Não posso dar vida para as pessoas, lhes ofereço minhas palavras de amor, de alma. No amor não há consciência do corpo, é alma. A vida alimenta muitas mortes. A morte, o que me torna? Sou a sombra do dizer. Leve-me da distância de mim. O corpo afasta a alma. Eu necessito de Deus, não de alma, de mim, necessito que algo seja feliz: mesmo que seja o meu suspirar ausente. Meu suspirar vive na minha morte. Nada resta da morte, meu suspirar morre com a morte. A lembrança é o suspirar da presença. O sufocar é o desaparecer da noite, faz nascer estrelas. O suspirar é uma estrela sem brilho, a se tornar sol. O sofrer é inacessível: é uma sombra que me persegue, que tem vida própria. A loucura é um sonho lindo. A loucura é a força da alma, de ousar ser diferente de tudo, contra todo o resto, tão igual, tão mundo. Tão igual, tão imaginação de existir. Estou condenada à alma: meu sorrir é alma apenas: não é feliz. Não subestimo a inexistência das palavras. Elas fazem que exista céu, vida. A existência é inexpressiva. Tudo depende de não existir, como a inexistência. Não sou a inexistência. Sou o que perdi sem inexistência. Melhor perder na inexistência. A inexistência é um ganho. A inexistência é a essência da vida. A vida é a maior inexistência de todas. Coração de alma no ar da vida. Assim, o tempo são palavras. Essas palavras são todas amor. Mas não é suficiente para escrever. Nada suficiente para escrever, mas morrerei tentando fazer do escrever plenitude. Nada é pleno, desisto sem tentar: vou morrer.