Blog da Liz de Sá Cavalcante

O eterno retorno do mesmo

É um começo, é o mesmo fim, o eterno retorno do mesmo, que é o mesmo retornar, mas não é a mesma vida. Ter um pouco de vida, para me esquecer. O eterno retorno do mesmo é minha morte, são fragmentos da minha força, que é maior ao morrer. Retornar não pode ser melhor do que viver. Vivo sem retornar a mim, num fôlego de vida, que não é o meu. Continuar é nunca retornar!

Percebendo o meu amor

Viver não é sentir, viver não é perceber que amo, é o amor. Me perceber, como lembrança da vida, onde eu o percebo. O olhar sem a vida é o infinito no meu amor! Meu olhar, meu ser, meu amor, minha alma, tem mais vida que a vida. Nada no infinito vejo como vejo a mim: me vejo nessa plenitude de ser! Falta na plenitude realidade para abandonar a morte. O ser vai além do que pensa, é, ama, por isso pode morrer eternizado no amor. O tempo enfraquecido pelas lembranças não é mais o tempo, passou a existir como dúvida, como ser! O ser sonha com o tempo inexistente! O ser é apenas o tempo deixado por alguém em alguém, que fez de si o tempo que se foi, a liberdade de Deus! A liberdade de Deus é a nossa liberdade! Não espero da liberdade ser livre, espero ser livre para amar a Deus! O querer está acima da vontade de existir! Tudo existe pelo desejo de existir, por isso o desejo de existir não é o ser! O ser é que faz com que o desejo de existir continue vivo! O ser não precisa do desejo de existir, para existir o ser não é desejado pelo desejo! A vida da eternidade é o seu fim! Por isso, quando eu morrer, pensarei no fim da eternidade, me sentirei morrendo junto dela, como se Deus pudesse viver de novo, pelo meu amor! Deus é um pouco de tudo, um pouco de mundo, um pouco de céu, um pouco de dúvida, de certeza, de dor, de alegria, de amor, de ausências! Mas me sentir em Deus é o mais puro, verdadeiro, intenso amor que posso amar mais do que a eternidade, mais do que o amor. Deus me escolheu para amá-lo, e eu o escolhi como sendo o significado da vida, do amor que sempre há no olhar eterno de Deus!

Transcendência do nada

Minha inteligência não é a vida, vai além da vida, é a morte! Nada me faz morrer, a morte não está em mim, é só um pensamento. Um abraço clareia o sol para toda a vida, onde deixo a imensidão do infinito na luz do sol. O fim é mais infinito que o sol! Pensar é o fim do fim. Tenho que me defender de mim, do meu amor? A alma, para amar, tem que abandonar seu amor, sua verdade, sua essência. Tudo que sei do amor é o que esqueci para amar. O amor, quando desaparece, é para não haver nem sombra da minha ausência. O amor é a desigualdade entre as pessoas. Ama-se por não querer amar. Deixo-me incorporar o amor, sinto apenas o vazio. Se importar em amar seria me abandonar num amor sem fim. Amar é descobrir as coisas apenas pelo amor. Quero mais que amar, quero que minha alma seja eu, e toda descoberta, mesmo que eu não descubra, está em mim. A transcendência do nada é deixar o sol se ver no céu. A vida não tem imagem, o mundo não é mundo, é vazio. Meu olhar é o mundo cada vez mais distante. A consciência me faz não ser, para que o amor esteja livre para amar, viver, vendo na minha fragilidade sua força. Mas a força do amor é o impedir de viver a vida. A vida quer sentir o amor humano, frágil, para ser sempre amor! O amor não sabe que é amor, pensa ser um ser perdido, no meio do nada, onde a vida prevalece, e é feliz, mas toda essa alegria de viver me isenta de mim. Vejo que não sou útil à vida. Ela tornou o nada vida, mas ainda sinto como se a vida fosse nada, fosse o vazio, por isso tenho que esquecê-la como nada, como vazio. Não há transcendência do nada, nem posso morrer no nada. O vazio não deixa tudo, é uma inexatidão, cheia do céu, onde derramo minha morte sobre o meu corpo. Nada esquece por morrer, mas não me lembro das lembranças, me lembro mim!

