Do esquecimento, surgiu o ser. O esquecer é o infinito de mim. O esquecimento é uma queda por dentro do próprio corpo, que atinge o abismo sem alma, fim do abismo, começo do fim.
Minha alma é apenas mágoa |
Minha alma é apenas mágoaDo esquecimento, surgiu o ser. O esquecer é o infinito de mim. O esquecimento é uma queda por dentro do próprio corpo, que atinge o abismo sem alma, fim do abismo, começo do fim. |
O amor não é consciência de si, é consciência da vidaO nada, que existe no lugar do amor, torna-me um ser. O amor não é consciência de si, é consciência da vida. Falta de sofrer no não ser de mim. O não ser é um pedaço de mim, que penso ter perdido. A consciência só não faz sofrer. Sofrer é ter a consciência por mim, em mim, onde sofrer tem tanto poder, penso ser o sofrer minha consciência. O tempo não retorna na saudade, nem no vazio, ele é o fim do fim. Mas não existe tempo nem fim na saudade. A saudade preenche o vazio de ser. O vazio do ser é íntimo do ser. Dessa intimidade, nasceu o mundo, para concretizar o vazio no ser. Ser para o ser é o mundo. Sem o vazio, desabo sem o abismo de mim. O abismo é apenas como me vejo, mas me ver como abismo não define quem sou. Se eu soubesse o que sou em ti, me reconheceria em ti? O amor deixou de ser consciência, tornou-se reconhecimento da vida, sem a consciência. Esquecer-te, minha única consciência, que não habita o nada dos meus olhos. É impossível amar sem o ser, que é o negativo do ser. O meu olhar dilui o ser ao o reconhecer nele. A lembrança de ser morre como o ser, mas ela não é o ser. Lembro-me do que não existe mais, como se acontecesse agora: meu corpo saindo de mim, sem me deixar. Deixo o corpo voltar a mim, como se nada houvesse acontecido. Não dá para reconhecer a consciência pelo meu corpo. A minha consciência terá um fim: dentro de mim. Há mais consciência no céu do que no ser. Por isso a vida fala a linguagem do céu, e o ser fala sem compreender, quer existir pela fala. Sendo que meu ser existe, mesmo que o silêncio seja mórbido, meu ser vai além do silêncio, meu ser vai até sua imagem, como um resto de silêncio que não se perdeu. Chorei pela minha imagem. Por que ela não pode ser apenas silêncio? A falta de tudo permanecer é o nascer da vida. |
A exigência da poesiaA poesia exige que eu não seja só quando escrevo, que seja nela tudo que sinto. A recusa da permanência do meu ser é exigência da poesia, quer que eu viva apenas nela, mas nela não se pode viver. Jamais viverei na poesia, sendo apenas sombra da poesia. A sombra da morte não me deixa ser sombra da poesia. As vivências precisam se unir à vida, mesmo sem palavras, que nunca seriam ditas, nem pela voz de Deus. O nada transforma a vida em algo melhor, por isso ele foi superado. A poesia nada significa para mim sem o nada da poesia, que me faz viver mais do que a poesia. A poesia não sente seu próprio nada, perde todo o significado. Eu fui o significado da poesia até o nada me substituir. Eu clareei o nada me anulando, fazendo dele o que não pude ser. Fui o significado das minhas perdas, que me fizeram ainda ser alguém para mim. Alguém que não posso ser em mim. Perdas são sonhos intraduzíveis, não faz parte da realidade isenta de sonhos. Traduzem-se os sonhos sem sonhar, concretizando o nada, onde não posso viver sem mim. Se a poesia não exigisse nada de mim, morreria num vazio sem fim, sem poesia, só, restou o esquecimento, de onde não despertarei, mesmo sendo eu esse despertar. |
A poesia não se compreende como poesia, e sim como sendo o nadaSe eu morrer, viverei na luz do dia. O dia, sem poesia, dura eternamente, mas é imperfeito, tão imperfeito quanto ter amor. O amor, na poesia, o dia é perfeito, dura pouco, como uma alegria que permanece, mas não dura. Abandonar a poesia é esquecer o nada de mim mesma, sem regressar ao vazio de um pensar vazio, é tão vazio, cheio de luz. Comemorar a poesia sem poesia é como existir apenas em mim. A existência sem poesia é o suspirar do nada, como sendo a poesia da poesia. Eu não morri poesia, vivi poesia, tão eternamente que não posso morrer. A poesia é a eternidade do meu pensar, do meu amor. Apenas a poesia pode me fazer morrer, pelo sol que me ilumina, reduz minha morte, para eu sofrer. Sofrer não me impede de ser poesia. Minha dor cura a vida da vida. Sofrer não é a razão da poesia, mas pode ser poesia no fim da poesia, onde posso sofrer. |
