Blog da Liz de Sá Cavalcante

Atemporal (em que não há tempo, fora do domínio do tempo)

Sem o tempo, o tempo existe, fora do tempo, pelo imaginário do ser. A imaginação é o tempo real. Ter esperança é ficar perdido na esperança. A esperança é sem sonhos. Eu criei o sonhar da esperança. A esperança é a certeza de imaginar quem sou, sabendo não ser nada. O tempo é a certeza de não ser eu. O olhar é a certeza de que nada existe, por isso não é triste. Não posso desaparecer do desaparecer de mim.

Caminhos de sol

Onde está a escuridão do sol que foi silenciada pelo amor sem sol? O sol me escuta pela sua escuridão. É dia na noite. É amor no amor. Não dá para viver mais do que sou à vida. Não dá para viver o antes, o antes não pode me abandonar, embora seja o abandono, significa minha vida. Caminhar, para ficar de frente ao sol, até fazer do sol minhas pernas, que caminham sem corpo. A paz é meu corpo sem pernas, sem sentir falta de andar, de me mexer, respirar. Ando me mexendo, respirando em meus sonhos, onde consigo dançar a realidade sem me mexer. Escuto o escutar nos movimentos do mundo.

Não solte minhas mãos dos meus medos

A morte é o cenário da vida. Sofrer me fortalece. Não solte minhas mãos dos meus medos enquanto eu viver. O saber eterno não me faz esquecer a vida. Abraçar a alma me torna tão só, que é melhor morrer. Que minha morte seja a alma a me abraçar, onde nenhuma presença é possível, ela somente existe em um abraço.

Inalcançável

O amor não tem razão de ser. A lembrança nunca será amor. O inalcançável é o amor. O amor não é feito para amar. A morte é minha paz, nunca li a alma da morte, como leio a alma do amor, dos livros. Por isto, a morte é minha paz, não preciso ler sua alma, distância perdida de nós, no amanhecer eterno dessa espera de depois.

Recordações

Recordação é um não na alma. Recordações não é o que sinto por mim. Lembrar não é recordar. Pior do que ser é lembrar. Recordações sem liberdade alimentam a alma, no que foi esquecido como vaga, lenta lembrança de mim que vai se esquecendo de mim, como um abismo de mim, única lembrança que restou de mim.

Para amar, é preciso esquecer o passado

A esperança de solidão me faz esquecer o passado, num amor que supera o passado. A vida vem de perto, vem de longe, para ver o sol sorrir, nascendo das minhas lágrimas. Não há amor na vida como há amor no sol. O vazio não é vazio, é o continuar a vida, pelo estímulo do vazio. O vazio são corpos mortos em almas vivas.

Dificuldade em viver

Nada desaparece sem desaparecer: essa é a dificuldade em viver. Meu sentir nasceu sem mim, para existir amor, que não é permanência de nada, permanece em mim, como vida.

Morte emprestada

Empresta tua morte para mim, para eu saber o que é morrer em ti. Desaparecer na morte não é ausência, desaparecer em mim é ausência. Morrer é viver para mim. Fecho os olhos, para morrer sem te ver.

Suando no coração para tentar amar

Olhar de alma, de amor, seco, como se retornasse ao que vê, com a simplicidade de morrer. O morrer é mais simples que ver a morte, o coração suando para amar o que restou da morte. O que restou da morte foi a vida, no teu adeus.

A vida são carícias de amor

Sou, encontro-me ausências, como carícias de amor. As carícias de amor da vida me deixam sem amor. Amor, falta da leveza de ser. O tempo, a ruína, a morte, não faz nascer o amor. O amor nasce na ausência do tempo, da vida. A vida escorre como alma, nos meus dedos frágeis, trêmulos de amor pela vida. Sente meus dedos como a vida e meus abraços, minha morte, dentro de ti. Por isso, fica. Fica, enquanto o ficar ainda existe, pelas nossas inexistências. Tento ser ausente da minha ausência, pelo amor eterno da vida, que me faz morrer de eternidade.