Blog da Liz de Sá Cavalcante

Minha intimidade é apenas o contato com a minha pele?

A pele restitui o amor sem o sentir. Minha pele é o meu respirar, continuação da minha vida, que se mistura com o respirar, com a eternidade ausente. Era reconfortante me enterrar na minha pele, sendo a eternidade da sua morte como minha única de dedicar-me a mim mesma, sem pele, rasgada por dentro, imensamente feliz.

Tenho medo de deixar de sofrer

Tenho medo de deixar de sofrer, assim como tenho medo de o sol nascer, esquecendo-se das estrelas, esquecendo-se de mim. O dia amanheceu sem brilho, sem o amor das estrelas. É melhor a vida ser de verdade do que ser infinita. A vida é infinita se for de verdade. A próxima pele é o fim da pele do frio de ter alma. Ser só não é ter pele. O sonho é sem pele, no ser que o habita. Alma que ama e vagueia só, até acabarem as faltas, sobrarem apenas lacunas das faltas que sempre vão existir, como faltas ou como amor. A realidade das faltas é a mesma realidade do preenchimento, onde o amanhecer amanhece, sem saber por quê. Há sonhos que deixam o ar com o seu perfume, que faz amanhecer. A alma é a única realidade do sonho. Sonho que não existe no real, para o real. Apenas para o real, o sonho é apenas sonho. A alma é a superfície do ser, que devagar faz do ser sua superfície. Por mais que a superfície se multiplique, nunca será profunda. Sou sem superfície. Mesmo assim, a profundidade não pode ser eu. A profundidade não toca a alma, ama-a. A alma não sabe ser profunda, mas até o respirar da alma é profundo, acalma o mar. O mar é uma alma livre. Conhecer a alma, pelas faltas, que não são fragilidades, são a alma se vendo em mim, sem minhas faltas. A falta sofre como alma, até se tornar alma. A alma pode desaparecer para si, não para mim, que isolei a alma do meu desaparecer, que desapareceu para mim quando vi a alma. A alma, sem desaparecer, torna-se invisível na minha sombra. Falar é o porquê de tudo. Há falas que se colocam entre mim e o sol. Não sei se é a vida a falar comigo. Teu sol é distante, frio, sem emoção. O sol, em mim, é a infinitude do meu ser. O sol está dentro do meu quarto, onde a janela é a lua.

Excesso de amor

Tenho que ficar atrás da alma, sem olhar em seus olhos, para ficar em seus olhos, como sendo meu último e inesquecível amor. Chore, alma, de amor por mim, para que possamos nos despedir com lágrimas de amor. Eu tive você, alma, por inteiro, mas vou sentir sua falta, como se fosse falta de mim. Por você, afastaria as estrelas, do céu, dos meus sonhos. Sei que pode se esquecer de mim como se esqueceu dos meus sonhos, das estrelas do céu. Esqueça-se de mim, apenas nos meus sonhos será minha, onde não existe distância. Eu lhe darei o céu com meu amor. É bom ter alma, sentir-me viva outra vez. Mas estar viva é apenas o tempo a me deixar, ficando só, como se ainda fosse o tempo, que guardei para mim, talvez isso seja reviver sem o que já passou.

O silêncio do silêncio é a morte

A morte tem o rosto tão perfeito; não quero ter o seu rosto, que se esconde de tão perfeito. Tento abrir os olhos sem me ver. Há silêncios que não estão na alma. O silêncio está no próprio silêncio. A alma são palavras. Sonho com a morte, como se nela houvesse palavras. Não há. Almas quebradas como vidro a se partir é sorte na vida. A vida é ausência de presença, que te fez presença, alegria, na minha tristeza. Não vou parar de amar por tu não me amares. Ver a vida com os teus olhos distantes, que furam a vida sem ausências. Dá para fazer eu viver? Nem em sonhos. O tempo é a vida dos sonhos. Sem o tempo, a vida é real. Esqueci o rosto da morte nos meus sonhos, acordei morta, sem ver o rosto da morte. Antes, eu via e era feliz. A vida nasceu desfigurada, mutilada. Não consigo me amar como ausência de morte. Confiar é esquecer ou perder a vida. Penso pelo sol, para ver a lua.

A vida da vida

Comecei a viver na morte, como um pássaro que voou. Voar é não encontrar a ausência de destino em morrer. A vida regenera a morte. Um dia, vi que podia ter vivido, não viverei jamais, não vou me arrepender. O sol são mãos, gestos, que se soltam da vida. A vida não precisa buscar o sol, ela é o sol verdadeiro. Amei pelo céu, pelas estrelas, pelo sol e pela lua. Não sei onde eu estou, ficamos dentro de um rosto, onde minha fisionomia é a falta de um rosto. Como podem me conhecer apenas pelo rosto? A vida ficará melhor sem mim. O rosto é sem tempo, por isso muda. Destruí-me sem morrer; na morte, não há destruição. Destruição é amar. Você, alma, foi embora antes de entrar na minha vida. Não matei a vida, matei o que eu imaginava ser a vida, mas não matei a vida. Eu me confundo com a normalidade da vida, escuto seu coração bater, não o meu. Nada afeta o sol, se ele tem estrelas para descansar nas nuvens. Minha vida vai continuar como nuvem em busca do sol. O sol de ouvir alguém sem nuvens, flutuar nas nuvens, até alguém ser minha nuvem em busca do seu sol. O início da minha vida imaginária é sem o sol, sem o nada, sem o vazio. Por isso, nada consigo pensar, é como se houvesse o tudo e eu o deixasse pelo vazio. Consigo ver, nada é maior do que esquecimento. O mundo lá fora é apenas esquecer o que não existe: o mundo. A vida da vida é apenas esquecer você. Não consigo nem mesmo morrer. É a paz que vem de mim esta vida. Vida, não esquecerei você de novo.

Conhecer o nada

Conheço o nada quando meu ser transpira esse nada. A morte são meus olhos, por dentro de mim. O amor do nada penetra na alma. A finitude, como o tempo total, absoluto. O amor de cada um é a morte se vendo no espelho da alma.

O amor é mais vida do que morte?

Abraça-me, como se eu tivesse vida e pudesse amar. Se eu pudesse te amar, nada mudaria na minha vida, nem entre nós. A vida ergue a morte pelo caminhar eterno da morte, onde o caminho é apenas calma, silêncio, fé. Perder-me do caminho é achar que não há caminhos, e, mesmo assim, caminhar, como se o vento me derrubasse pela sua leveza de ser. Se eu morresse, não poderia mais caminhar, mas o vento continua a brincar comigo, derrubando o nada de mim. Quando o vento se tornar minha morte, eu serei a sombra do nada a afastar a morte, aproximando-me da realidade. Nada restou da morte, nem mesmo a realidade de morrer.

Enrijecimento da alma (endurecimento)

O amolecer endurece a alma. Não há nada a fazer sobre o saber da alma: única realidade entre mim e eu. Ninguém sai de dentro da alma para o mundo. A alma não é do ser, mas o ser está dentro dela, como sendo o último deserto de amor. O finito é o infinito de mim. O finito e o infinito nada podem com a vida. O infinito é o fim da vida, da alma, pelo finito que não quer viver como o infinito, quer apenas ser feliz!

Não desisto das pessoas, nem mesmo pela morte

Não sou igual à morte, por isso não desisto das pessoas nem pela morte. Não preciso nascer, existir, mas é preciso ter identidade para morrer. Olhos nos olhos é morrer como alma.

Alma na alma

A pureza do nada é tudo para mim. A alma não tem a pureza do nada, não é feliz como eu sou. Meu olhar sem o interior é alma na alma.