Blog da Liz de Sá Cavalcante

A grandeza do amor

Sou a alma da alma, sou o que falta no sorrir. A eternidade da alma: é o ser. Ser que é eterno sem alma. Triste perder a alma, ao olhar o nada da alma, é ver por dentro da alma. O nada sem o nada não existe. A sombra do sentir cessa o vazio, como se fosse um amor, onde permanece o céu. O céu existe apenas só, desfazendo-se em nuvens. Se as nuvens pudessem ser o céu, eu teria a calma de Deus. Posso ouvir o som do céu, evaporar, como se fosse meu amor real. É real, toco-o em meu pensar. Pensar não é real, tocar não é real, por isso me acostumo com a solidão: ela não tem corpo, alma. Perdi-me de mim para eu ser apenas o céu ao encontro do mar. Minha solidão não seria nenhum momento vivido, é o meu amor por Deus. Como justificar a ausência de Deus? Pela presença do amor de Deus, é claro! Quero me ver sem me ver. Se eu fosse o último sol, minha despedida seria como o vento. O céu foi se afastando do meu olhar, como um sopro de vida na escuridão do céu: limite entre o ser e o nada. A semelhança entre o nada é a morte que faz o nada se parecer com o nada, não com o ser. Quero amar por ser apenas destroços do amor. Fragmentos de aparência me fazem ficar sem aparência. Se eu amar, deixarei de ser quem sou? Mas quem seria eu se eu amar, como poderia saber de mim amando? É fácil lidar com a indiferença, com a morte, o difícil é enfrentar a vida, o amor. Fomos mesmo feitos para amar? O amor ainda seria amor se eu o amasse? O amor perde o encanto de amar: banal como uma pedra jogada no rio. Uma pedra é menos silenciosa que o teu silêncio. O silêncio é o corpo da alma por onde a alma se vê. Nada na alma é alma: é apenas o absoluto!

Impaciência

O verdadeiro não é amor, é qualquer coisa que tenha sentido que acalme meu amor. Se for amor, melhor ainda. A falta de amor é a verdade do existir. Algo existe no amor que me fortaleça, me faça não morrer? O que significa o sofrer nesta força eterna, que não me faz existir? Nem mesmo o amor me faz existir. Mas ainda há beleza na falta de amor, não me deixa ser ausente da vida, me faz vencer mesmo no pior sofrimento, pois eu ainda sou eu.

Chora comigo

Chora comigo no vazio, na escuridão, no nada, para que chore em mim: não afunde em mim, sem lágrimas, sem sofrer. Confie que temos vida, se pudermos chorar juntas, a vida vai ser melhor, como se houvesse perdão para o amor. Posso chamar de amor a vida que me negou, e que hoje conheço e vivo sem ti? Não tem ninguém na minha alma, nem eu mesma: por isso, perdi apenas a vida que ainda existe em mim. Chorar comigo não trará os anos que perdi de volta, mas tudo será mais humano, fiel. Que eu sofra, mas que seja por amor. É difícil fazer o luto da vida. Sou amada por tudo que necessito, mas como sofro por ti? Sofrendo, acho que alguma coisa ainda vive em nós, por nós. O amor que sinto não se sente como eu. A tristeza quer ser esquecida para ficar bem, sobreviver, assim mesmo, a tristeza não quer morrer. Enquanto tudo for rejeição ou uma aprovação, não há vida em parte alguma. O tempo de morrer não existe, existe a certeza de morrer. Nada restou da morte: nem mesmo as cinzas das cinzas do esquecimento eterno, que ilumina a eternidade de ser, não ilumina o ser. Ser é o vazio do nada. O retorno ao nada não pode viver por mim. Mas algum dia o nada não ficou só na minha vida? Ficar só no nada é recuperar meu ser pelo nada. Apenas o nada compreende a vida poeticamente. Nem eu, que escrevo, consigo compreender a vida. Chorar, única compreensão da vida, onde as perdas são o fim da compreensão, fim das perdas, fim do chorar. Se não posso nem chorar, melhor morrer!

Aterrador (ameaçador)

Vou encontrar o nada nos arredores da alma que me cercam sem o nada. Pelo nada viveria. Ter o desejo que não desejei é morrer. Morrer sempre é um desejo que vai além da renúncia, além de nós, além de você, além do esquecer, que deseja mais do que eu. O silêncio não preserva a renúncia. A renúncia é mais do que a luz do sol, é a vida nascendo em mim. É tão aterrador, ameaçador querer viver. Não penso nos perigos de amar a vida, apenas sinto seu amor.

O tempo é apenas morte?

A luz, ar que respiro, há muito tempo lhe neguei minha alma, foi como um sim em mim. Acender a alma, como a luz do tempo a partir, sem tempo algum. Apreender, captar a alma na morte apenas, sem vestígios do nada, no amanhecer, eternizado como o som do nada, a dissipar o desfazer do nada, na falta de amor sem fim.

