Blog da Liz de Sá Cavalcante

Seja eu em mim

Seja eu em mim, mas não seja por mim o que não sou. Não é essencial à vida que eu seja feliz, mas é essencial à vida que minhas atitudes sejam de amor. Sentir amor é me sentir viva, enaltecer o nada, na ausência de vida. Ser em mim é a minha eternidade. Não há oração para a vida, como há para o amor. A alma sente a perda da morte, como se pudesse voltar ao meu amor. Amar é a distância de mim. Quando eu me aproximar de mim, deixarei de amar? A alma não me faz me amar, mas também não cessa o amor em mim. Não posso transformar a alma em dor, então me conformo de ser amor. Escondo minha imagem dentro da imagem da morte. Agora, nem morrendo me vejo. Não consigo continuar sem me ver, sem olhar para minha dor, sem nada saber. Não sei o que procuro sem saber, sem a imagem de mim. Para amar, é preciso uma imagem?! Desaguando em imagens de sonho, vejo meus olhos boiarem sem a minha imagem. A imagem é linda e triste, mas não é como eu, que me dilacero de tristeza, como se eu tivesse uma imagem para morrer. A imagem é como o sono de morrer. A morte desperta na imagem do nada. Dá vida à vida. Esqueço que, talvez, algum dia, tive uma imagem. Quero apenas desaparecer no vento, sem compromisso de morrer. Quero que o vento seja mais leve do que a imagem de mim. Não tenho imagem, nem mesmo dura, de pedra. Construí pedras no lugar da minha imagem, fiz um muro, para proteger o amor do resto do mundo. Assim, a imagem se refez, sem precisar de mim, sem mim. Eu não acredito que deixei minhas esperanças de viver, numa imagem que nunca foi minha. Mas sou eu essa imagem que me fez morrer. Morri sem olhar para a morte, foi quando finalmente me vi, como pessoa, como eu, apenas para morrer. Ao menos, na morte, tive uma imagem, que a vida nunca me deu. Vivi em vão, infeliz, sem imagem, mas morri feliz, como se sempre tivesse tido uma imagem para morrer.

Nascer de um sonho

Como saber o que sente a alma? Por isso, é essencial nascer de um sonho, como se o sonho despertasse comigo, na morte do sonho. Fiquei no sonho, sem sonhar. A única realidade do sonho é o meu ser. O ser, quando está sem sonhos, ama. Medem-se os sonhos pelo amor. Quando o amor se mistura com os sonhos, não sou eu, sou o amor! O amor diviniza os sonhos, os deixa descobrir a vida sem a vida! Há sonhos que dependem do amanhecer para existirem! O sonho nunca está completo, continua em outro sonho! O sonho dura na escuridão do dia, que é o dia em pura luz! O nascer de um sonho supera os sonhos, não sabe o que há na luz, por isso possui a escuridão. A escuridão é um sonho eterno, onde sou feliz, pois ninguém me vê, então essa alegria é só minha. Ela me quis, eu permiti que ela invadisse meus sonhos, num suspiro, sem o silêncio da dor. A dor é o sonho idealizado, nunca se concretiza, por isso faz mais parte de mim do que os meus sonhos. Enfim, suspirei em mim o respirar da vida, que é maior do que o céu, do que a minha vontade de ser feliz!

Pensar infinito é estagnar no que não sou

Meu corpo se decompõe, para se proteger da alma. O corpo não se habituaria a ser alma. Ninguém pode me encontrar como fuga, nem como encontro. Encontraste meu vazio sem mim, na distância do mar, onde o vazio se expande. O inencontrável no vazio é o amor, que nunca é vazio, é só. O amor protege a solidão, num vazio sem fim. As feridas da alma se assemelham à realidade, sem nenhuma dor. Alegria, vieste como sonho, onde a vida te vê, te sente, pelos sonhos que não tive. Sem sonhar, nem a vida é possível. Mas eu quis a vida, no possível de mim. Escrever tira-me toda possibilidade de existir. Escrever não é existir. A mágoa me faz escrever o que não imaginava sentir. A distância de mim é a vida do meu pensamento. Livre, apenas o amor é livre, como se conhecesse meu pensar. Sem a vida, tudo permanece no infinito de mim mesma. A ilusão é uma maneira de perder a esperança na fé. O céu vive na ilusão do infinito, tudo tem fim, até o amor, que continua o mesmo no fim. O fim é o infinito maior. O céu não é finito, nem infinito, é uma paz, longe do tempo, que permanece sem o fim, sem o infinito.