O que é o nada?

O nada, para mim, é a minha alegria, que pode ser nada, por isso é feliz, me faz feliz. Há mais alma na falta de alma, do que na alma. A reconciliação do nada com a alma é o vazio. No ser, a alma inexiste, como ilusão, onde a vida existe. Nada me falta no nada, o tudo é o verdadeiro nada, o nada é o tudo. Reconheço o nada pelo meu respirar. O nada é o ar que respiro. Não há aprisionamento que me liberte de ser, de viver. O que é o nada sem o ser que o satisfaz? Tudo se compreende no nada, único valor do ser. O nada tem alma, plena de vida. O ser jamais terá essa alma, de tudo não precisar. Não necessitar cessa o amor? Ou amar é nada necessitar, nada ser, por dentro de mim, para me igualar ao nada do mundo? Que mundo seria esse, se o nada não tomasse conta dele, tornando o mundo melhor do que o nada? O nada, oportunidade eterna de viver, como se estivesse sempre disponível dentro de mim, que até duvido de viver, que essa oportunidade de viver é o nada, que me faz feliz. Não há o nada na eternidade, por isso ela é só triste. O nada não é a razão de sua dor. O nada não tem o poder de tornar algo ou alguém triste. A separação do nada com o ser é o fim do amor, que nem começou a existir. Somente no nada existia amor, o nada deixou de existir, como se vivesse algo além da eternidade, além da vida, do amor: o nada, que não cessa, pra sempre nada, nas maiores dificuldades, não deixou de ser nada, nem perdeu sua essência. O nada não sabe que é nada, emprestou sua beleza, seu amor, ao sol, à vida, onde não há retorno do nada, mas a paz do nada está em mim, e é tudo que ficou do nada: a paz, para reconhecer a falta de vida na presença da ausência. O sol vai existir para o nada, que não existe na vida, na morte: é apenas a minha paz, sem alma. Um dia, saberei te encontrar, seremos dois nadas perdidos na vida, para encontrar o mundo como ele é: mas encontrei o sol, dentro de mim. Assim, me desfiz do mundo em mim. Para mim, basta haver sol.

Pelo nada aprendi a não sofrer

O nada é um descanso para a alma, é exaustão para o ser. Ser feliz cansa. O nada, se deixar de ser nada, tem que se afastar da vida. A ausência do nada não me faz viver. Não sei se o tempo e a vida podem salvar o amor. O nada salva o nada do ser. O amanhecer é o nada personificado de amor, que entra na alma da noite dos meus pensamentos. Se o pensar é o nada, o que sou para o nada, que o estimula a pensar? Talvez, o nada me ame. Amar é ser para o nada uma esperança de nada, mas ainda é esperança. A esperança tem que ser algo, mas de esperança não posso viver. A esperança é um nada, tão imenso, que me enche de esperança. Pelo nada, aprendi a não sofrer, a acreditar na vida. Se acredito na morte, tenho que acreditar na vida. Não se cresce na dor, é ilusão. Por fora, o nada é superficial; por dentro, ele faz da profundidade o caos. A profundidade do nada não é o nada. O encanto da profundidade é o desencanto. O encanto do nada torna o não ser feliz. Tudo que é distância está perto do nada: a igualdade entre o nada e mim é por onde o nada se distancia. Cessa a vida, para o nada existir. A minha distância da vida era apenas o nada. O que não tem solução no nada é sem solução pra mim, e assim se encontra saída, que é melhor do que uma solução. Longe de soluções, vi o amor, que, mesmo sem solução, resolveu a minha vida. O nada me trouxe a alegria de ser nada, como se meu coração tivesse certeza do seu amor.

