mim, na delicadeza da minha ausência, que é apenas poesia.

O que minha aparência sabe de mim?

Não me disse o que somente palavras podem me dizer. Palavras não são palavras, são reconciliações da alma. Palavras são a aparência do possível, na minha falta de aparência. A aparência é algo indefinido, que vou compreender morrendo. O amor marcou a alma, destrói-a, sem palavras, atitudes. A destruição é o bem da alma. A alma é apenas aparência. Meu ser é além da alma. O silenciar da alma é apenas o meu amor, de encontro ao vento. O amor me toca, no intocável do ser. O ser toca o corpo, a saudade toca a alma. É fácil sentir o corpo sem saudade do corpo. Sentir o corpo, sentindo saudade do corpo, é sentir a alma no corpo.

Imaginar-me

Imagino-me sonhar, se não posso sonhar. Amanhece, para o sol pesar nas estrelas, e meus sonhos a desaparecerem nos meus sonhos, para que eu possa vê-los.

O amor é o maestro da vida

A vida sem a vida é sinceridade. A vida é a insinceridade do ser, apenas o amor pode transformar a insinceridade em amor. O amor, que é verdadeiro na insinceridade, por isso não sei se morreria por amor. O amor morreria por mim, se houvesse o que morrer por mim. Morrer é ser. A vida não precisa de significado se posso amá-la mesmo morta, sem significado. Pobre vida, começou sem significado, terminou sem significado. Nem a morte significa algo, tudo é o vulto do nada, que me rodeia, como se fosse o sol da existência, que não é o mesmo sol do amanhecer. Mas, sendo sol, é o que importa, o amor, maestro da vida, toma conta do sol, seja lá como ele estiver, é sempre sol do amor.

Um momento para o instante

A distância se tornou intensa, como um momento eterno de um instante, que é amor. Eu não vivo o instante, acaba rápido, eu vivo o amor de um instante. A eternidade se perde num único instante de amor.

O ser é o tempo de si mesmo

A vida não nasceu, mas respiro, como se a vida já tivesse nascido. Nasceu mais do que a vida, nasceu o ser, sendo o tempo de si mesmo. Um tempo sem vida, feito de ser. Cada vez que respiro, a vida se distancia dentro e fora de mim.

A apreensão do outro na minha apreensão

O sonho de ser não acaba rápido como o ser. A alma se entristece a si mesma, como se fosse eu a sofrer. Meu amor é puro demais para amar, mas eu amo! O infinito é pouco amor, o amor é muito quando é o fim. Fiz da ausência amor. Eu era apenas uma poesia, afastada da vida, não vivi o amor, vivi a ausência do amor, assim a minha presença me espera, sem ausências, no silêncio eterno, pleno de amor.

As marcas que deixei me deixaram marcada

Não sei quando minha vida acaba, mas sei que acaba nas marcas que deixei. Consigo viver apenas na ausência, que é o sofrer da solidão, onde cessa minha solidão. Vivi tanto, que não deu tempo ser eu.

Poema retalhado (feito de retalhos)

Tirar a ausência da ausência é como tirar o céu do céu, pelo retalho do poema. Nada será como antes, mas é melhor agora, que não posso esquecer o poema, que são apenas retalhos do poema. O poema nunca está inteiro; se fosse inteiro, seria só. O fim do poema é o começo de viver, onde não preciso de explicações para viver, basta chorar pelo poema, pela vida, e tudo flui. Fluir é mágoa que conforta.

Sentimento amordaçado

A vida consegue esperar que eu seja eu, no sentimento amordaçado de viver. Existir é a continuação da vida. As certezas que tenho são amar. O sentimento tenta me dizer algo que eu não conheça, conheço-me melhor do que o meu sentimento me conhece. Quero ter a vida de novo, como se nunca a tivesse perdido. Viver me curou de sofrer. Nada mais existe além da minha alegria. O sol se aproxima do mar, enaltecendo meu amor. Há algo além do mar? Nada sinto longe do mar, é como se a vida fosse um sonho do mar.