São apenas sombras

Alegria, eu durmo sua ausência, desperto na sua morte. Sentir como esquecimento, são apenas sombras. Esquecer é a pior dor, que dispersa a sombra no nada. A sombra é a falta da imagem, para poder ser aparência. Percebo nas estrelas, não o seu brilho, mas sua ausência de nada. Sua vontade de não ter brilho, de apenas estar no céu, onde a sombra do espaço vazio é a luz que a estrela busca.

A brevidade da vida

O ser é apenas aparência de ser. A brevidade da vida é o ser. O ser no ser é morrer. A ausência de vida cessa a morte. Fechar os olhos pra quê? Meu olhar é a distância do mundo. O que restou da distância do mundo foi o meu ser. O mundo existe apenas na distância do meu ser, que é a mesma distância do mundo, mas não é a distância de Deus. A distância de Deus é o amor de Deus. Do mundo, restou o coração de Deus, sem Deus. Deus é a vida, que une o coração de Deus a Deus. Mas o amor de Deus se tornou o meu amor. As coisas me reconhecem, no infinito do amor. Instruir a vida com o nada não é saber da vida. A eternidade é um minuto, é o ser, que não se perde em viver. Viver é perder esse único minuto de eternidade.

Trazendo a luz da vida pelo nada

Luz, forte luz do nada, a desaparecer no desaparecer da vida, sem o nada. O nada é melhor do que viver, no nada há luz. A essência não é livre, como a luz que a ilumina, que pode se transformar em nada. A essência é apenas ela mesma. Na falta de essência, existe a luz. A morte não precisa morrer, precisa de um adeus que seja sua luz, nos momentos de escuridão. Tudo sobrevive como sendo o nada do nada. Pelo nada, vejo a vida sem solidão. A solidão é a falta do nada. O corpo é real, não tem realidade nenhuma, por isso é real. Real pelas carícias da alma. Por ser real e irreal, ficou-se apenas a luz, abafada pelo amor da claridade, que não é luz, é o nada banhado de luz. Uma luz, que esclarece o nada no ser, é tanta luz, e nenhum mistério, nenhum saber. Tudo que sei é essa luz perdida, na sombra de existir. Luz, foste a luz de um instante. Nada é luz, nada é escuridão. Tudo é apenas esse para sempre, onde jamais exigi luz, quis somente que essa vida fosse eterna, não de instantes, mas eterna de mim, por mim. Trazendo a luz da vida, para o nada do meu amor. A luz da vida se faz sem sol, sem a vida. A luz da vida é o dia a dia, que é mais essencial do que viver. Muitos vivem como se os dias fossem iguais e pudessem se tornar o nada da vida. O interior da vida não aceita o nada, que é a vida no seu interior. Tudo de interior é exterior à morte, à dor. Apenas o exterior está dentro da morte, por sair de mim.

Superfície

Fundo, tão fundo, mergulho nas lágrimas, para descobrir sua superfície. Há como a superfície ter profundidade? A poesia é sem superfície, ela encanta sua profundidade. A essência da poesia é o nada da profundidade, que sustenta a vida, o ser, em amor infinito. Continuar no infinito, o que não posso viver no finito, nem o finito é o fim da poesia, quando a poesia morre. A morte da poesia é mais importante que a poesia, é o que existe na poesia: sua existência na minha, onde existir faz parte da poesia. Fico feliz do existir, existir, existir somente na poesia. Assim, o existir é perfeito, sagrado, como uma oração. A vida é apenas a superfície da poesia. A poesia quer mais do que viver, do que sentir. A poesia é a esperança da minha vida, de que a vida pode ser sonhada, de que posso transformar o sonho de viver em realidade de viver. A superfície é o sonho da profundidade, de ser tão só como a superfície. Apenas a realidade tem fôlego de vida, para compartilhar alegrias, nunca elas serão sozinhas, como a sua profundidade é só. O que existe na profundidade é a procura de um vazio, que existe apenas na superfície. Quando a superfície e o vazio se unem, é quando há amor. Amor que não é profundo, não é superficial, é apenas eu em mim, onde o amor supera toda superfície, toda profundidade, num amor tão especial quanto viver: o amor por mim, onde tudo me invade pelo amor.

