Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sou minha própria possibilidade

O mar avança dentro de mim, como minhas lembranças de mar, espantei a ilusão. Das minhas ilusões que devaneiam mar onde não há mar. Tudo pode ser o mar, se for de verdade, pela emoção do mar, que me diz quando ser. Sou minha própria possibilidade, que cessa o mar de amor. Apenas o amor acalma o mar, onde o mar morre em paz. Queria que minha esperança fosse o mar, regando sonhos, moldando a vida nos sonhos. Criei o mar, como se cria uma filha, desfiz-me em mar. O mar desafogou minha morte, reviveu quem sou apenas para si, e isso me fez viver.

O vento sopra o amor no amor

A alma escuta o sopro da minha ausência, num amor ausente. A ausência sopra a distância, em todas as direções. Tudo se tornou distante, passageiro, como a luz da saudade pela janela do saber. Dormi, única presença, por isso a realidade não dorme, ausenta-se, como o embalar da saudade, em sintonia com o vento. Expectativas me separam de mim, da vida, fazendo-me compreender a mim, a vida. Essa compreensão é Deus. Apenas o que toca a alma pode ser o vento, no silêncio de viver. Deixa a alma escorrer como o sol, deixa o amor ser o que sou ao escrever. Resgatar o sol na escuridão é como nascerem as palavras. Palavras deixam o vento leve, ao alcance da vida.

O que se pode ser na permanência do outro?

O que a alma pode me dar, a vida não pode me dar, que é a permanência do outro em mim. Os sonhos não se dispersam da vida, atentos à vida, como uma folha em branco, nunca imaginada. Desfolho a folha pelo ar imaginário da alma.

Um salto para a vida

O que faz a diferença não é o ser, mas a poesia que existe dentro de mim faz toda a diferença entre ser e não ser. Não sei se quero mais ser, mas quero sentir a poesia, mesmo sem o amor insaciável de escrevê-la. Sem dar vida à poesia, ainda vivo? Sim, pois a poesia me ama, separada do que sou. A alma que chora não é alma, alma encontra força na dor. O ser se derrama em alma, mas não necessita da alma. Há alma na alma. A lembrança permanece como alma na lembrança da alma. Alma é a liberdade da vida. Ter alma para a liberdade sonhar na alma. A dor surge da permanência, mas a permanência não é um sofrer, é essa alegria eterna, onde chorar se diminui. Há alegrias que choram, por isso a alegria tornou-se insignificante. O prazer de ser meu próprio nada cessou o amor, como um sol que necessita das sombras. Vultos da sombra a expandir o céu, como canção da imagem. A imagem não é o ser, é o seu fim. Fim que não ofereci ao céu, quis criar meu próprio fim. Um salto para a vida é o tempo ao invés de mim, que envelhece. Não importa o que sou, e sim como sou. A imagem se transforma no meu olhar, são os destinos do mundo, que recolhem as imagens perdidas, como se elas lhe fossem o céu.

Pai

Sonhos protegem a alma. Eu não posso lhe dar o mundo, mas posso lhe dar minha alma, meus sonhos na forma de poesia. Você dá vida aos meus sonhos, à minha poesia. Viva a vida por existirmos um para o outro. Abraços, sua filha Liz.

O espírito se eterniza só, sem morrer

Defino o que é sonho e o que é real, pela morte, sem ser íntima do sonho, nem do real vivo, sem sonhos ou realidade. O espírito é a realidade separada do sonho, como sonho. A beleza do sonho é a realidade. Vida, onde estiveres, te acharei em abraços tão eternos quanto o nosso amor. Momentos de alma são esquecidos na alma, na paz do espírito. Momentos são refeitos pela morte, distantes do amor da alma. A alma foi o único momento em que não morri. Morrer, quando meu amor alcança o céu, sem tristeza ou perda. A lembrança é perder o amor pelas coisas que vivem, que podiam ser o céu, as pessoas, mas são apenas coisas, que não representam a vida, mesmo se existissem. Eu tenho o céu inexistente das coisas a morrer por mim. As coisas são o espírito em busca da alma. O espírito morreria se não fosse só, nem sua eternidade o faria eterno! Há almas, sem eternidade, como o sol a fugir do céu em seu fim. O espírito se eterniza só, sem morrer, como sendo um resto de mundo, de dignidade por ser só.

