O amor é apenas uma palavra na escuridão de uma sentimentalidade mórbida da agonia. A verdade depende do amor da morte. A verdade é uma morte que não morre só.
Sentimentalidade |
SentimentalidadeO amor é apenas uma palavra na escuridão de uma sentimentalidade mórbida da agonia. A verdade depende do amor da morte. A verdade é uma morte que não morre só. |
O que é um ser?O que é um ser? Um questionamento? Uma perda? Um nada? O que é a perda sem o ser? É o fim do nada? O que é o nada para o ser? É o que deveria ser o infinito? O significado do ser não é o ser, não é a vida, não é o amor, são as suas perdas, que não precisam de um fim. O fim da perda é morrer! O céu não é céu por falta de perdas, é luz dos meus sonhos, que um dia será escuridão. |
Abraços de poesiasAbraços de poesias não precisam de um corpo, e sim de alma, trazem a vida para perto de mim. Mas quero que a poesia aprenda a abraçar a si mesma, como se fosse eu a abraçá-la. Meus abraços não podem ser a eternidade do abraço da poesia. Ela tem sua própria eternidade. Eternidade que não se encontra no olhar. O olhar, sem eternidade, pode ser um olhar que dorme pela eternidade. Não há eternidade na eternidade. O sol esvazia-se de céu, sua única luz é o ser. |
A voz da ausênciaA voz da ausência não fica muda na presença. Mesmo sem vida, dei-te vida, alegria. Converso com a minha voz de ausência, não me deixa ausente de mim. Meu amor é a minha voz, sem necessitar do infinito. O sonho me abraça, perco a voz de emoção. A ausência é a lembrança mais perfeita, real, eterna em mim. A eternidade deixa de ser eterna pela eternidade da ausência, que trouxe a noite para os meus sonhos, pela insônia de viver, torna a noite mais linda, agradável, acolhedora. Não durmo pela noite, durmo por mim, para resgatar meus sonhos, sendo feliz. A alegria não é um sonho, a alegria não me faz sonhar, ser feliz. Sou feliz sem alegria, é como conhecer o céu viva. Eu invadi o céu com minhas poesias, nunca mais o céu deixou de amar, de falar. Nunca mais haverá silêncio no céu. Apenas o céu fará da poesia sua eternidade. A eternidade é pouco para a poesia, para escrever. Minhas mãos são a alma da vida a florescer no meu corpo. Sem poesia, refaço a vida, sem eternidade. A eternidade é a minha alma, solta no mar, desaguando o nada de si mesma. Há mais mar do que vida, por isso não demora. |
Lembrar não me torna um serA paz, esquecimento da vida, que não me faz viver. Não consigo lembrar quem sou, nem mesmo pela paz que sinto. A saudade, essência do nada, não encontra sua solidão. Talvez, a solidão seja desocupar o sentir de mim. Entre no meu pensar, torne-o seu, você é o motivo de eu pensar, de eu ser triste. A saudade está viva pela minha morte. |
A poeira da morteA poeira da morte é uma vida. Vida que nasce da própria vida. Varrer a falta da morte, sem a poeira da morte, que impregna o nada. É como se o nada tivesse pele. O depois, sem mortes, não acontece. Vou desaparecer depressa, como se eu fosse o sol nascendo, de mim, do meu desaparecer. É preciso ter alma para desaparecer sem morrer. Morrer é aparecer para sempre. O sempre existe, por amor à eternidade, mesmo sem nunca se verem, eles se amam tanto, é como se se vissem eternamente, pelo amor que um tem pelo outro. Nunca se veem, mas se conhecem sempre, pode passar o tempo que for, haver a perda ou decepção que houver, são inseparáveis de alma, tão unidos, que parecem ter o mesmo significado. A eternidade existe no para sempre, o para sempre na eternidade, sem ser presença de nada. O que fez comigo? Tornou-me presença ausente. O jardim das ausências tem mais flores. É tão funda a ausência, que mergulho nela como se ela fosse o mar: é o mar da minha ausência. |
Lágrimas de ventoA vida são lágrimas de vento, num coração de vidro. Escondi a escuridão da escuridão. O céu não tem escuridão, tem ausências. Se sorrir fosse ausência, iria sorrir facilmente. Lágrimas ao vento, suspira a consciência inexistente. A consciência é a falta do agora. O agora pode ser um sentimento, uma dúvida, um talvez. O amor pode ter dúvidas, mas tem certeza de alguma coisa? Ventos se espalham sem amor, arrumando vidas, destruindo sonhos, vitais para o amor. A eternidade é um sonho. Falar como vento, sem suspirar o silêncio, é impossível. |
A mão que balança a morteA mão que balança a morte a embala, deixa-a cair. Arrebentada, a morte dorme sonhos de vida. Estou velha de ausência e morte para acalentar a morte. A voz, que é o infinito, num corpo sem mãos. Mãos que tocam o fim do infinito, como se tivessem moldando vidas. As vidas escapam feito mãos. |
DesinteresseHá um desinteresse real pelas coisas da vida, como se elas nos fizessem morrer. Somos nossa própria morte. As coisas me fazem esquecer de mim, isso é bom, mas não pode se eternizar. Ter o infinito é não ter mais nada; minha alma não obedece nem ao finito, nem ao infinito. Se a alma fosse finita ou infinita, deixaria de ser alma para poder se sentir alma. A alma sente a si mesma, como se ela fosse a humanidade. A humanidade surge da alma, como o vento, que não consegue balançar a natureza de onde a levou. A alma é natureza do amor. |
A tortura de existirRindo à toa, sem a tortura de existir. O silêncio canta o encanto de viver. Viver é esquecer de mim, da mesma forma que o sonhar amanhece de sol. O amor, seco por não sofrer, é sem ausências. A ausência no sofrer é a perfeição da vida. A linguagem da ausência é o ser; a linguagem da aproximação é o nada. A lembrança do meu corpo é o esquecimento do meu ser. Apenas me esquecendo de mim, lembro-me de ti. A vida espera que eu a esqueça, como te esqueci. Esqueci-te, sem sobreviver ao nada da tua ausência. Existir faz parte da ausência. A ausência é minha vida. Não posso sentir a ausência distante de mim. A falta é o fim da ausência. Sou ausente de tanta alegria. Meus pensamentos não vão partir pela ausência. Pensar é ausência. Olha para mim, que vai acabar ausente de mim, pelo vazio do meu olhar. O vazio é o meu coração a bater. O que a união ou separação é sem amor? Nada! Há mais pessoas do que vida, por isso as pessoas não sentem nem mesmo o vazio. Apenas o vazio não é vazio. Resseca-me de amor. Amar é ser vazia, mas não é o vazio. O vazio de ser não está nas coisas, no ser, na vida, está no significado do vazio, que dá vida ao amor. O vazio, sem um significado, não é vazio. As palavras tentam dar um significado ao vazio. Não há nenhum significado sem o vazio. A morte trava o sentir com amor. Amor, que devia existir na vida, ou, ao menos, no vazio da vida devia existir. Sinto a falta da existência, que existe sem a vida. Mesmo sem a existência, ela é presença especial em mim. Não há lembrança sem o vazio. |