Otimismo

Vivo em sonhos, não sonho o sonhar, vivo, sonho com o sonho, que desaparece no sonho de amor. O amor é um sonho, quando deixo de sonhar, sonho, amo, mais ainda. Nada é mais seguro do que eu sonhar, não tropeço em meus sonhos. Eu estou sonhando em meus sonhos, dispensando o céu de ser triste, de ser a morte de alguém. O céu é a vida de alguém. Nada se morre no céu, somente o amor nasce no céu. O céu é a ausência de alma, onde o ser pode ser ele mesmo. O sonho desperta a realidade de seu sonho. Não há sonhos sem o real. A realidade torna o sonho um sonho. No sonhar ou na realidade, não perco o otimismo. Não esqueço o sonho numa realidade qualquer. Otimismo é um sonho, sonhado internamente, nesse adeus a mim, onde o amor é o retorno de mim.

A consciência do esquecer

A consciência do esquecer é a consciência absoluta de você, alegria. Só, sinto alegria esquecendo! Uma vida sem poesia é morte! A dor se dilui em poesias fáceis de se amar tudo, somente lembro como poesia. A poesia é a voz interior do ser. Vou esquecendo que esqueci para que minha única lembrança seja a poesia. Poesia, onde estavas quando te amei? Agora, eu amo apenas esse sonhar da poesia, e é suficiente para que eu escreva por um sonho, não por amor! Mas o sonho também é uma forma de amar, eu vivi demais por amor, mais do que o amor é capaz de amar, de viver! Somente vivo a vida da poesia! Amo a poesia mais do que a mim! Deixo também o vazio ser poesia! Pelo vazio, nenhum amor, nenhuma vida está perdida, mesmo assim foi encontrada na poesia. A alma é a conformidade de a poesia de ser tão só, que em tudo a poesia se reconhece. Esse reconhecimento é a vida do meu ser, no interior do interior. Quem tem a vida dentro de si reconhece ser feliz, pois, mesmo que a vida seja apenas um segundo, vale a pena viver! Vou escrever mais do que existir, e, assim, a vida sempre acontecerá para mim!

O que é a vida na vida?

Convivo melhor com o nada do que com o amor. Mas o nada não me distancia da realidade da vida. O amor fica, permanece no nada do amor. Há tantas vidas perdidas na permanência, longe do nada, de nós. Sinto nada por mim, por isso me amo, como se meu amor me pertencesse ao nada, ao invés de viver. A alma do sentimento inexistente é morrer. O sentir, mesmo inexistente, tem alma, que dura mais do que a vida. A vida não era para ser eterna, sendo eterna, não tem essência. A essência é o fim, esperança eterna sem permanência. A esperança é a impermanência da vida no ser. A alma sufoca a esperança na essência de ser. A vida tem uma esperança que não desce pela alma, desliza só, sem alma. Quando o amor resseca a natureza da vida, não há mais amor. O que é a vida na vida, senão a perda do instante do amor? A permanência é a demonstração do nada, sem a vida demonstrar o nada, é a mesma coisa que ser o nada. A permanência é um nada mais forte, decidido a enfrentar a vida. Por que a permanência não pode ser amor? Não pode ser amor, pois a permanência é onde o amor permanece. A permanência é permanência, até onde eu possa sentir a permanência. Permanência, um dia, foi amor, agora é solidão. Dou permanência à vida, onde agora tudo é amor.