Areia de nós (para pai)

Areia de nós que encanta o mar dos sonhos até perder meus dedos em mim, como areia da areia que sou. Apenas sendo areia tenho direito ao mar. O mar se cobre de areia, solidão. Manusear a solidão como areia não vai trazer o amor de volta. Areia de nós, puro sal do tempo. Amaste as estrelas, para as tirar das suas mãos e para elas não serem concretas, serem apenas amor. O amor protege as estrelas de ficar sem céu. Estrelas onde posso me tornar areia, para tuas mãos cansadas.

O desejo de ser

A tristeza, a dor, é alívio para minha alma. Não consigo sofrer pela minha morte, não aceito morrer. Nem pela alma, nem por mim aceito morrer. Não posso justificar minha ausência pelo desejo de ser. Mesmo que o desejo seja ausente, é inconcebível desejar como desejo a ausência. A ausência é concebível sem a desejar. A ausência é até um olhar, uma atenção, desde que se manifeste ausente em sua atenção. A atenção é ausente de mim, é minha presença absoluta sem mim. Minha presença não é ausente, é o abandono da minha alma. O abandono da minha alma é o meu lado imperdível, como se fosse o sol pousando em minhas poesias. Poesia é o existir do sol, caminhando em nuvens de sonhos. O desejo de ser é a alma.

Mundo abstrato

O mundo é o começo do nada, a vida é o fim do nada. Como abstrair o nada do nada? Respirar escorre lágrimas, no pulmão do mundo respirar, não acalenta a alma, nem percebo que tenho alma quando respiro. Algo leve se foi em respirar, para a alma ficar: o permanecer. Se foi como uma lágrima. O amor, nem em pensamento existe. A existência é um pensamento que se perdeu no nada. Tudo por um pensamento que me devolva a vida que não tive. O respirar é o inencontrável do meu ser. O mundo é o ar perfeito de Deus a fazer respirar, onde a dificuldade de viver acaba, cessa por dentro de mim. Ter o cessar em mim é pertencer ao infinito do cessar, não é o mesmo infinito de morrer. A vontade reconcilia o nada com o mundo. O momento de ser corpo é alma. Ninguém é o próprio corpo, o próprio nada. Falar com a alma é compreender a vida pela alma. A alma é um momento. A alma é o tempo e o espaço onde me encontro. Me encontrar é o fim do tempo, fim da alma. O fim inacabado, como um resto de céu, cresce o meu amor. Mesma alma, onde me perdi, me encontrou. Quando perdi a alma, o sol sorrindo para mim, parece até que não perdi a alma. Sei que possuo o sorrir do sol como sendo a falta de mim, que faz o sol amanhecer, para o fim do sonho do olhar. A falta do sentir é a permanência da alma que infesta o amor. Ser do amor não é o ser do ser. A violência contra o amor é amor. Para o amor é fácil amar, para a humanidade é difícil amar, pois a humanidade sente apenas ódio. Odiar é morrer. A alma não nos impede de existir, tira o ódio de nós. Matar é morrer da morte que causou. Da morte nasce a esperança de vida, nasce o amor.

O que é a vida neste esquecer?

Dá para esquecer a vida apenas pelo sol a me iluminar? O desaparecer sem ausências é a beleza do amor. O amor não percebe a sua ausência. Nada é esquecido na ausência. A ausência do corpo é esquecida pela morte. Eu vejo meu pensamento pela minha alma, onde apenas o mundo é invisível, inacessível, sem distância. O amor, separado do mundo, são nossas ausências, que se fazem um mundo de ser, onde o ser é o mundo, o mundo é o ser. Ter um mundo sem ausências, sem o desencantar da flor, é respirar o mundo antes de respirar em mim. Tudo se torna incomunicável para mim e para o mundo todo. Significado está no desencanto da flor, onde existe amor, esperança.

A liberdade do nada me faz viver pelo nada

A morte vai além do real. Morrer não é real, se a liberdade do nada me faz viver no nada. Sofrer cessa a alma. O eterno julga a vida. Nada tornei um sonho, o sonho se tornou eu. Há uma infinidade de coisas que não são em si mesmas, por isso, são amor. A solidão é uma maneira de não perder o amor, deixando-o refém do nada. A vida não se perde em vidas. Não há uma ilusão que seja sem vida, por isso, acredito que posso fazer o momento durar. Meu amor são momentos que permanecem. As palavras nunca serão amor, mas o ser em cada palavra se torna amor. O amor deslizando na alma, em harmonia com a vida, com o céu. A negatividade do amor é a vida que torna tudo positivo. Além do céu, há o amor. O amanhecer não salva a alma das coisas ruins. Alma é apenas amanhecer. Significar a vida é amor, ressignificar a vida é perder o amor. O significar não permanece no amor. O bem não é um significado, é uma virtude: a dor significa o nada que existe em mim. A liberdade da vida é o ser. Se meu ser não pode ser, é ao menos a liberdade de ser. A liberdade não é livre, é irracional. A inexistência do ser é amor. Posso falar pelo amor que sinto. Se o amor é morte, quem sou eu?!