Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que posso fazer pela alma?

O que posso fazer pela alma? Apenas posso amá-la pelo que não existe em mim. Quem se lembra de mim? A alma, é claro! Ela se lembra de mim de uma maneira que não posso me esquecer, assim meus sonhos se tornaram tão inesquecíveis, que minha presença foi possível para mim. O amanhecer se perde na minha presença. Minha presença não é minha, é amor. Suspiro, alma, como se te visse sorrir.

Se eu cessar, vou desaparecer?

Vejo demais, vejo umas imagens confusas, para ver minhas perdas. Ou serão as imagens as minhas perdas? Estou morrendo, sem saber quem é você na sombra da minha ausência. Consigo perdoar minha ausência, aceito seu fascínio. Lembro-me de mim por mim mesma. Procurar a alma, não encontrar acalento para mim e para a morte. Perder a alma não é perder todas as almas. Perde-se a alma na permanência de outra alma, não na permanência de ser. Se eu cessar, vou desaparecer? Não, apenas me tornarei alma, viverão comigo, me amarão de outra maneira: sentirão falta da Liz que eu era e perceberão que tudo muda, por isso tudo é saudade. Vivo apenas metade de cada acontecer, é como se não tivesse acontecido. O pensar preenche o vazio nas minhas faltas. Se eu cessar e desaparecer nessa saudade infinita, descobrirei que já vivo sem você tanto tempo, que não sei mais se me importo, se sinto saudade. Saudade de mim, do que posso ser sem você. Não preciso morrer dentro da morte, nem fora da morte, quero morrer em você. Por amar você? Não sei, sei que preciso morrer em você.

O amor sente falta da minha ausência

O amor sente falta da minha ausência, não sente falta de mim, de ti. Por isso, sinto saudades. Saudade do que devíamos ter vivido, que se tornou nada, não é nem ausência. Não há ausência no que não existe, é como viver sem ti. Não sei se existes para eu viver sem ti. É triste te ver, nada reconheço em ti que fique no meu amor, no meu olhar, na minha alma. Seria pior te ter dentro de mim? Eu morreria? Sei que eu queria ter-te dentro de mim. Os momentos se perderam, como se fossem o único anoitecer, a única vez que eu durmo, que te encontro, numa inconsciência de adeus. Ajuda-me a te amar.

A luz dos meus olhos ilumina a vida

O imperceptível é percebido com amor pela alma, pelo ser, de onde a vida não pode partir. Minha presença não é da vida, é da morte, do adeus. O tempo não pode ser vivido, por isso não é um adeus. O desaparecer é a única coisa que não é ausente. Se a ausência fala, escuto a alma no meu amor. Não impede meu amor em ti, ausência, é amor absoluto, faz-me viver no nascer do sol. Expande, alma, quero é morrer nesse expandir, sendo a essência de tudo, não me deixa sem primeiro me matar. Os meus olhos iluminam a vida, mas é por ti, ausência, que esqueci a escuridão, pois, enfim, eu morri.

Não há alma para a alma

A distância entre nós é uma ponte para a vida. Não quero a vida, quero te conhecer. A essência do ser se perde em ser. Nem meu corpo silencia minha alma. A ausência pergunta por mim, necessita-me, tanto que se esvazia como o chorar contínuo de ser alguém. Apenas a alma, não sei o que ela fez com as minhas lágrimas, mas vai amá-las sempre, até o fim. Pode me desfazer em poesias.

Sem estrutura para sofrer, sofro ainda mais

A morte me dá um poder de agir, amar. A alma escolhida pelo amor foi a alma da morte. Tudo tem seu momento de partir, a alma partiu vivendo a consciência de não viver, é um princípio sem fim. A luz é a morte, sem refletir no meu olhar. Descansa em paz, morte, na falta do meu olhar, para fortalecer as minhas lembranças. A alma, lembrança da falta de nós, que concretiza a morte. O que há de essencial na morte? A espera de morrer.

Minha vida são sonhos

Compreender não é aceitar. Sendo eu, perco a compreensão da vida e assim compreendo o mundo. Sonhos se dão a mim, no despertar da poesia. Se o fim do sonho é outro sonho, sem o sol de se sonhar. O sonho no sonho é alma. O ser do ser é a perda do ser, sem a sua inexistência. A profundidade do mar é a minha vida. Eu sonho com o mar, o mar sonha comigo, com a minha solidão. O mar quer minha solidão, eu quero sua companhia. O amanhecer é companhia solitária. O céu afasta a solidão do sol, onde cessa o sonho. Nada mais existe, assim o sonho cessou, sem se perder em mim.