Contorcendo-me em dorMinha alma não está completa, mas não precisa de ajuda, eu posso ainda me contorcer de dor, sozinha, sem a falta do teu abraço, do teu amor! Eu amei sozinha. Tu, por que não me amas?! A aparência do mundo não é o mundo, mesmo assim me sinto acolhida pela aparência do mundo, como se fosse o mundo! A aparência do mundo se perde na imagem do mundo! A vida morre para salvar o mundo! O adeus não acaba, o para sempre sempre acaba. O para sempre acaba, como se o infinito fosse todo seu e de ninguém mais! O infinito não é o fim, é promessa de vida na minha alma, no meu ser! Quando o sol voltar por esquecer a vida, serei como o sol que desponta no amanhecer! Não dou a mesma liberdade à alma que dou à vida. Não há aparato externo para a vida, ela está completamente exposta a mim! Expôs-se tanto, que não sei mais o que é viver! A separação é a única realidade que tive em vida, por isso não consigo me separar da separação, eu a necessito, para que a pior dor, agonia, venha se abater em mim! A consciência é um esquecimento profundo, de onde nasce a alma, como incerteza absoluta de que eu existo! Mas quando o coração da alma bate, o meu bate também, somos nós dois corações aprisionados no sentir! Não sentir é sentir em demasia o que não sou! O que não sou me deixa livre para ser o que sou, que não é o que há em mim! A morte não sacia a vida, a alma sacia o meu ser, que cessa para sentir a morte. Se eu tivesse uma realidade, não ia querer que ela fosse alma. Alma sem perder o ser é morrer! Faz-me morrer sem mim numa única atitude de te ter, a continuidade da alma: é o ser! Não sei o que é falar, comunicar, amar, conviver. Vivo dentro da alma, não quero sair! |
Pensamento no corpoMeu ser não precisa de mim enquanto meu pensamento for o meu corpo. A única coisa, ser, que não é ausente é a ausência. Sofrer é viver sem ausência. A expectativa é uma ausência de amor. Por isso, a expectativa é alcançada, até mesmo sem o ser. O ser não é para si próprio, nem mesmo a sua própria ausência. O ser é a expectativa da expectativa infundada do ser. O ser perde a expectativa nas expectativas. Expectativas são os movimentos da alma que circulam sem vida. O pensamento pensa ser outro alguém. A falta de alguém é o meu pensamento. O pensamento não é ser, mas posso ser o corpo de alguém, na lembrança do nada, que não é corpo, não é ser, não é pensamento, é apenas fascinação. O corpo é a leveza da alma, por onde a alma se cura de sofrer. O pensamento vive no corpo, na sua distância do nada, que é o próprio nada na falta de um adeus. |
Minha alma sendo a alma da vidaMinha alma, meu mundo, seja interior ou exterior, é o meu mundo. Não existe amor na existência, mesmo minha alma sendo a alma da vida. Tenho alma, quando não consigo sofrer, ser, a alma sofre por mim, mas nunca terá meu interior. Uma alma quando não consegue se separar da outra, é porque conquistou a eternidade pelo meu sentir, que, mesmo sem ser o sentir da alma, fomos eternas num único sentimento: o de amor. O amor se esquece amando. Escrever é a eternidade do céu, que cessa a minha eternidade de ser. Não me incomodo de ficar sem a eternidade, incomodo-me de ficar sem mim. Não preciso da eternidade para ser feliz. Por mais que eu me encontre em mim feliz, não é eternidade, é um adeus. Vida, eu e a poesia te amamos, onde a eternidade não pode nos alcançar, somos mais do que eternidade: somos amor. |
A alegria resplandece no nada do serA alegria é nada perto do céu; longe do céu, a alegria se perde no nada sem o ser. A lembrança foge da alma, fica neutra entre a alma e o ser. A vida não é realidade, nem é sonho, é apenas a falta de mim, onde a realidade e o sonho existem apenas em mim. Na alegria ou no nada, nunca deixo de sonhar. Sonhar já faz parte da minha realidade. Meus abraços se descobrem mudos em meus braços, para sustentar a falta de vida, e, mesmo assim, tenho voz para falar de amor. |
Não sei se sou eu que escrevo pela poesia ou é ela que escreve por mimNão sou só, tenho o meu amor. Estou feliz, como se o céu existisse por minha causa, e eu abraçasse o céu, com ele querendo ser abraçado por mim. O céu não vive, por isso é poesia; tento escrever, como se eu fosse o céu. A alma que vai e a que fica são a mesma alma, vivendo dois momentos diferentes para continuar a existir. Permanecer é me afastar da alma, da poesia, que me deram a vida, para sonhar de verdade. A poesia não pode ser meus sonhos, mesmo assim sonho. É quando escrevo pela poesia, e ela escreve por mim, é como se a história da poesia fosse eu, e a minha história fosse a poesia. Temos muito o que compartilhar, conhecemos o outro em nós, mas não conhecemos a nós mesmas. Esta é a história da poesia e o seu fim, é eu me conhecer e a poesia se conhecer, para ficarmos juntas neste inseparável de nós duas. |
Apenas os bons amamSonhos não permanecem em mim, por isso existem, feitos de alma. Alma que dura o instante do sonho, a alma é um instante de sonho. Eu tornei o sonho algo feliz, o sonho não tem reação, apenas sonha comigo, em felicidades extremas, que compõem minha morte de alegria. Tudo em mim é tão felicidade, que transcende em alma, bondades infinitas. Somente os bons amam, por isso a vida é perfeita, até mesmo quando não preciso mais dela, morri, vou sonhar sonhos nunca sonhados, vou ser o infinito de sonhar. A maneira de eu conviver sempre com todos, sem ausências, é sonhando. Apenas pelo sonho, conquisto a vida, pela lembrança do seu existir, alegria, sem você estar comigo, já sou feliz. Agora, imagine se estivesse comigo, alegria, eu seria eterna de alegria. Mesmo se eu perder você, continuarei feliz, pela alegria que tive um dia, que era mais feliz que o mar, que o amor mais pleno, sublime. Tão sublime como perder a alegria na saudade de você. |