O adeus não quer ser abandonado ainda vivo, quer ser um adeus comigo. Solidão é ficar sem o tempo, é não me perder na morte.
Pedido de um adeus |
Pedido de um adeusO adeus não quer ser abandonado ainda vivo, quer ser um adeus comigo. Solidão é ficar sem o tempo, é não me perder na morte. |
Ser só é ser mais só do que a solidãoAlgumas coisas duram sem a eternidade da tristeza, talvez isso seja ser só com minhas alegrias. Não há alma que exista na alma. Ser não é estar no ser, que ainda vou ser. Vou ser tanto, que minha alegria desaparecerá. Minha única alegria agora é ter alma. Ouvir-te, como quem ouve o nada. O nada apenas escuta, não aparece na alma. Por isso, não o escuto, quero guardar sua presença em mim, sem nada escutar, para o nada ser puro, verdadeiro, como te perder. |
Silenciar a morte nas palavrasAs palavras não deixam a morte falar com amor. Ficar nas palavras, morrendo, deixando de amar, é o único amor possível. A falta de mundo me devolve o mundo. Mundo, que não sofreu sem o mundo. Escuto o silenciar na morte das palavras, ditas como morte. O isolamento da alma é o amor, onde escutar é apenas ter alma. Não há o escutar da sua ausência, mas ainda há você para o mundo. Há tantas coisas a escutar, que podem ser a presença de tudo. Não me incomodo com o meu silêncio de existir ao falar. Incomodo-me de a fala, de tão escutada, esquecer o que a silencia. A fala e o silêncio precisam estar unidos, mesmo sem mim. Eu não sou a única fala, o único silenciar, por isso posso morrer em paz. |
A tristeza da tristezaQuero me descuidar de mim, da vida, para não ser triste. A tristeza da tristeza é o cuidado da tristeza da tristeza comigo. O controle de ser triste é o nada. A despedida de ser triste é o fim da vida. Ouvir é sem despedida, é conviver com ser só. O nada, alegria da ausência, que queima nas águas tranquilas do amor. A alegria de não ser para mim o que sou é o que sou. Ser é não ser mais, onde o silêncio do mar se mistura no não ser de mim. Eu sou o meu mar. Às vezes, pergunto ao mar a razão de eu existir, e as ondas devolvem para mim a dúvida de existir. Às vezes, acho que o mar é a única existência possível, que reveste o mar da saudade de morrer. O sol é coberto de sol, até nunca mais encontrar o que foi perdido em ser sol: anoitecer, descansar a alma. A inexistência se confunde com alma. A alma devia ser inconfundível. Não há alma para a alma, assim como não há amor em ser. Deixa-me no céu das aflições. O tempo não é certeza de morrer. Posso morrer longe do tempo. O que me faz só é o tempo no amanhã. O anoitecer, descanso da solidão. Estrelas dormem por mim, assim nasce a poesia, livre da minha tristeza. A poesia sabe apenas amar. A tristeza não tem poesia, é apenas afrouxar o ar da solidão. |
A alegria é o fimA alegria é o fim do que deveria ser essencial na vida, sem sofrer. Dentro e fora, é a mesma permanência de tudo, sem precisar de nenhuma presença. O silêncio é a vontade da presença, sem necessitar dela. Sem pele para me ferir, sou feliz como se eu tivesse a pele dos meus sonhos. A pele dos meus sonhos é ficar sem sonhar, que aproxima o sol do amor, que um dia vou ter, é como se eu pudesse te ter em pingos de sol, o resplandecer da luz, por onde me vejo te perder, alegria, por um pouco de luz. |
A arte de viverSensações são plenitudes. A sensação é uma vida escolhida por Deus para ser minha vida. Perder a vida não me faz perder a perda da vida. Quando nada aparece, é amor. Amor que aparece sem amor. É da falta de amor que surge o hoje, sem o desespero de amar, afogando-me no mar das minhas ilusões, onde não há desespero de amar. Torno o amor ilusão, como se eu pudesse socorrer o tempo de amar. Mas o que é a saudade nesse imenso amor? Não é mais nada. Sensações desaparecem na saudade. Ser é diferente de amar, diferente de viver. Nada é percebido só, minha percepção é o outro, na falta de o outro me perceber. Perceber é perda irreparável de mim. Sensações manipulam o nada. O desaparecer não desaparece para dar vida à vida. O corpo se arrebenta em alma; nem o ser, nem a poesia podem ajudá-lo. A morte seria pouco para o corpo. Enfim só, enfim eu. |
O destino não é a morteO destino não é a morte, é a vida. Continuar o destino sem destino é amor, que resseca o perdido, sem o fim do amor infinito. Amor, está a esperar por mim ou pelo meu destino? Tudo rumo ao nada no sem o nada de um destino. O destino da alma é o ser. Ler me tira do mundo para um mundo melhor. Na leitura, o amor é mais do que amor, uma árvore não é uma simples árvore, é a alma de alguém, que não morre completamente. O sorrir da árvore é a Natureza. O balançar da árvore é o fim da Natureza a se expressar. A morte é apenas a distância de mim, que salta da alma, faz nascer o mundo. Mundo que era a morte, agora é escuridão do meu ser, que nunca é vazio, por causa da escuridão do meu ser. Onde há escuridão, não há vazio, medo, tudo é apenas escuridão, nadando nos meus sentimentos, como o boiar profundo de uma lágrima de luz. Eu vivi o que eu tinha em viver, por isso sorrio ao nada e agradeço o que vivi, cedendo à morte, numa entrega de corpo e alma, onde eu sou apenas um detalhe na minha morte. Mas morrer também é um detalhe. Amo tanto, que não sinto que morri, de tanto amor. |
O fim incessante do mesmo fimO desgaste do tempo assume o nada, sem a escuridão do infinito. O céu é amor, que se aproxima do vazio de viver. O amor é especial sem céu, estrelas, sol e mar. Amor é vida infinita. Incessante, a morte acontece sempre, em mim, sem mim. O incessante acaba com o infinito. O olhar é o infinito sem mim. Sou o fim do meu olhar. O sol não pensa na sua luz. A luz deve ao sol sua essência de sol. O tempo aceita minhas ausências como sendo o tempo que restou. Minha ausência resgata aos poucos o tempo, com amor. |
Importante perceber o que não acabou em serO que continua no ser acabou, cessou como ser. Sendo meu ser, isenta do meu ser, como se o sol fosse desaparecer num instante de alegria. Eu fui feliz, no desaparecer do sol. A alegria é o meu sol. No antes, depois, agora, o instante cessa, não se perde. Enfim, a vela acendeu a morte da escuridão, que ressuscita o nada, nunca o ser. É importante perceber o que não acabou em ser, acabou na morte sem o meu ser. |
Na rouquidão dos instantesComeçar a falar especialmente para a rouquidão dos instantes. A falta de durar na vida é sua duração. O tempo é o meu pensar sem o tempo da solidão. Morrer só é compartilhar o futuro em mim. Tudo que dura está perdido, como a vida sem a vida. A morte é o único contato comigo. Conviver com a morte é esquecer o fim. O tempo é o amor inseparável, que nada une, mas é inseparável em sua ausência, como um mundo que não foi completamente destruído no amor humano, que não sabe amar. Amar fala poeticamente, na rouquidão dos instantes. Olho para o mar, lindo, perfeito, sem brilho, sem a certeza de os instantes serem feitos de mar. Mas o mar é feito dos meus instantes felizes. |