Ter esperança não é viver

Não se vive de esperança, e sim de expectativa que a falta de esperança me dá. Sonho em abraços sem esperança de amar. Amor sem esperança é o ser nele mesmo. A esperança é falível. A esperança erra até quando ela acerta. A esperança de viver é seca, fria. Às vezes, sou tão feliz, que penso que a vida nasceu especialmente para mim, que a vida me basta, mas ela não é suficiente para mim. Confie em mim, no amor, nesta separação de almas, entre mim e a vida, para que se sinta melhor. Almas são o nada, sem tentarem ser no meu ser o que sonhei para mim. Sonhar pode ser triste, mórbido, infiel. Explico a morte ao morrer, no inexplicável do meu ser. Na subjetividade, eu posso confiar, o concreto acaba logo, é como ter que acordar depois de um sonho eternizado.

A vida do adeus é o mundo

O mundo é um adeus sem vida, é o mundo em um adeus. O amor se vê, ouve-se no tempo do silêncio do nada, e assim sinto o nada: por amor. O amor é a falta que meu ser não faz para mim. O ser não pode se esconder nas palavras, que compreende apenas só, que a palavra é vida. Não dá para acompanhar as palavras em sua solidão. Sinto apenas minha solidão. As palavras fazem esquecer minha solidão. A solidão são apenas palavras? Estou confusa. Existe algo sem palavras? Onde deixei o amor, não há palavras. Não sou livre, sinto-me livre em cada palavra, ser que nasce na minha alma. O amor da vida não faz nascer a vida. Ausências são vidas que não foram divididas nelas mesmas. A presença é a separação da vida com seu amor. Separar une o que na vida não pode existir. Amo a ausência, que traduz a realidade sem ausências. O mundo é a ausência de Deus. Nada se fala sem ausências. A ausência é a presença de Deus. A alma nunca muda. Ela devia se transformar em ser, amor, vida. Apenas assim, haveria permanência na alma. A permanência dura tanto no meu respirar que perco o ar, a vida, na permanência. Respirar fala de alma, por isso tenho medo de falar em respirar. Ser desleal com o amor, apenas em respirar. Há lembranças que amam, agem, sentem sozinhas o que o ser devia sentir. Respirar é se lembrar da alma.

O imperdível do perder

O amanhecer é perda de mim mesma. Mas o amanhecer amanhece no vazio sem mim. Perder o que não tenho é uma paz. Que a paz seja o nada divinizado. Não preciso ter a mim para me sentir, amar-me. O silêncio não é paz, é resignação. A palavra pode ser um silêncio devastador quando penetra na voz e escapa pelo saber. Nada sei do silêncio, das palavras, sei o que sinto no dizer de mim, sem palavras ou silêncio. Nada pode ser escrito na vida, a vida tem uma história, distante, tão distante que parece a poesia saindo do pensamento, sendo o meu amor. Retornar às palavras é trair o amor, que vai além das palavras, do silêncio, da monotonia do perdido, que apenas a alma capta o perdido como se fosse a morte. A alma é triste como se fosse a morte. Quantas almas preciso perder para morrer? A alma morre quando meu pensamento se tornar alma. A alma é falta, ausência que colore a vida e brinca com o azul do céu. Preciso viver a alma só, só quer dizer sem mim. Apenas a perda me faz recomeçar, quem sabe algo novo surgindo neste recomeçar, onde o sonho de morrer é real e torna infinitos meus sonhos, até que eu não precise morrer mais, mas então não poderei mais sonhar, mas ainda sou eu, pela falta de alma, de corpo, que é o meu ser, que se derrama no nada em busca de amor. No amor, senti-me mais só ainda, ele não pode ser a razão de a minha alma me amar. A alma não precisa de razão para amar. Para amar, ela tem que deixar a vida que não tem. A alma é forte para caber na minha mão. Encerrei minhas mãos ao segurar a alma, foi como viver. Nunca mais segurei nada, fiz das minhas mãos mãos da alma. Assim, não sinto perder meu corpo, ele é o vazio da alma.