O corpo da alma é o nada. Viver sem a realidade é meu despertar, sendo eu, a consciência do mundo, da vida. Me fiz nascer em palavras admiráveis, parece até que nasci escrevendo. Apenas para não ter a realidade, ela vem a mim até em poesias. Desapareci na realidade para ter a mim. Mesmo sem realidade. Realidade é ser só. Estou só, por isso sou plena. Plena de tristeza. Mesmo assim, a tristeza me esvazia, me faz pensar no nada, que é a falta de sofrer. A depressão é a ausência de mim. A luz lateja em meus olhos, suplicando um pouco de escuridão. O céu é a escuridão do destino. Penso no que vai ser dor na dor. A dor de ver é como gerar um bebê morto. Ver a imagem morta é ver o puro, o simples, o natural. A imagem morta é mais sensível do que a imagem viva. Não há imagem em ser vista, vejo na imagem a esperança de ver. Não vou desistir de ver as coisas como me vejo. A esperança vê com a alma. Tudo desaparece sem ser visto na eternidade, por isso o desaparecer é eterno, como o sol. Inovar a eternidade, a inspirando com poesias. Eternidade: a nossa imagem dá vida ao que ela vê. A imagem vê o que não posso ver. Apenas a imagem sorri, encantada, com um mundo sem imagem. Imagem é o fascínio que existe entre o visível e o invisível, é o nada. O nada não é visível, nem é invisível, é uma simples imagem. Eu não vou mudar por ver. Ver não sou eu. O silêncio não vê a alma. Escuto a alma dentro de mim. Não sei qual o infinito do céu e o do mundo. Para mim, tudo é apenas infinito: feliz. Escuto as lágrimas do vento a despertar o amor pela vida, adormecido em mim. É impossível clarear o sol com a imagem do céu, o olhar clareia o céu. Sangrando por dentro de mim, estou livre para viver a minha solidão. Adeus. O adeus sem sonhos não é um adeus. Meu corpo é meu mundo. O adeus é o fim da plenitude, não o meu fim. Foi dando adeus a mim, perdendo a alma, que me tornei minha vida. Mas, mesmo assim, não me sinto eu. A alma aperfeiçoa o meu não eu. Sinto falta do nada. O não eu é a minha reflexão, como o mar descendo suave na rocha. A alma do mar são as pedras se unindo pelo mar, pela natureza, a enfeitar o céu, as estrelas, para esquecer seu amor, sua imensidão: tudo pelo infinito. O tempo do infinito sou eu a viver. A vida sofre ao amanhecer. O adeus ao corpo deixa o céu subtendido. Estou cheia de intenções: estrelas devem amanhecer. O corpo do outro é o meu corpo, e meu corpo é a subjetividade do outro. Não é somente subjetividade, é vida, o amor na solidez do nada. Meu corpo não pode provar ser um corpo. Sente-se um corpo, não sendo. A abstinência do corpo é a realidade da abstinência. O corpo é a diferença entre o ser e o nada. A vida não lembra de mim, não preciso que lembre. Nada necessito da vida, além de escrever. Escrever substitui a vida. Sinto falta de escrever escrevendo. A morte me mata para ficar com meu amor, minha vida para ela. Abri meu corpo para morrer sem sentir. Amo como se fosse a vida a amar. Amar como o mar e as estrelas. Amar sem o infinito, no infinito. A distância da vida é o sol apaziguador. Costurei-me sem dias vazios, me sinto remendada em vazios extremos. Mãos de sol, na chuva do tocar. Abandono a alegria para ser feliz. Afundo em mim para vir a superfície de mim. Sou apenas uma imagem.