Blog da Liz de Sá Cavalcante

A saudade faz eu perceber que amo e o quanto ainda posso amar pela saudade

Quem me dera socorrer o sol da chuva, fazer a vida viver por mim, em mim. A saudade é um sol infinito, sem ausências. A saudade de viver me faz ser, não troco a saudade de viver pela vida, nem por ninguém. O fim de escrever seria minha pior morte. Nunca posso morrer como o fim da poesia, seria o fim de tudo. A poesia cessa a vida, a morte, mas não cessa o nada de ser!

A razão de ser não existe

A imensidão sem o vazio não é poesia. É a alegria que define a falta. Sinto falta de mim ao ficar comigo. O silêncio é a falta do que não existe, para poder suspirar palavras. Não há transcendência na ausência, mas a ausência se realiza na transcendência. Não sou minhas faltas, mas faço falta às minhas faltas! Como faltar a mim, se sou a falta de mim? Não quero viver o que dê para viver, quero que a vida seja para viver. O ser é um intruso para a minha consciência, para minhas faltas. Não há faltas na solidão. O preenchimento se preenche só, sem solidão, sem o suspirar da falta do acontecer. Nada acontece sem o teu acontecer. O acontecer não acontece sem o sempre. Nada acontece, por sempre existir.

A distância da morte

Meu ser cessou minha dor para a distância da morte ser apenas uma possibilidade. Apenas a alma tem vida interior e exterior. Apenas a alma me distancia de morrer. Morrem, pela ausência de alma. Vejo meu olhar pela minha alma, transmite em mim a morte que necessito ter. É mais fácil morrer do que amar, por isso não existe distância, existe a morte!

Como me dividir entre a abstração e a vida?

Para que morrer se não serei mais eu a amar?! A perdoar o que eu amo, mas o amor não tem perdão, não há como deixar de amar, se já existe amor! Não posso deixar minha vida na morte, ela não merece a morte. Eu posso morrer, minha vida não! Ela foi a única, e mais essencial de mim mesma, onde a lembrança é viver! O infinito espera o amor, mas o infinito não está só, tem a permanência dos segundos desprezados pelo ser, como se a permanência fosse o excesso de momentos de amor! Permanência é conseguir paz no amor! A realidade não está no céu, nas estrelas, mas no meu coração sombrio! O real é o ser, escolheu ser para lhe tornar real! Quando morri, nada percebi na realidade inerte, isenta de mim! Morri, para ter uma imagem, para me fixar na vida que não possuo. Meu pensar é minha única companhia, que faz a morte valer a pena, se for para pensar em mim sem dor! A alma reinventa a vida sem a vida! Como me prender à alma se no amor ela jamais está comigo? A solidão é a falta da alma, que não pode estar ausente em sua falta! Queria ao menos sentir sua ausência, alma, no despertar da morte! Não vivo para ter consciência de ser, vivo inconsciente ou consciente. A vida não muda pela minha consciência ou inconsciência, a vida muda por ser sempre eu em mim! Quando o corpo encontrar a alma, nada mais houver a buscar, não haverá vida, nem morte, haverá apenas o silêncio morto no ar, que eu devia respirar. Transpiro esse ar, pelas lágrimas. Se não pode me dar paz, me dê a vida, me dê a morte, e ficarei plena, sem a paz! Paz é a falta de plenitude, que preenche a vida, mas não me preenche, me desfaz, sem as trevas da essência que dissolve a alma, para ainda amar o que não sinto! Nada do que vejo é esquecido, mas não é visto pela visão, e sim pelo amor! Somente pelo amor, vejo as coisas sem precisar entendê-las, tê-las dentro de mim. Essa falta das coisas me faz enxergar o ser como ser, não como coisas, lembranças! Ser é mais do que lembrança, é a vida que necessito ter, mas não tenho! Olho a vida para esquecê-la, como nódoa na alma. O ser é livre das lembranças, mas não é livre de si mesmo! Daqui a pouco, não poderei olhar a vida, não poderei ter nenhuma lembrança da vida! A única lembrança que tenho é esse nós, que não existe, mas existe em mim, como ausência, como depois!

O silêncio enobrece a alma

O silêncio capta o nada sem palavras, sem ser, sem amor. O nada relaxa na ausência da vida, como um amor que acontece sempre. O nada é esse sempre.

O concluir inconsciente

O concluir inconsciente é a morte. O inconsciente vai além da consciência. A consciência não pode se tornar ser, o inconsciente é o ser. O ser pode se isolar dos outros, mas não do que é! Esse isolar-me é o único amor no meu ser. Não posso perder minha morte para o meu ser. A morte é minha alma, onde a única luz, a única paisagem, é a do saber. Aprendi com a morte que minhas perdas não eram apenas perdas, eram reconciliações vitais com o nada. Apenas o nada recomeça por ele mesmo. Visões apodrecem a vida. A força do olhar é destrutiva, mas sorri, esconde o olhar da destruição. Destruir é construir o meu próprio ser. Tudo que sei foi destruído como consciência de mim. Não há consciência para a consciência. A vida é consciência da consciência. Amar para não ter amor é toda consciência que posso ter.

O juízo sem a vida

A transparência não mantém a vida. A transparência somente é visível na alma, pelo ser. Posso até morrer, se a vida acontecer. Algo precisa ser vida, para me buscar da morte, para eu renascer como o sol. A brisa, que aquece meu amor morto, que renasceu em mim, longe do sol, da distância do infinito, onde o princípio de tudo é o fim. Meu amor quer que eu retorne a ele, sem vida? A realidade humana cessa, numa natureza sem fim. O amor sem a natureza não é amor. A liberdade faz eu perder a alma, o meu ser! Não há sinal de morte na minha morte, morri como por encanto.

O prolongar do nada

A vida afasta o nada. O prolongar do nada não é capaz de viver por mim. A vida afasta o nada, sem o prolongar. Liberta minha alma da alma, ela é apenas um vulto de mim, que presenteia ao sol com minha aparência, que nada é sem a luz do sol, até o sol não mais iluminar e ser real como o céu, que amanhece o sol!

Desaparecer

O amor desaparece apenas para o amor, no amor que sinto, que faz o amor desaparecer eternamente em mim, apenas porque amo. Desaparecer, para aparecer apenas para mim. Desaparecer é o sol da consciência, se entregando à luz do meu ser.

Coisas das coisas da vida

As coisas não surgem por aparecerem, e sim por existirem, pelos movimentos da alma. Eu possuo um corpo, que se movimenta pelos movimentos da alma, que já é um corpo, antes mesmo de existir. O destino é dos que não fazem parte da vida, onde não há adeus, isolamento, há apenas a esperança de que o nada se realize em mim, se faça em mim, mas que não se torne eu.