Deixa-me seu eu

Fica permanência largada, na vida. A permanência está em esquecer a permanência, na permanência de Deus. Nada é permanência do nada, a permanência inexiste, por isso preciso existir na impermanência da vida. Onde vou tirar vida de dentro de mim, pra provar que sou um ser da vida? O mundo tem lembranças inexplicáveis, distante da vida. Tudo tem alma, perto da vida. Nada pode ser o nada sem o nada. Nada acontece por viver. O nada está mais distante do que a vida. Somente há proximidade com o nada, a alma vive o nada distante de mim. Tudo que eu quero é ser o nada, para o nada. O nada é mais real do que a vida.

Silêncio

Pra que serve o silêncio? O que fiz do silêncio? O silêncio é bom? Será que quando fico em silêncio sou mais profunda? Há mais amor no olhar do nada do que no ser. O olhar do nada consegue silenciar o indizível que já não fala, precisa, mesmo assim, silenciar o que não disse. O silêncio me escuta, não consigo me ouvir. Há amor no silêncio, não no ser. Consigo escutar o silêncio, como se fosse o meu amor partindo de mim. Mas não há despedida onde não há amor. A alma não suporta haver outra verdade que não seja a sua. A verdade que dura é a do silêncio. Não há permanência no silêncio, mas há permanência na alma do silêncio, onde a verdade é também amor. A manifestação da vida é a falta do ser, onde o silêncio é o único ser.

A alma do amor é a solidão

A ausência ama incondicionalmente, de um jeito que o ser não consegue. De ausência em ausência, se constrói o ser. Mas o ser é a ausência de outro alguém, nele mesmo. A ausência sonha comigo, por me possuir, ela quer ter meus sonhos, que são ausência da ausência. Na ausência da ausência, não há ausência. Mas a ausência da ausência é ausência sem ausência. Repetir a ausência é conquistar o nada, sem usar a força. O nada se torna ausência. O ser é mais esquecido quando é amado. A solidão está no auge do amor, da vida, do céu. Amar sem solidão é amor? O silêncio nunca é concreto, a falta do silêncio é morrer, numa emoção única, silenciosa, onde não posso me ter, como a emoção se tem. Mas há na emoção algo de insensível? Há mais insensibilidade no amor do que no desamor. Nada representa a emoção de viver. A vida tem uma força tão grande, que não precisa da emoção para existir. Apenas a vida nasceu já existindo. A morte espera a vida para morrer, onde o seu adeus prolonga o nada do seu fim. Morrer não é certeza de existir. A morte morre por sua certeza de morrer. Há tanto a continuar na morte. O adeus não me deixa deixar o passado. Eu me separo da vida, mas não do que me fez viver. O sol, permanência do nada, a amanhecer para mim. É como se a permanência fosse a eternidade, a se banhar dentro dos meus olhos, que não veem diferença entre a luz e ver. Vejo, porque a luz me ilumina de amor. Penso ser o amor à luz. A luz não se faz nascer o amor, mas é por onde me reconheço. Reconhecer que o amor se destrói sem mim.

Não espero pela alma, espero por mim

Não espero nada da alma, mas espero a alma no nada de mim. Não demora a alma para partir, mas que seja uma despedida minha no teu adeus, onde o olhar se aproxima como se fosse teu adeus. O adeus não soube partir, ficou impregnado na alma. Comecei a ser o que não há em mim. Por isso, existo longe dessa proximidade do meu ser.

A vida supera a vida

A alma me espera, não posso demorar. A demora de ter alma me faz ter alma, onde a vida supera a vida. O saber foi perdido, antes de existir o que penso saber é apenas sombra da minha ausência. O tempo não determina o que fica e o que morre. Ficar, morrer, por uma inexistência que é indiferente a mim, quero explicar a vida, jamais vivê-la. A alma esfria, num corpo gelado. Tenho medo de o meu pensamento sair de mim, me corroendo, indo e se entregando para uma vida que não existe. Por isso, com o tempo, o pensar fará parte do não existir. O nada precisa amanhecer, como sombra da ausência, para eu viver. Brincando de escrever, descubro o infinito sem o infinito, assim nasce a vida, que é a única coisa boa do infinito. Não quero ser infinita como o amor, mas não quero morrer!