Refazendo-me

O princípio do fim é me refazer, refazendo a vida, o amor. A ilusão do princípio do fim é a realidade. Mas o princípio do fim não é a realidade. Tudo me invade, mesmo sem existir. Existindo, não sinto a existência nas coisas, mas em mim. Existo para o que não existe. Refazendo-me, não existo mais, sou agora apenas a existência das coisas, que não consigo sentir, amar, ser eu nas coisas vivas. A positividade é a negatividade do amor, como um excesso de luz, que ilumina as coisas que são claras e se esquece de iluminar a escuridão, que não pode se fundir na sua própria escuridão. Reúne a luz, no que restou da escuridão de não ser só.

Sorrir com alma

Tudo me sorri. Sorrio na alma, onde nada me atinge, me deixa triste, por isso sinto a alma da vida. Tudo pela alma, nada por mim. Sorrir com alma é a vida acontecendo, no que há de melhor ou de pior, tinha que acontecer, por isso é especial, raro. Sorrir é a fala da alma me pertencendo. A vida parou, para eu sorrir com alma, para apenas ela ver o meu sorrir. O absoluto não é absoluto, é relativo, uma maneira de fugir da alma na alma. O ser da ilusão é o meu amor por mim, que não me deixa só na ilusão. A alma é ilusão, que não adere à ilusão de amar. A ilusão do olhar é o afastamento sem alma, perdido no olhar. Não consigo deixar a ilusão para a ilusão, pois não sobreviveria. A alma é minha ilusão de chorar como uma ilusão. A alma na alma é a vida do nada, por uma ilusão. Estou dentro da ilusão sem ilusão, como se o sol se escondesse no nada da sua morte, que torna a vida infinita, os dias inesquecíveis, como a minha alegria de vida e de morte. Para mim, isso é eternidade.

A alma é o que o amor quiser que ela seja

A essência não é propriedade, não é permanência, negatividade, onde apenas o amor aceita a negatividade da permanência. Permanecer é aceitar as coisas ruins, como se fossem a vida. Vive-se mais sem permanecer. O permanecer é a vida da vida, não é minha vida. A essência não tem sentimento, mas é o amor de tudo que amo. Ama-se apenas pela essência de ser. Assim como o mar encontra a terra, pela essência encontrarei amor. Amor que existia apenas na inessência das coisas, deixando o ser sem amor. O ser não se percebe sem amor, penso que é a vida a desaparecer. Mas o amor não é o aparecer, amor é quando tudo desaparecer, só restar o amor. O amor sem o ser não aparece nem desaparece, é a invisibilidade de ser, que não quer minha aparência. A invisibilidade não desaparece, existe como se fosse o meu ser. O ser não conhece a invisibilidade da alma, que a torna visível. O nada me lembra a vida a partir do nada, como início de mim. Nascer no nada é nascer sempre, sempre mais, até que a vida acabe, de tanto eu a viver.

A alma vive mais do que todas as vidas juntas

A alma vive mais do que todas as vidas juntas, não por poder morrer, mas por acreditar no amor, mesmo sem pensar no amor. O amor se lembra tanto de mim, que desconfio do amor, de mim, mas não do que ele significa para mim: vida! A vida é a única perda que se refaz de amor. É a única e verdadeira perda de amor. O tudo seria o fim do fim; como existe apenas o fim, o tudo não existe, mas sua inexistência não é solitária. A alma vive tanto, que não ama. Queria morrer em demasia, onde o amor não me alcance. A morte ama o amor por onde ele não percebe. Caixões vazios de morte e de esquecimento. A alma pode ser algo, mesmo sem ser amor, ela pode ser a segurança de eu estar amando desprotegida. A poesia é o sentir da alma. A poesia me tem no amor que sentimos juntas. A poesia necessita de mim, e eu dela, por isso há amor. A ausência das coisas é o meu ser, onde se perdem os limites da vida. Seu limite era sua ausência sem mim. As coisas me tornam eu, sem ser referência de nada. Que a ausência seja referência de vida. Vida e ausência se misturam: nasce o amor. Meu ser parado queria ser algum movimento para a vida. Os movimentos da vida não deixam eu me mexer sem movimentos, meu corpo age, ama. Pedaços afastados de mim deixam de ser pedaços meus para serem minha alma. Nunca tive alma antes, nem pela ausência que ela me dá. São tantas ausências para que exista vida, que o mundo adormeceu. O acordar do mundo é a própria ausência da vida.