Blog da Liz de Sá Cavalcante

O silêncio da eternidade

A eternidade é um silêncio sem morte ou sofrimento. As palavras não podem dar um fim ao silêncio do ser, que é a eternidade do silêncio da eternidade. O olhar é a palavra do silêncio. O silêncio é sol, chuva, vida, mas não há silêncio na morte, por isso a morte me falta, tomando minhas palavras, minha tristeza para si. Palavras não são o fim do silêncio da eternidade. O silêncio da eternidade afasta o olhar da vida, é o som da saudade banhando o mar, por isso esquece o infinito, pela grandeza do mar, que afoga a mágoa, que era para ser silêncio, mas o silêncio da eternidade não permitiu. O silêncio da eternidade me fez feliz, pela infinitude das minhas dores, mágoas que me fazem viver, não me deixam esquecer onde a deixei: no meu amor, que um dia será o silêncio da eternidade, de onde não escuto nem mesmo o vento, para escutar meu amor, que ama só, que às vezes é chuva, às vezes sol, às vezes fim, às vezes eternidade. Não procure me amar, ame-me, pelo sol, pela chuva do meu amor.

A eternidade da solidão é o meu ser

A eternidade é o fim sem solidão, nada parece eterno por ser eterno. O sol não tem a eternidade de Deus, por isso a vida não é eterna. Não há eternidade para continuar Deus a ser Deus. Sem a eternidade, as flores são sempre flores. A eternidade num único segundo é amor. Amor de flores, alma, de encantamento de morrer como morreu a eternidade: sem um único abraço. Essa é a leveza sustentável da vida, do abraço. O corpo é o fim de um abraço de eternidade.

Necessito me dizer quem sou por toda a vida

Como perguntar pelo fim se o fim é a resposta de tudo que não é o fim? O chorar é o interior do fim. Cuido do meu fim para cuidar de mim. Escrever é dar um fim ao fim. Cuidar do fim não protege o fim de mim. O fim, apenas o fim, compreende seu próprio amor. Por que vim ao fim? O que o fim pode ter de mim? Por que o fim necessita do fim mais do que necessita de mim? Nem o fim pode se tornar fim. Há fim apenas em amar, o resto é eternidade. Necessito dizer quem sou, como se tudo fosse o fim.

O que há de absurdo em sofrer

Sofrer é tão natural, que é o meu ser. O florescer da ausência é o fim do silêncio de amor. A aparência, minha aparência, quando ela se vê sem mim, é que cessou a ausência de viver, como se algo nascesse dessa ausência para ressuscitar a vida que não morreu.

Diferenças

O ser é a vida, diferente da vida. Ser, para não ser, é amor. A diferença não destrói o amor, o que destrói o amor é a vida. Ao destruir o amor, a vida se destrói. Só, a vida não percebe a diferença entre ela e o ser. O ser é igual à morte, com a diferença de que meu ser é contra a vida, e a morte, a favor da vida. O tempo esquece a morte, o sofrer, o ser, mesmo assim sobrevive à razão de existir, que é sem tempo. O tempo quer apenas ser a sombra da vida, que dá ordem ao mundo. Sou ainda criança em viver; para a vida, nunca cresci, sou sua eterna criança. Não vou soltar o sol do meu olhar, é tarde para morrer. O corpo da alma é o fim do mundo, onde a morte é um consolo, pois apenas a morte dá “bom dia” ao sol.

A paz sem paz

A paz sem paz chegou ao meu amor como alma. O silêncio me faz esquecer a alma, numa paz incomum à vida. A paz fala de uma vida inexistente. Paz sem paz é como engolir o suspirar, num suspirar eterno. A voz que não sai da alma é a paz. A vida cessa num chorar eterno, prefiro chorar a ter paz. A paz não tem vida, não me faz viver, por isso nada me consola. O que falta à vida? Falta à vida a falta de mim. A ausência é reconciliar a falta com o destino. O silêncio mata mais do que uma arma. O silêncio da alma desconfia da alma, com um amor pela alma, que se absorvendo como se não houvesse silêncio no amor. É como se houvesse apenas um silêncio questionável, distante do silêncio real do meu ser é o silêncio da morte que se aproxima, com ou sem ver a morte, é o meu fim. Fim que começo a compreender pelo silêncio da morte, mas aceitar jamais.

Perdi-me no meio do nada

Perdi-me no meio do nada, para não me perder no nada. Apaixonar-me pela mesma vida espanta o vazio, como se eu tivesse encontrado o nada sem a vida. Tudo tem semelhança entre a vida, a morte e o nada. Nada me faz feliz. Amar é me parecer comigo, sem me olhar no espelho. Em vez de dormir, sonho. Sonho tanto, que pareço dormir. Dormir é a ausência viva, a me deixar fugir sem mim. O sentir é uma ausência viva, que desperta o nada. Despertar o nada é lembrar da vida. Não há lembrança no esquecer. O nada lembra sem sentir. O sentir é uma alma sem alma. Perdi-me no meio do nada, tenho a vida sem mim, como se o amor fosse o universo, o ser e eu juntos, para morrer completamente só. Só em mim sem mim, como sendo a mesma solidão. O universo é ausência de solidão, de mundo.

O sofrer é remédio para dormir

Durmo na ausência do sofrer, que é meu sofrer. Dormir no sofrer me faz lembrar da dor sem sofrer. Sofrer é não dar importância à ausência da vida, onde apenas a vida importa. Pelo sofrer, existe realidade. Sou o real do meu sofrer. O sofrer é eterno. Se existisse o passado, não existiria o amor. Viver é não ter corpo, ser somente alma de mim mesma. Tudo se tem na alma; no corpo, tudo se perde.

Ao redor de mim

Viver num único corpo não é ser só, é ser ao redor de mim. Tudo acontece na ilusão do corpo, nada acontece na vida do corpo. Meu pensar é quando a vida existe para mim, sem precisar do meu corpo para existir. A tristeza é por onde falo, por onde me escuto. A tristeza da alma é uma tristeza viva, que participa da vida da alma. A minha tristeza é morta, não posso compartilhar minha vida, meu ser com ela. Divido meu amor com o que não restou de mim. A morte é o que restou de mim, é o que ainda sou eu.

Paciência

Paciência, nada acontece, nem mesmo com paciência. Paciência pelas coisas, pelo amor, que se curam sem precisar. É um prazer fazer da paciência paz, resignação, esquecimento real das coisas, onde me encontrei no ar que perdi por respirar.